No palco, sozinha, enquanto cozinha frango na púcara com temperos à “mãe coragem”, Maria João Luís dá vida a Helene Weigel, atriz nascida em 1900 que foi um dos grandes nomes da sua geração. Partilhou com o marido, o dramaturgo Bertolt Brecht, o sonho de um teatro maior, impactante, uma cumplicidade que resistiu a traições conjugais e ao exílio. É sobre esta realidade íntima que se imiscui no processo criativo de um teatro que subsiste ao tempo sobre o qual se debruça A Última Refeição, monólogo que subiu ao palco da Sala Mário Viegas, no São Luiz Teatro Municipal. “Sempre quis fazer a Weigel para falar da mulher atrás do Brecht. Quis saber quem era esta mulher que foi casada com ele e que representava as suas peças. O António Cabrita escreve um texto absolutamente espantoso, o António Pires encena e eu dou o meu melhor. Estava muito nervosa, mas sinto que o espetáculo está ganho”, partilhou a atriz no final da estreia do espetáculo em Lisboa.
Ao mergulhar nas vidas destes dois seres maiores da dramaturgia mundial, a atriz também ficou impressionada pelo seu ativismo, um exemplo que sobrevive até à contemporaneidade, como salientou: “Marca-me muito esta atitude política, a força destas duas almas que se esforçavam para manter um teatro útil e presente na sociedade. Precisamos muito desta presença, sobretudo com uma direita absurda a subir ao pódio e a ser a terceira força política no nosso país. Como é possível que tenhamos uma sociedade que permite a uma direita absurda ocupar lugares e ter voz? Isso assusta-me.”