Com coragem e sinceridade, Matilde Breyner enfrentou as câmaras de televisão para falar sobre aquele que foi o momento mais marcante da sua vida: a interrupção da gravidez aos seis meses de gestação, em julho último. Numa conversa franca com Manuel Luís Goucha, a atriz contou que a gravidez corria normalmente até ao dia em que fez a ecografia morfológica, que detetou uma malformação no bebé. “Tentei desvalorizar, procurar respostas, até que comecei a perceber que era sério. Até fazer a amniocentese, estive sempre na esperança de que aquilo não fosse verdade”, começou por revelar a atriz, continuando: “A partir do momento em que o médico nos deu a confirmação do diagnóstico, eu e o Tiago ficámos dois dias em silêncio, não falámos sobre o assunto, ficámos a digerir aquilo.” Quando conversaram, perceberam que tinham a mesma opinião: “Os médicos deram-nos sempre a hipótese de interromper a gravidez e foi isso, foi um ato de amor.”
Entre a amniocentese e o internamento, Matilde e Tiago tiveram uma semana para se prepararem: “Falámos com uma psicóloga, que também é doula, e que nos explicou o que ia acontecer.” O processo decorreu tal e qual como esperavam e os dois atores cumpriram à risca as sugestões da psicóloga. Matilde diz que ter estado acordada e bem consciente durante o trabalho de parto, com epidural, contrações, sentir a bebé nascer e agarrar nela automaticamente lhe deu a certeza de que “ser mãe é a coisa mais poderosa do mundo. O que vivi naquele dia, naquele parto, voltava a viver mesmo sem a trazer para casa. Foi muito especial, muito poderoso. Nunca me senti tão poderosa na minha vida”. A psicóloga sugeriu-lhes ainda que tirassem fotografias à bebé, o que Tiago fez: “Já as vi, mas não é uma coisa que vá recorrentemente ver, porque ainda tenho a imagem muito presente em mim. Mas conforta-me muito saber que, um dia, quando quiser, vou ao telemóvel e vejo”, explica Matilde, que também aceitou o conselho de levar para o hospital uma manta com a qual embrulhou a filha e que guarda como recordação: “Tenho essa manta em casa, tem o cheiro dela.” Nesta entrevista, a atriz confessou ainda que nos primeiros tempos ela e o marido viveram uma dor partilhada: “Quando nos íamos deitar, ouvíamos o outro a chorar”.
“Ser mãe é a coisa mais poderosa do mundo. Voltava a viver aquele parto mesmo sem a trazer para casa.”
Matilde revelou que a bebé foi cremada e explicou a Manuel Luís Goucha que não recebeu as cinzas: “Um bebé tão pequenino não tem cinzas, então não dão nada. É horrível. Isso também me custou muito, porque eu queria agarrar-me a isso e queria plantar uma árvore com as cinzas dela.”
“Quando nos íamos deitar [depois do aborto], ouvíamos o outro a chorar.”
A atriz diz que se sente hoje uma pessoa completamente diferente: “Dei um salto gigante em maturidade. (…) Sinto-me privilegiada por ter passado por isto, porque acho que isto me tornou melhor. Tenho muito mais empatia com tudo à minha volta.” E que falar sobre o assunto lhe permite “fechar um ciclo” e ser a voz de quem passa pelo mesmo: “Estou aqui por essas mulheres que se sentem sozinhas neste caminho, mostrar-lhes que não tem de ser um caminho solitário.”
Fotos: João Lemos e Ricardo Santos