Com uma carreira de mais de 40 anos na representação, Maria Emília Correia orgulha-se do caminho trilhado até aqui. Apesar da intermitência que a sua profissão implica, a atriz nunca baixou os braços e foi sempre à procura de algo pelo qual lutar. “Penso que fiz coisas muito boas e outras menos boas, como na vida, que tem altos e baixos. Sempre que tive trabalho, porque este trabalho é intermitente, dei o meu melhor e queria chegar mais à frente. Ser atriz é um território de resistência, não se pode soçobrar, porque parar é morrer. Por outro lado, passei a encenar, porque havia coisas e situações que eu gostava de ver em palco. Bati a muitas portas, não se abriram, até que decidi construir a minha própria porta. Felizmente, as coisas que fiz resultaram”, contou Maria Emília no lançamento do filme de animação Dartacão e os Três Moscãoteiros, em que deu voz a duas personagens.
“É sempre um repto, um trabalho ao qual nos dedicamos por completo. A dobragem é um trabalho complicado, precisa de uma grande acutilância, sobretudo visual e auditiva, e também de uma grande tenacidade da parte da pessoa para tentar acertar a imagem com as falas. Mas estou feliz porque, em primeiro lugar, sou uma sobrevivente. Ao fim de todos estes anos, estou aqui e trabalho. Comove-me, porque nestes tempos difíceis a morte paira muito sobre as nossas cabeças. Trabalhar, seja em dobragens, no teatro ou na televisão, faz-me respirar de um modo diferente. Sinceramente, estou muito abalada com esta pandemia e tenho noção de que tudo isto me podia abalar ainda mais, e que ainda não acabou”, admitiu a atriz.
Para ultrapassar os momentos difíceis que a pandemia trouxe, Maria Emília tem-se refugiado nas arrumações: “Evito sair de casa, só mesmo para trabalhar e quando é estritamente necessário. Tenho o meu marido, que ajuda, obviamente, mas tenho sempre receio de que alguma coisa possa acontecer, porque tenho vários problemas de saúde. Desmanchei a casa toda e voltei a arrumar tudo, e foi uma espécie de terapia. Tinha muitos papéis, dossiês da minha vida profissional. Voltei a arrumar a minha vida em casa.”
Fotos: João Lima