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Foto: João Lemos
Nos últimos quatro anos, o médico dentista João Espírito Santo, de 43 anos, tem passado por várias provações. Em 2019 sofreu um grave acidente de viação que o deixou em coma vários dias e o obrigou a uma dezena de cirurgias. Já no início deste ano, deparou-se com a possibilidade de um cancro da mama, que veio a revelar-se uma fascite nodular da mama, ou seja, uma massa benigna, possivelmente uma consequência do histórico de traumatismos e cirurgias ao tronco devido ao acidente, mas que o levou três vezes ao bloco operatório no IPO do Porto, onde continua a ser acompanhado. Neste caminho sinuoso, que lhe deixou danos emocionais, contou com a garra de Mariana Seabra, com quem está casado há 15 anos, e com o apoio dos três filhos, Leonor, de 13 anos, João, de 11, e Bernardo, de oito. Foi com todos eles que o fotografámos em férias.
– Estas são as suas primeiras férias de verão depois de outro susto de saúde. Têm um gosto especial?
João Espírito Santo – O primeiro mergulho no mar está dado. Já está, estou cá. Houve muita cirurgia, muitos exames, e houve medos. Medos que ficaram só comigo, para tentar não preocupar ninguém.
– É impossível não reparar “marcas de guerra” que o acidente lhe deixou. Quando olha para essas cicatrizes, o que representam?
– Esteticamente, as cicatrizes não são bonitas de se ver, mas mentalmente são um estímulo para a superação diária. Gosto de olhar para elas como uma etapa superada.
Esteticamente, as cicatrizes não são bonitas de se ver. Gosto de olhar para elas como uma etapa superada.
-A memória do acidente ainda é uma presença diária ou arrumou esse contratempo numa gaveta?
-Lembro-me todos os dias. Percebo que a vida nos põe à prova todos os dias e que temos de ter a capacidade de superar as dificuldades, independentemente de as acharmos justas ou injustas, corretas ou incorretas.
-Com estas adversidades, descobriu uma nova Mariana?
-Sem dúvida. A Mariana foi-se adaptando e superando na capacidade de resolução. Eu, João, não teria gerido nem 50% tão bem como ela o fez e com grande maturidade.
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Foto: João Lemos
-É nas adversidades que também descobrimos a natureza de uma relação. Algum dia pensou que seria assim tão forte, tão coesa?
-As pessoas mostram o seu caráter. Nós, às vezes, não damos valor ou não reconhecemos a natureza da relação, porque é tudo muito bonito, tudo muito fácil. E por vezes há momentos mais tensos que nos põem à prova. Mas duas pessoas só estão juntas e têm uma família quando faz sentido serem felizes.
-Como é que os vossos filhos lidaram com estas dificuldades?
-Passaram a ter mais noção da realidade. Aprenderam a ocupar o seu papel como filhos. Cada um deles, à sua maneira, tenta proteger-nos. Por exemplo, o João não adormece enquanto eu não chego a casa. A Leonor tem o cuidado de me telefonar para saber se estou bem, se tenho sono… O Bernardo vai agarrar-se à mãe como se fosse o substituto do pai.
-Aprendeu a viver com mais calma?
-Estou mais disciplinado e acho que isso foi bom. Sendo que às vezes penso: “Para quê tanta disciplina se a vida pode acabar amanhã?” Mas o importante é que me sinto bem, estou vivo. Viver com incerteza durante estes seis meses foi duro. Foi uma verdadeira prova para a minha saúde mental.