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– É sempre bom regressar aos palcos?
Paula Lobo Antunes – Sim e este regresso era um segredo bem guardado, pois a ideia partiu de nós e até já ensaiámos durante um mês. O texto e a peça estão inacreditáveis. Estou também a fazer a produção, já que pretendemos fazer uma tournée a seguir e andamos a ver para que teatros a conseguimos vender.
– Fazer produção acaba por ser uma forma de ter trabalho quando os convites para representar não surgem?
– Claro, mas também acredito que devemos fazer por nós, que devemos procurar o que queremos. Mas para que isso aconteça tem de se trabalhar com muita antecedência. Desde 2021 que estamos de volta desta peça, que só se vai concretizar em 2024. Nos EUA ou em Inglaterra é muito comum que os atores também sejam produtores, que produzam o que querem fazer, e acho que cada vez mais isso vai acontecer no nosso país.
– E com isso tudo consegue estar disponível para a família?
– Confesso que é muito difícil e intenso. Há que ser muito organizado e optar por momentos de trabalho mais intensivo. É quase como gerir uma orquestra em que eu sou a maestrina e tenho de compor tudo com muita cautela.
– E quando alguém “falha uma nota”?
– Improvisamos. Felizmente eu e o Jorge somos muito bons a improvisar. A vida familiar organiza-se, é pensada de uma forma, mas quando acontecem situações inesperadas, como filmagens numa altura em que estava em produção da peça, tudo tem de ser reajustado.
– Com os pais atores, alguma das vossas filhas já demonstra querer seguir a representação?
– Acho que sim, a mais pequena adora fazer espetáculos e a mais velha já anda, inclusivamente, na escola da Rita Salema há muitos anos. Andam a fazer castings para novelas e a Bee disse que queria fazer, mas depois decidiu por ela que não queria, que queria brincar um pouco mais.
– Isso demonstra maturidade.
– Sim, é muito crescida para a idade, mas acho que essa noção tem também a ver com a dureza que ela sabe que este caminho tem. Desde pequena que assiste às filmagens e sabe da responsabilidade e dificuldade que existem. Ela sente-se muito confortável em cima do palco, mas também sabe da rejeição que existe. Vivi muitos anos em Nova Iorque, onde o meu trabalho era literalmente fazer castings, em que o bónus era ser chamado para um segundo casting e a lotaria era receber o papel. Aqui a escala é mais pequena, mas continuamos a batalhar sempre, pois existe a questão das faixas etárias, já que tudo muda conforme vamos crescendo. Há que saber manter a cabeça à tona da água para conseguir ver tudo, sem submergir e mantendo sempre a saúde mental.
– Parece-me que, apesar da Paula e do Jorge serem pais descontraídos, têm também o cuidado de dar ferramentas às vossas filhas para se cuidarem mentalmente.
– Sim, claro, assim como também é muito importante que elas percebam a diferença que existe entre os pais atores e os outros pais, já que algumas amigas podem não perceber essa diferença e fazer-lhes algumas cobranças, o que até já aconteceu. Para nós é normal virmos ao teatro ou a um estúdio, ou elas conhecerem atores ou músicos que são nossos amigos, mas isso não quer dizer que elas sejam melhores ou piores do que os outros. Essa é a nossa realidade. Nós sempre as afastámos do lado mais mediático da nossa profissão, mas houve uma altura em que tivemos de explicar, até aconselhados por uma terapeuta, que dizia que elas tinham de saber porque é que as pessoas podiam abordar os pais, podiam querer tocar-lhes, conversar ou somente olhar. Quando a Bee ganhou alguma maturidade, conseguimos explicar-lhe e ela aprendeu a ver a diferença entre quem era nosso amigo ou não, já que nos perguntava sempre antes.
– Essa é uma forma de as preparar para tudo, caso até decidam seguir o vosso caminho?
– Sim, hoje em dia, com todas as ofertas que há, de redes sociais, internet e tudo o mais, os pais têm de começar muito cedo a fazer o trabalho de casa, a ensinar que a bondade e o respeito pelos outros e por si próprio são invioláveis. Elas estão a crescer dessa forma e eu sinto cada vez mais orgulho nelas.