
Passaram dois anos desde que Maria Dominguez, de 27 anos, passou a integrar a equipa de apresentadoras do Fama Show, da SIC, um programa ao qual se tem dedicado de corpo e alma. Está feliz, mas assume que tem saudades da representação, na qual se estreou em frente às câmaras de televisão, e espera que surjam novos desafios em breve. “Nunca estou satisfeita, quero sempre mais e mais. Estou bem, mas quero mais”, assumiu nesta conversa, na qual também falou sobre como o passado a moldou, a falta que lhe faz a avó materna, que morreu recentemente, o amor e a enorme vontade de ter filhos, para não ficar sozinha.
– Começou como atriz. Sente falta desse lado?
Maria Dominguez – Sinto muita falta, porque requer coisas diferentes. Como apresentadora, preparo-me, mas sou sempre eu. Na representação, o mundo vira-se de cabeça para baixo, é preciso ir buscar partes de mim para interpretar um papel. Confesso que gosto muito de explorar coisas dentro de mim e a representação permite-me isso.
“Lembro-me de ser miúda, ver os Óscares e os Globos de Ouro e pensar que gostaria de estar num daqueles palcos.”
– A representação foi um acaso ou era um objetivo?
– Para ser sincera, aconteceu por acaso. Lembro-me de ser miúda, ver os Óscares e os Globos de Ouro e pensar que um dia gostaria de estar num daqueles palcos, mas sempre achei que nada de semelhante iria acontecer-me, pois fazia autossabotagem, pensava: “aquilo não é uma coisa para mim”, mas no fundo sempre quis.
– O mundo do espetáculo fascinava-a?
– Muito. A minha família pensava que eu ia ser médica. Decidi seguir Psicologia Criminal. Ainda cheguei a entrar na universidade, fiz um ano e saí, pois comecei a trabalhar e não conseguia conciliar as duas coisas. Foi nessa altura que percebi que sempre quis estar na televisão.
– A televisão é uma área muito competitiva. Como conseguiu entrar?
– Comecei na novela A Herdeira. Já fazia moda e a minha agência enviou-me a alguns castings. E foi assim que tudo aconteceu. Depois, fui para a SIC e fiz várias coisas até chegar aqui. E agora gostava de fazer alguma coisa que me tirasse da minha zona de conforto.
– Sente-se bem neste percurso, apesar da insatisfação que refere?
– Vivemos num mundo em que as redes sociais estão sempre a mostrar que toda a gente está a fazer imensas coisas incríveis, o que me faz sentir alguma pressão. Parece que o que faço não é suficiente. Faz-me questionar se estou no caminho certo, mas depois faço uma retrospetiva de onde estava há uns anos e de onde estou agora e acalmo um bocadinho a minha alma. Tenho de estar mais grata por aquilo que tenho e que consegui, pois há uns anos era tudo impensável.
“Há pessoas que acham que o facto de se ser bonita torna tudo mais fácil, outras que não nos levam a sério.”
– A beleza pode ser castradora?
– Claro que sim! É um preconceito que continua a existir. Há pessoas que acham que o facto de se ser bonita torna tudo mais fácil, outras que não nos levam a sério. O que sinto é que tenho de me esforçar mais ainda.

– A sua família aceitou bem a decisão de desistir do curso? Muitas vezes, os pais querem que os filhos tenham maior segurança profissional.
– Foi tudo tranquilo. A minha mãe sempre me deu muita liberdade e apoia-me em tudo. Sempre fiz o que queria e sentia. Saí de casa muito cedo, aos 18, e sempre fui dona de mim e da minha vida. Sou independente desde os 15. O meu pai é mais ausente e a família da parte dele, mais conservadora, ficou um bocadinho desiludida quando entrei no mundo da televisão. Ambicionavam outra coisa para mim, mas a partir do momento em que me viram a ter sucesso, começaram a respeitar-me e admirar-me.
– O que a levou a sair de casa tão cedo?
