O livro que Paul Auster escreveu enquanto lutava contra um cancro, Baumgartner, fala sobre a beleza e a tragédia da vida. Um romance que aborda o tema da velhice e que o autor terminou durante os tratamentos contra o cancro com que foi diagnosticado em dezembro de 2022.
Pouco após a obra ser lançada em várias partes do mundo, o sucesso é notório. Vários fãs destacam o tom melancólico, a exploração da dor e da memória – temas certamente associados ao período difícil que o autor vivia enquanto escrevia o livro.
O protagonista de Baumgartner é um escritor e professor reformado, com mais de 70 anos – à semelhança de Auster – e que vive atormentado pela memória da mulher com quem viveu durante 40 décadas – tal como acontece com o autor e Hustvedt -, que morreu num acidente aquático.
“Lê-se como se fosse um obituário, escrito pelo protagonista de uma vida cujo fim se aproxima“, escreveu o jornalista do El País Eduardo Lago. “O romance conta com a perspetiva que as sete décadas de vida e a realidade da sua condição atual dão ao autor”, disse, por outro ado, Rebecca Watson, no Financial Times.
O contributo da mulher do autor
Desde o diagnóstico, a mulher de Auster, Siri Hustvedt, tem sido a porta-voz do seu estado de saúde. Através das redes sociais, a escritora faz partilhas reais sobre tudo o que os dois têm vivido e as dualidades que sente enquanto alguém que acompanha de perto o sofrimento do outro.
“O meu marido foi diagnosticado com cancro em dezembro, depois de ter estado doente durante vários meses antes disso. Ele está agora a ser tratado e eu tenho vivido num lugar ao qual chamo Cancerland“, chegou a escrever, no passado mês de março.
Por fim, refletiu, na mesma publicação: “Penso que seria horrível estar sozinho na Cancerland. Viver com alguém que tem cancro e que está a ser bombardeado com quimioterapia e imunoterapia é uma aventura de proximidade e separação. É preciso estar suficientemente próximo para sentir os tratamentos enervantes quase como se fossem os seus e suficientemente longe para ser uma ajuda genuína. Demasiada empatia pode tornar uma pessoa inútil! Nem sempre é fácil de andar nesta corda bamba, é claro, mas é o verdadeiro trabalho do amor”
No passado mês de agosto, Siri revelava que a viagem pela “Cancerland” estava a ser “confusa e traiçoeira“. Porteriormente, acrescentava: “Ainda não chegámos à placa que marca o limite do país: ‘Estás agora a sair da Cancerland’”. A mulher do autor garantiu ainda que o sentido de humor e postura forte do escritor tornam este período de doença “bonito, não feio” e que Auster garante não ter medo de morrer.
Outra tragédia na vida de Paul Auster
Cerca de um ano antes do diagnóstico de cancro, em novembro de 2021, o autor vivia uma grande tragédia com a morte da neta, Ruby, de 10 meses. Esta estaria a cargo do pai, Daniel Auster – o único filho que o escritor teve com Lydia Davis -, em casa, em Brooklyn.
Uma análise feita posteriormente revelou que a bebé morreu por uma “intoxicação aguda pelos efeitos combinados de fentanil e de heroína”. Daniel foi, então, acusado de homicídio involuntário da própria filha. Cinco meses depois, o filho do escrito morreu, aos 44 anos, devido a uma overdose acidental.