Embora tenha pautado todo o seu percurso pela discrição, longe de festas e, sempre que possível, dos holofotes, Annette Bening é uma das atrizes mais respeitadas de Hollywood, mesmo tendo fugido sempre aos estereótipos do cinema americano. Aos 65 anos, e com um novo sucesso entre mãos, o filme Nyad, em exibição na Netflix, a artista está nomeada pela quarta vez para o Óscar de Melhor Atriz Principal (já teve também uma nomeação como Atriz Secundária). Se ganhar, será o primeiro da sua carreira, embora tenha somado prémios desde que começou o seu percurso profissional, aos 32 anos, uma idade pouco convencional para se entrar na indústria do cinema americana, que “produz” estrelas perfeitas com as quais Bening nunca se identificou.
“O padrão de beleza para as mulheres jovens é realmente muito rígido.”
Mais de três décadas depois, a atriz não esqueceu as palavras que ouviu de alguns produtores de Hollywood quando ainda tentava a sua grande oportunidade, vinda de San Diego, Califórnia, onde cresceu no seio de uma família republicana. “Disseram-me: ‘És grande, muito barulhenta e engordaste 4,5 kg.’” Não encaixava nos estereótipos femininos da época, mas o facto não a desviou do seu propósito. Tinha idade suficiente para se sentir segura e não se deixar abalar com críticas pouco fundamentadas. Em vez disso, conquistou até os mais céticos com o seu talento. “Sempre senti que era tratada com muito respeito, talvez porque não era uma criança quando, finalmente, entrei no mundo do showbusiness”, recordou numa entrevista ao jornal The Guardian.
Sem nunca ter procurado a perfeição física, embora reconheça a pressão que existe sobre as mulheres no seu meio, recusou-se sempre a querer parecer mais nova através de cirurgias plásticas e não teme assumir que o seu peso não é o mesmo de há três décadas. “Sou mulher, sou humana e não sinto que tenha de provar nada”, assegurou numa entrevista. Annette garante, inclusive, que não gostaria de estar na pele das jovens de hoje, pois, apesar de muito se ter avançado em relação à misoginia da sua época, ainda há um longo caminho para percorrer na sociedade. “O padrão de beleza para as mulheres jovens é realmente muito rígido. Não invejo as mulheres que estão a crescer agora”, disse. Sem medo de ser censurada ou criticada, aparece em fato de banho no último filme, assumindo o corpo exatamente como ele é.
Na verdade, tal como Diana, a sua personagem em Nyad, uma antiga nadadora americana que, aos 60 anos, decide nadar 180 km de Cuba até à Flórida para conquistar o único feito que lhe tinha escapado, Bening é focada e determinada. As duas mantêm-se perseverantes nos seus objetivos, não se deixando definir pela passagem do tempo. “Devo dizer que realmente vejo entre as mulheres essa determinação, esse sentimento de desafio”, admitiu, mostrando o seu lado de ativista na defesa dos direitos das mulheres.
Casada desde 1992 com Warren Beatty, de 86 anos, considerado um dos atores mais bonitos e cobiçados de Hollywood – apaixonaram-se durante a rodagem do filme Bugsy e ela passou os primeiros dez anos do casamento a ser questionada sobre como conseguiu “domar” o eterno sedutor do cinema americano –, têm quatro filhos, Stephen, de 32 anos (que nasceu rapariga e aos 14 anos mudou de sexo), Benjamin, de 29, Isabella, de 27, e Ella, de 23, uns ligados, como os pais, à representação, outros à escrita. Quanto ao desejo de mudança de sexo do mais velho, a mãe aceitou-o com tranquilidade. “É uma pessoa criativa e eu tenho muito orgulho nele”, garantiu a artista, afirmando ainda: “Ele conseguiu lidar com algo muito desafiador com muito estilo e inteligência.”