Hugo van der Ding tem uma longa lista de Excel com nomes de pessoas cujas vidas merecem, por algum motivo, tempo de antena. São mais de mil as pequenas biografias que já partilhou com os ouvintes da Antena 3 na rubrica Vamos Todos Morrer, que apresenta diariamente, há quase cinco anos, com Ana Markl e Tiago Ribeiro. E são precisamente algumas dessas biografias que se podem ler no livro Vamos Todos Morrer Outra Vez, apresentado recentemente no auditório do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
“A vida de qualquer pessoa pode ser fascinante. Há tanta gente com histórias surpreendentes… Por exemplo, fui pesquisar sobre o Cândido de Oliveira, que conhecemos da Supertaça Cândido de Oliveira, e descobri que foi espião inglês. Para além de ter sido treinador de futebol da Seleção de Portugal, nos anos 30 e 40 esteve preso no Tarrafal, foi um opositor ao regime. Estas são histórias que nós não conhecemos e que, para mim, são as mais fascinantes”, explicou o autor à CARAS, lembrando que a marca que cada um de nós pode deixar neste mundo não tem de ser necessariamente megalómana. “Não precisamos de fazer uma coisa grandiosa, descobrir a cura de uma doença ou ir à Lua. Nós deixamos a marca em quem se lembra de nós ao tocarmos, de alguma maneira, a vida uns dos outros”, defendeu o escritor, locutor e cartoonista, de 47 anos, explicando ainda que a forma como aborda a vida das personalidades que escolhe, com humor apurado ou com maior seriedade, está, na maior parte das vezes, relacionada apenas com o seu estado de espírito. “O humor, para mim, é um veículo para dizer coisas. E é também uma boia de salvação que nos consegue livrar de situações confrangedoras. Acho que não seria capaz de ser amigo, pelo menos amigo íntimo, de alguém que não tivesse sentido de humor. É muito difícil comunicar com pessoas que não se riem de nada, que levam tudo a sério. Rir é mesmo o melhor remédio para tudo. Menos para a morte”, concluiu.
E foi perante uma plateia composta, onde não faltaram colegas, amigos e familiares do autor, que Ana Markl, Tiago Ribeiro e Emanuel Silva leram três das biografias publicadas. No final, os convidados tiveram ainda oportunidade de assistir a uma participação especial da cantora Selma Uamusse, que, acompanhada pelo músico Noiserv, interpretou o tema Who Wants to Live Forever, dos Queen.
“O Hugo não se limita a ter graça. Ele é muito inteligente, é cáusticoe empático.” (Isabel Moreira)
“É uma das minhas músicas preferidas”, confessou a deputada Isabel Moreira, ainda emocionada com esta interpretação, para, de seguida, assumir ser uma grande admiradora do trabalho de Hugo van der Ding. “O Hugo não se limita a ter graça. Ele é muito inteligente, é cáustico, e acho que nos faz ser melhores pessoas. Acho mesmo que a principal característica dele, que se expressa no tipo de trabalho que faz, é a empatia. É dos seres humanos mais empáticos que conheço”, elogiou a deputada, acrescentando: “A empatia é a coisa mais importante que podemos ter. Porque, independentemente das crenças de cada um, há uma coisa que sabemos que é indispensável para que continuemos juntos: é sabermos que existe uma outra pessoa à nossa frente. E a ligação entre uns e outros faz-se sabendo cada um de nós ser o outro que está ao nosso lado. E é isso que o Hugo faz todos os dias.”
Fotos: Luís Coelho