Nasceu em Nova Iorque, em novembro de 1982, descobriu cedo a paixão pela representação, já ganhou um Óscar de Atriz Secundária pelo seu papel de Fantine em Os Miseráveis, de 2013, teve uma nomeação para Melhor Atriz com O Casamento de Rachel, fez blockbusters, como O Diabo Veste Prada (2006) ou O Cavaleiro das Trevas Renasce (2012), e em 2015 era uma das atrizes mais bem pagas do mundo. No entanto, foi vítima de uma autêntica perseguição nas redes sociais depois de, em 2011, ter apresentado, com o ator James Franco, a cerimónia dos Óscares, considerada um fracasso, que lhe foi atribuído, dando origem ao movimento Hathahaters (um cruzamento do seu apelido com a palavra haters, pessoas que odeiam), que, entre outras coisas, a acusavam de ser demasiado “certinha”, perfeccionista e pouco sexy. Isso trouxe-lhe uma travessia do deserto em que quase não conseguiu trabalho, valendo-lhe o realizador Christopher Nolan (Oppenheimer) para a trazer de novo para a ribalta, primeiro em O Cavaleiro das Trevas Renasce e depois em Interstellar, de 2014.
“Muitas pessoas não me quiseram dar papéis porque estavam muito preocupadas com o facto de a minha identidade se ter tornado tóxica na internet. Tive um anjo em Christopher Nolan, que não se importou com isso e me deu um dos papéis mais bonitos que já tive num dos melhores filmes de que já fiz parte [Interstellar]”, disse numa entrevista intimista que deu à Vanity Fair e que é capa da edição de abril da revista americana.
Filha de um advogado e de uma atriz, que acabou por deixar a carreira para se dedicar aos três filhos, aos oito anos Anne viu a mãe precisamente no papel de Fantine numa versão para palco de Os Miseráveis e apaixonou-se pela representação. Ainda assim, educada no seio de uma família católica, passou por uma fase em que queria ser freira. A revelação de que o seu irmão Michael era homossexual, no entanto, afastou os Hathaway da Igreja Católica, por esta condenar a homossexualidade.
“Não quero ser posta numa gaveta do tipode filmes que devo fazer devido à minha idade, sexo ou porque ganhei um Óscar.”
Protagonista e produtora do filme The Ideia of You, que está em exibição na Prime Video, no qual dá vida a uma mulher divorciada, de 40 anos, que explora toda a sua sensualidade numa relação com um homem de 24, a atriz referiu à Vanity Fair, que fez com Hathaway uma produção fotográfica muito ousada: “Não quero ser rotulada e não quero ser posta numa gaveta do tipo de filmes que devo fazer devido à minha idade, sexo ou porque ganhei um Óscar. Quero divertir-me, caramba!”
Nesta conversa com a jornalista Julie Miller, que decorreu num restaurante em Manhattan, onde vive, Anne – que nos últimos cinco anos foi mãe pela segunda vez, deixou de fumar e de beber álcool e aprendeu a cuidar melhor de si – não se limitou a falar de trabalho. Um dos temas da conversa foi precisamente a maternidade – casada com o ator e empresário Adam Shulman desde 2012, teve o seu primeiro filho, Jonathan, em 2016, e o segundo, Jack, em 2019 –, pois travou uma difícil luta para engravidar. Tema de que falou abertamente nas redes sociais, para ajudar outras mulheres a perceberem que não estão sozinhas numa batalha de que, lembra, pouco se fala.
“Tinha de dar à luz no palco todas as noites e fingia que estava tudo bem.” [na fase em que teve o aborto]
Anne teve mesmo a coragem de revelar que em 2015 teve um aborto espontâneo quando estava em cena na Broadway com a peça Grounded, na qual interpretava o papel de uma mulher grávida. “Tinha de dar à luz no palco todas as noites e fingia que estava tudo bem”, recordou a atriz.
Ainda assim, o passado nem sempre fácil parece não ter traumatizado Anne Hathaway, que afirma: “Consegui finalmente conhecer-me bem. Hoje não vivo em função do que os outros pensam de mim e consigo rir-me muito mais.”
Generosa e ativista, tem sabido usar a popularidade que alcançou para dar voz a diversas causas, entre elas a luta contra o casamento infantil, a necessidade de vacinação nos países pobres e os direitos dos homossexuais. E em 2016 foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres devido à sua luta pela igualdade de género.
Para promover uma maior consciência sobre o sexismo na indústria do entretenimento, Hathaway tem defendido mais oportunidades profissionais para as mulheres e criticado Hollywood por não ser um espaço de maior paridade. Em 2018 colaborou com mais 300 mulheres de Hollywood na criação da iniciativa Time’s Up, para proteger as mulheres contra o assédio e a discriminação.