Morreu Tina Turner, a diva do “rock”.
Tina Turner, considerada, por absoluto mérito próprio, a rainha do rock, morreu esta quarta-feira, dia 25 de maio, aos 83 anos, depois de vários anos de luta contra diversos problemas de saúde. Segundo o seu agente, a cantora morreu tranquilamente, em sua casa, em Küsnacht, localidade perto de Zurique, na Suíça, onde morava desde 1995 com o seu segundo marido, o produtor e empresário musical alemão Erwin Bach.
“O mundo perdeu uma lenda da música e um exemplo”, disse o representante da cantora. Entretanto, nas redes sociais da intérprete de temas incontornáveis como Private Dancer, We Don’t Need Another Hero, Typical Male, The Best ou What’s Love Got to do With This foi partilhado um comunicado oficial: “É com muita tristeza que comunicamos o falecimento de Tina Turner. Com a sua música e a sua paixão sem limites pela vida, encantou milhões de fãs em todo o mundo e inspirou as estrelas de amanhã.”
“Hoje despedimo-nos de uma amiga querida que nos deixa todo o seu melhor trabalho: a sua música. Tina, vamos sentir muito a tua falta”, pode ainda ler-se.
Nascida Anna Mae Bullock a 26 de novembro de 1939, em Nutbush, uma comunidade rural no Texas onde na infância chegou a trabalhar na apanha do algodão, começou cedo a cantar no coro da igreja batista que a família frequentava.
Em 1957, com apenas 18 anos, é convidada pelo baterista Ike Turner, que se encantou pela sua voz, a integrar a sua banda de soul e R&B, os Kings of Rhythm, que por essa altura atuava sobretudo em bares. Juntos, depressa começam a ter sucesso, nomeadamente com os temas Fool in Love, um hit de 1960 que atingiria a 27.ª posição na tabela dos 100 mais vendidos da Billboard, e River Deep, Mountain High, que a prestigiada revista de música Rolling Stone colocou em 33.º lugar na sua lista de 500 grandes canções de todos os tempos.
Quando entra para a banda, a jovem cantora envolve-se com o saxofonista Raymond Hill, do qual engravida. Este deixa-a, e Anna Mae terá que trabalhar como empregada doméstica e auxiliar de enfermagem para sustentar o filho, Craig Hill, que nasceu em agosto de 1958 e se suicidou com um tiro em 2018.
Nos primeiros anos, a relação com Ike foi descrita pela própria como de irmãos, mas em 1960 envolvem-se e é nessa altura que Ike a rebatiza de Tina. Em 1962 casam-se no México, passando a formar o duo Ike&Tina, mas a relação, que durou 16 anos, será sempre abusiva – mais tarde a cantora contaria que Ike, dependente de cocaína, era física, emocional e sexualmente violento com ela, o que a levou a uma tentativa de suicídio com barbitúricos em 1968. Desta relação nasceria, em outubro de 1960, um filho, Ronnie Turner, que morreu em dezembro de 2022, vítima de um cancro fulminante.
Devastada e financeiramente arruinada com o divórcio, é a solo Tina Turner se tornará uma superestrela a nível mundial. O álbum Private Dancer, de 1984, que seria apresentado com o single What’s Love Got to do With This, vendeu, só nos EUA, cinco milhões de cópias, e valeu-lhe cinco discos de platina e quatro Grammys. Tina tinha então 40 anos e tornava-se o artista mais velho a liderar a tabela Bilboard Hot 100, durante três semanas.
Ao todo, a cantora ganharia 12 Grammys, um deles de carreira, em 2018, e venderia 100 milhões de discos no mundo inteiro. Em 1991, foi eleita, juntamente com Ike Turner, para o Rock & Roll Hall of Fame, e de novo em 2021, já sozinha. Foi, também, a primeira artista negra e a primeira mulher a figurar na capa da Rolling Stone e em 2013 tornou-se a pessoa mais velha a posar para a capa da revista Vogue, com o título Simply the Best!.
Em janeiro de 1988, Tina entrou para o Guinness Book of Records com um concerto que deu no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, que teve uma assistência recorde de 180 mil pessoas.
E a cantora, que associava à sua voz rouca e grave um talento nato para dançar, atraía multidões também por ser um verdadeiro animal de palco, onde se tornava uma leoa com uma energia eletrizante e sensual. Que manteve até à sua última digressão, Tina!: 50th Anniversary Tour, com que, em 2008, assinalou os seus 50 anos de carreira. E sempre como a sua inconfundível imagem de marca, mesmo ainda nessa tournée , já com 69 anos: as minissaias ou leggings, para mostrar bem o seu maravilhoso par de pernas, que lhe valeu o epíteto de “Miss Hot Legs”.
Em Portugal, atuou duas vezes, a primeira no antigo e enorme Estádio de Alvalade esgotado, em 1990, a última no Estádio do Restelo, em 1996.
Tina Turner também fez algumas participações cinematográficas, entre elas a ópera rock Tommy, em 1975, e a distopia apocalítica Mad Max – Além da Cúpula do Trovão, ao lado de Mel Gibson, em 1985.
A sua vida acidentada e a sua carreira de sucesso incomparável deram origem a duas autobiografias, Eu, Tina: A História da Minha Vida, em 1986, e Tina Turner: Minha História de Amor, em 2018, e serviram de base para um filme, um musical da Broadway e um documentário da HBO, que a própria considerou ser uma despedida pública.
A nível pessoal, Tina Turner reencontrou o amor junto de Erwin Bach, 17 anos mais novo, que conheceu em 1986, mas com o qual só se envolveria em 1995, casando-se em 2013 e adotando a nacionalidade suíça. Três semanas depois do casamento teve um derrame cerebral e teve de reaprender a andar. E em 2016 foram-lhe diagnosticados cancro do intestino e insuficiência renal. Começou por fazer hemodiálise, mas em 2017 o marido doou-lhe um rim e Tina foi transplantada. Um gesto de amor que lhe permitiu viver mais alguns anos.
Morreu Tina Turner