O título da peça Uma Vida no Teatro, de David Mamet, na qual sobe ao palco do Teatro Aberto, em Lisboa, podia ser o título da biografia de Alfredo Brito, de 61 anos. O ator, com um vasto percurso que passa pela televisão, pelo cinema e pelas locuções, mas foi feito sobretudo no teatro, não é, no entanto, comparável ao personagem que interpreta nesta peça em termos de personalidade: ao contrário deste, não se deixa levar pelas glórias ou agruras do passado, assumindo-se antes como alguém para quem a nostalgia não tem peso. “Nunca dei por mim a querer que o tempo voltasse para trás. Tenho um odiozinho de estimação quando oiço alguém dizer ‘no meu tempo’. O meu tempo é agora.”
“Há momentos em que, se calhar, já não me apetece mais. Encontro-me calmamente a desativar.”
Depois de mais de quatro décadas a representar, Alfredo Brito admite que já sente alguma saturação. “Há momentos em que já não me apetece mais. Ou seja, encontro-me quase calmamente a desativar. Trabalho muito menos. Serei sempre ator, mas chegou uma altura em que pergunto que projeto é e depois, então, conversamos. Não é por ser mais esquisito, o tempo é que nos vai moldando. Hoje, sou capaz de estar mais preocupado em ter tempo para escrever”, explica. Até porque, quando era mais novo, havia a urgência de manter a família e os caixotes com apontamentos para peças acabaram por ir-se amontoando. “Tenho 41 anos de teatro e há 30 que faço locução. Foi isso que me sustentou. A dada altura, a família cresce e uma pessoa tem de se agarrar àquilo que lhe permite sustentar a casa”, revelou, lembrando o quanto o ofício de um ator pode ser precário.