– Comecei a trabalhar cedo e a ter o meu dinheiro. Até aos 18, vivia com a minha mãe e a minha avó, mas sempre fui muito livre ao lado delas. Não havia proibições e nunca me castraram. Foi algo que aconteceu normalmente.
“Sou uma mulher livre. Acho já nasci assim, livre. Não há muito a fazer, é da minha natureza.”
– Isso ajudou-a a ser a mulher segura que é hoje?
– Sem dúvida! Sou uma mulher livre. Acho que já nasci assim, livre. Não há muito a fazer, é da minha natureza. Mas a segurança foi um processo de autoconhecimento, até perceber quais são os meus pontos menos fortes e trabalhar essa autoconfiança, o amor-próprio. Só há pouco tempo cheguei ao ponto em que quero estar.
– A sua avó, que morreu há pouco tempo, foi uma referência na sua vida?
– A minha avó foi, sem dúvida, a minha grande referência. Cresci com ela, na casa dela, e devo-lhe muito.
– Acompanhou a doença dela. Foi muito difícil lidar com a demência?
– Foi, por tudo. Venho de uma família de mulheres e todas muito independentes e fortes. E a minha avó era a personificação disso: independente, muito dona de si e da sua vida. De repente, ver o final dela assim, mais dependente e sem saber de muita coisa, fez-me muita confusão.
– Fê-la, de alguma forma, questionar a vida?
– Muito. Fez-me questionar a vida, a minha velhice, que era uma coisa sobre a qual ainda não tinha pensado. É triste ficar sozinho. Quero ter filhos, até para um dia não estar sozinha. A doença da minha avó fez-me ver um outro lado da vida. Nascemos, crescemos, chegamos à fase adulta, achamos que temos tudo e depois voltamos a ser bebés outra vez.
– A solidão assusta-a, portanto.
– Sei que sou uma pessoa um bocado sozinha, mas a solidão é um sentimento terrível que não quero sentir.
– Porque é que viveu fora de Portugal, em Espanha e Itália?
– A permanência em Espanha teve a ver com a vida da minha mãe. Já em Itália, onde vivi quatro anos, em Ischia, uma ilha ao pé de Capri, foi opção minha. Mudei-me por amor, porque fiquei noiva e o meu namorado, na altura, era italiano
– O que a fez voltar?
– O fim da relação e o meu trabalho. Tinha 21 anos quando comecei a namorar com o Leonardo e estava a entrar na televisão nessa altura. De repente, a questão que se pôs foi deixar tudo por amor ou correr atrás do meu sonho. Escolhi seguir o meu sonho.
– Valeu a pena a escolha?
– Valeu tudo a pena. Tive uma história de amor lindíssima, que guardo com muito amor e carinho e que um dia poderei contar aos meus netos. E depois segui o meu caminho. Em Itália não conhecia ninguém no meio, seria muito difícil ter uma carreira.
“Tenho o coração ocupado, mas deixo esse assunto para quando souber que é para me casar [risos].”

– Atualmente, tem namorado?
– Sim, tenho o coração ocupado, mas prefiro deixar esse assunto para quando souber que é para me casar [risos].
– O casamento faz, então, parte dos seus planos?
– O casamento é uma consequência do amor que tenho. Gostaria muito de me casar. É um dia especial de celebração do amor e da união.
– Vê-se a ser mãe em breve?
– Não no imediato, mas aos 30 gostava que acontecesse. Vejo-me completamente a ser mãe. Amo crianças e ser mãe é um grande desejo que quero concretizar. Gostava de ter um atrás do outro. Penso em dois ou três, é o que idealizo, mas depois se verá.
– Sente-se numa fase feliz?
– A felicidade é um estado de espírito… Temos de tentar ir buscar felicidade a coisas do dia a dia. Mas considero-me uma pessoa feliz.
– Após um dia de trabalho, muitas vezes num ritmo frenético, o que é que lhe dá conforto?
– A espiritualidade ajudou-me a vida inteira. E ajuda-me o meu núcleo, no qual estão incluídos os meus três cães, que são a minha maior companhia. Gosto de me voltar para dentro.
Agradecemos a colaboração de SUD Lisboa