Michelle Williams gosta de dar vida a personagens complexas, com personalidades de difícil leitura, sendo elogiada pela forma como encontra a energia certa para cada papel sem se deixar cair em exageros ou retirar brilho às personagens. Esse equilíbrio, diz, foi conquistado à custa de muitas horas de trabalho, mas também é fruto da vivência de momentos de enorme sofrimento. E cada um dos seus capítulos de vida, dos mais sofridos aos de maior alegria, contam uma história rica em experiências que a ajudam a entrar nas camadas mais profundas das personagens e, assim, conquistar com mérito o aplauso do público e o reconhecimento da indústria cinematográfica.
A mais recente ovação ao seu talento deve-se a um convite, que considerou inesperado, do realizador Steven Spielberg. “Recebi uma mensagem escrita a dizer que ele queria fazer uma chamada de Zoom comigo. Fiquei em choque, sem conseguir falar. Mostrei o telemóvel ao meu marido para que ele pudesse confirmar que dizia aquilo que eu pensava ter lido. Saltámos, rimos e até chorámos”, recorda a atriz, de 42 anos, que partiu incrédula para a conversa. “Tive que me encher de coragem para lhe perguntar diretamente se me estava a convidar para fazer o papel de mãe dele. Ele disse que sim e eu fiquei absolutamente eufórica”, admite Michelle Williams, que tentou não desapontar o realizador, entregando-se com generosidade à personagem que ajudou a moldar para Os Fabelmans, sem desvirtuar o caráter alegre e criativo da mãe do cineasta, Leah Adler, uma talentosa pianista que tenta equilibrar os seus impulsos artísticos com as facetas de mulher e de mãe. Um papel que lhe valeu nomeações para os Golden Globes, os Critics’ Choice Awards e agora para o Óscar de Melhor Atriz. “Eu tinha 41 anos quando gravei o filme. Não o poderia ter feito quando tinha 39 anos ou 22. Não estaria pronta para o fazer”, garante.
Nos últimos três anos, Michelle reencontrou o amor ao lado do cineasta Thomas Kail, que conheceu nas gravações da série Fosse/Verdon e de quem tem dois filhos, Hart, que nasceu em 2020, e um segundo filho, cujo nome se desconhece, que terá nascido em novembro último. A atriz parece, pois, estar a viver uma das suas melhores fases, mas tem algum receio de o verbalizar, tal é o medo de voltar a ser surpreendida com más notícias. Ser uma celebridade e ver a sua vida constantemente exposta tem o seu preço, e os momentos de angústia e sofrimento que viveu no passado levam-na agora a tentar proteger ao máximo a sua vida privada e a da sua família, nomeadamente da filha mais velha, Matilda, de 17 anos, que nasceu da sua relação com o ator Heath Ledger, que morreu em janeiro de 2008 de overdose acidental de medicamentos. “Foi um dos piores momentos da minha vida, senti-me completamente desorientada”, recorda a atriz, que na altura se viu forçada a deixar Nova Iorque e a procurar refúgio numa casa no campo, onde se sentisse mais segura e protegida com a filha, que tinha apenas dois anos: “Foi muito difícil encontrar um sentido para tudo o que estava a acontecer… Foi-me difícil pensar em trabalho de novo, porque dei por mim completamente isolada do mundo real.” A morte do ator, de quem estava separada há seis meses, mas com quem mantinha uma forte relação de amizade, marcou o início de uma nova fase, dolorosa e inesperada, que acabou por se prolongar durante largos anos.
Michelle Williams sentiu-se tão perdida e vulnerável quanto no início da sua carreira, quando decidiu sair de casa dos pais, em San Diego, na Califórnia, para tentar a sorte no mundo da representação em Los Angeles. “Tinha 15 anos e fiz uma petição ao tribunal para me emancipar dos meus pais. Mudar-me para Los Angeles sozinha foi um risco ainda maior do que eu imaginava. Foi um ato de coragem e de loucura também. L.A. pode ser uma cidade muito solitária e difícil se as coisas não correrem bem. Felizmente, demorou apenas alguns meses até conseguir o papel na série Dawson’s Creek, que provavelmente me salvou. Deu-me liberdade financeira, segurança e a sensação de que conseguiria viver da forma que queria”, recorda a atriz, que, antes de ser escolhida para esse trabalho, chegou a dormir numa cama feita de caixas de ovos e a alimentar-se à base de pizza. A estabilidade financeira permitiu-lhe, a partir de então, investir na sua formação. Não académica, já que entretanto tinha abandonado a escola, mas a beber cultura em livrarias, cinemas independentes e companhias de teatro.
“Dei por mim completamente isolada do mundo real.”
Tímida e reservada, Michelle gosta de passar despercebida quando não está em frente às câmaras. Com 1,61 m de altura, elege sapatilhas em vez de saltos altos, prefere penteados curtos, gosta de fazer listas para tudo e assume a sua veia de Marie Kondo, a conhecida especialista em organização pessoal. “Adoro organizar roupeiros. Os meus e os dos outros. Acalma-me”, justifica a atriz. Já no que toca a projetos profissionais, garante não ter grandes planos delineados. “Não sei o que vou fazer a seguir. Alguma coisa irá surgir, como tem acontecido até agora.”