Combina uma certa fleuma britânica com a capacidade de mostrar várias camadas de emoções, o que poderá parecer uma contradição, mas no caso de Benedict Cumberbatch, de 45 anos, é apenas a constatação da sua versatilidade: está tão à vontade a fazer de herói da Marvel quando veste a pele de Dr. Estranho como nos palcos a representar Shakespeare. Ator por vocação e, de certa forma, por definição genética, já que é filho dos atores Timothy Carlton e Wanda Ventham (que fazem precisamente de seus pais na série televisiva que lhe deu mais notoriedade, Sherlock), Cumberbatch fez um caminho quase direto até à representação, embora os pais, conhecedores das agruras que podem dificultar a vida artística, tenham feito os possíveis por lhe dar opções.
Nascido em Londres, neto de um oficial da Marinha que foi considerado um herói de guerra e bisneto de um diplomata, estudou em colégios privados – incluindo a famosa Harrow School, onde integrou o principal grupo de teatro e deu nas vistas pelo talento inato – e estava destinado a seguir Direito quando decidiu parar para fazer um ano sabático antes de entrar na universidade. Mudou-se para a Índia e passou cinco meses a ensinar inglês num mosteiro tibetano. Uma fase de reflexão que lhe deu, diria mais tarde, uma quietude que usa no seu trabalho e lhe permitiu ver com clareza o que esperava do seu futuro. Licenciou-se em Representação na Universidade de Manchester, a que se seguiu o mestrado em Representação Clássica pela prestigiada London Academy of Music and Dramatic Art, a cuja direção hoje preside.
Estreou-se profissionalmente nos teatros londrinos a interpretar Shakespeare, fez peças de Ibsen e Ionesco num percurso sempre ascendente, que conquistou prestígio e lhe deu oportunidades de carreira. Na televisão e no cinema tem somado sucessos e prémios, nomeadamente com as séries Sherlock, que lhe deu um Emmy, ou Patrick Melrose, com a qual ganhou um Bafta, e com os filmes 12 Anos Escravo ou O Jogo da Imitação, responsável pela primeira nomeação para os Óscares, em 2015, ano em que a rainha Isabel II o distinguiu com a Ordem do Império Britânico pela carreira e pelo trabalho na área da solidariedade (é um dos embaixadores do The Prince’s Trust, que ajuda jovens desfavorecidos, participa na luta contra o cancro, tem falado em público sobre a crise dos refugiados, apoia a igualdade de género e luta ativamente pela defesa da comunidade LGBT+). 2015 parece ser, aliás, um dos anos mais relevantes na vida do ator britânico: foi também o do seu casamento com a encenadora de teatro e ópera e antiga atriz Sophie Hunter, de 44 anos, de quem tem três filhos, Christopher, de seis anos, Hal, de cinco, e Finn, de três. A cerimónia aconteceu a 14 de fevereiro, Dia dos Namorados, e teve direito a um tradicional anúncio formal na secção de casamentos do respeitado jornal The Times.
O percurso de sucesso pode ser este mês coroado com o primeiro Óscar de Melhor Ator, para o qual está nomeado pelo trabalho no filme O Poder do Cão, onde é um anti-herói que se debate com angústias profundas, uma personagem de grande densidade que permite ao ator mostrar as “camadas” que tem trabalhado todos estes anos.