Durante o confinamento, Sharon Stone aproveitou o tempo livre para escrever um livro de memórias, posto à venda nos EUA no passado dia 30. O título, The Beauty of Living Twice (‘A beleza de viver duas vezes’), é uma alusão ao facto de ter tido um aneurisma aos 43 anos que não a matou por milagre, pois a expectativa de sobrevivência era de 1%, mas o livro não é apenas sobre a doença, que diz ter-lhe tirado o seu lado radioso. Nisso não podia estar mais errada: aos 63 anos, continua tão bonita e sensual como sempre o foi.
Nas mais de 250 páginas, Sharon revela-se exatamente como se mostrou numa entrevista que deu à CARAS há mais de 20 anos: uma mulher de pés assentes na terra, sem sombra de deslumbramento com a fama ou com o seu elevado QI, que lhe permitiu entrar na universidade aos 15 anos. “Quando não estou demasiado ocupada a ser a Sharon Stone, sou tímida, quase agorafóbica, muito introvertida e solitária”, diz.
Nesta biografia, põe o dedo em muitas feridas, nomeadamente acusando o sistema de Hollywood, dominado por homens, de abusar das mulheres. Uma palavra que conhece bem, pois, revela também no livro, ela e a irmã, Kelly, três anos mais nova, foram sistematicamente abusadas pelo avô materno até à morte dele, tinha Sharon 14 anos.
De uma outra forma, em 2001 sentiu-se de novo abusada quando, depois de ter tirado tumores da mama, o cirurgião que lhe fez a reconstrução ter decidido pôr-lhe um tamanho acima, por combinar melhor com a largura das suas ancas. “Ele mudou o meu corpo sem a minha autorização”, frisa.
Inevitavelmente, um dos temas abordados é a personagem que fez no thriller Instinto Fatal, e que quase 30 anos depois lhe continua colada à pele, com a cena em que cruza as pernas a ser considerada uma das mais sexy de sempre. Stone sente-se quase ofendida por isso, dada a carreira de 40 anos com uma longa lista de filmes que lhe deram quatro nomeações para os Golden Globes, vencendo o de Melhor Atriz Dramática com Casino, de Scorsese, em 1995, que também lhe valeu uma nomeação para os Óscares. Mas o pior é que também com a cena do cruzar de pernas se sentiu profundamente violada: como já contou várias vezes, convenceram-na a tirar as cuecas para a cena do interrogatório policial porque lhe garantiram que não seria explícita, mas no visionamento da versão final percebeu que era. “Tem havido muitos pontos de vista em relação a esta cena, mas, tendo em conta que a vagina é minha, deixem-me dizer: os outros pontos de vista são uma treta. Quem foi exposta fui eu e as minhas partes íntimas”, refere.
Ainda assim, Stone, que nos últimos anos tem feito sobretudo televisão, mostra-se uma mulher bem resolvida, que aceita a idade (no Instagram partilha vídeos sem maquilhagem e despenteada) e assume que a sua maior fonte de felicidade são os filhos que adotou: Roan, de 20 anos, Laird, de 15, e Quinn, de 14. “Ser mãe solteira tem um significado incrível. Dá uma sensação de intimidade e entendimento que é difícil explicar a quem não tem filhos”, diz.