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Licenciado em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema, com um mestrado em Gestão Cultural pelo ISCTE, fundador do coletivo Teatro Praga e do espaço cultural Rua das Gaivotas 6, Pedro Penim assume, desde 2021, o cargo de diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II. Uma posição que enfatiza a responsabilidade de cumprir a missão da instituição e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para promover a diversidade e dar visibilidade a diferentes formas de expressão artística.
Comprometido com a promoção da cultura, da igualdade e da diversidade, o ator, encenador e dramaturgo, que se tornou conhecido ainda muito jovem quando apresentava a versão portuguesa do programa Art Attack, no Disney Channel, conversou com a CARAS a pretexto do espetáculo que produziu a propósito das comemorações do 25 de Abril, Quis Saber Quem Sou – Um Concerto Teatral, que esteve em cena no Teatro São Luiz, em Lisboa. Durante esta conversa, o ator, de 47 anos, falou ainda da filha, Amália, de um ano, que nasceu por gestação de substituição no Canadá e que tem sido a luz dos seus olhos e dos do marido, o jornalista britânico Mark Lowen, com quem se casou em 2018.
– O que significa, para si, o cravo que colocou na lapela?
Pedro Penim – Um orgulho imenso por estarmos a comemorar 50 anos de democracia. Eu estava à espera deste espetáculo há muito tempo. Estas canções, esta época, fazem parte do meu ADN. Nasci no Verão Quente de 75, portanto, sou um “filho da madrugada”, sou um produto do 25 de Abril. Os meus pais foram sempre muito politizados, toda a minha infância e adolescência ficaram muito marcadas pelas comemorações de Abril. E chegarmos a esta data tão redonda é um motivo de celebração. Se calhar não estamos exatamente no país que se sonhou no 25 de Abril, mas acho que essa é mais uma razão para continuarmos a insistir nesta comemoração, para que os direitos fundamentais que se conquistaram em Abril nunca desapareçam.
– Que sonhos são esses que ainda estão por realizar neste país?
– Ainda há muita injustiça social, ainda há clivagens muito grandes entre ricos e pobres, entre interior e litoral. É um país muito marcado por essas diferenças. Para muitas comunidades ainda não há as mesmas oportunidades que há para uma determinada elite, porque a nossa sociedade se faz, infelizmente, dessas discrepâncias de acesso. Temos que lutar por aquilo que se sonhou em Abril, uma sociedade mais igualitária, mais justa, porque o território de oportunidades em que vivemos não é igual para todos.
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– O acesso à cultura não é, como referiu, equitativo. Deve ter sido muito importante para si poder levar cultura a todo o país através da digressão com que contornaram as obras de requalificação do D. Maria II, o projeto Odisseia Nacional?
– Sim, é uma atividade emblemática da chamada democracia cultural. Foi isso que aconteceu durante 2023 e que irá continuar a acontecer. Para mim, é uma missão, uma obrigação e uma odisseia também, muito custosa e trabalhosa, mas, enquanto teatro nacional, o nosso desígnio obriga-nos, de facto, a estar muito próximos das populações. É fundamental que espetáculos como este, que apresentámos no São Luiz e que irá agora entrar em digressão, sejam partilhados com todo o território. Essa é, também, a nossa missão.
– E quais têm sido as maiores dificuldades? Em termos logísticos não deve ser fácil andar sempre com a “casa às costas”…
– É muito difícil, de facto. Contamos sempre com a ajuda de patrocinadores e autarquias, sem os quais isto não seria possível. É preciso mesmo uma aldeia inteira para conseguir que estes espetáculos possam circular, mas depois também é muito compensador. Quando saímos de uma determinada cidade ou vila, as pessoas perguntam-nos sempre quando é que voltamos.
– O que revela uma sede grande de cultura?
– Muito grande. As pessoas vêem o Teatro Nacional D. Maria II como uma instituição sua e devem senti-lo, porque, de facto, é um bocadinho de todos nós. E essa relação tem sido muito bonita.
– O cargo que agora ocupa pode, também, ajudar a dar visibilidade ao trabalho de colegas atores?
– Claro. Há o lado de fazer cumprir aquilo que é a missão do D. Maria II, que é uma instituição com quase 180 anos, que é preciso fazer vingar, mas depois há também esse lado da aventura, do desafio. Para mim, que venho de um teatro um bocadinho menos convencional, é sempre uma forma de me expressar também artisticamente. Porque acho que sou um programador, mas também sou um artista…
– …Que sabe tocar piano. Quando é que aprendeu a tocar?
– A minha mãe pôs-me nas aulas de piano em criança. Resisti muito, mas aprendi solfejo e hoje agradeço-lhe imenso ter insistido, porque é uma felicidade tocar um instrumento musical. E agora que tenho uma filha, quando for possível quero pô-la a aprender a tocar o instrumento de que ela mais gostar. Acho que é uma dádiva que se pode proporcionar a um filho, pô-lo a aprender música. A música tem uma presença muito importante na minha vida e no meu trabalho.
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– Os seus olhos brilham quando fala da sua filha. Foi certamente um projeto muito desejado e ponderado?
– É um clichê, mas é, de facto, uma transformação radical na minha vida, na minha personalidade, na maneira como eu olho para o mundo, para o futuro e para mim próprio. Acho que é uma revolução. Já que estamos a comemorar este tema, de facto ter um filho é um ato revolucionário. E ela, sim, é maravilhosa. É muito bonito ver uma criança crescer e todo o esforço da educação, de pensar como é que se educa uma criança, porque não chega com um livro de instruções… Portanto, há um lado empírico que também é bastante importante e que tem corrido muito bem.
– Para o qual conta certamente com o apoio do seu marido. Ter falado abertamente da sua relação, quando assumiu este cargo, era importante para si?
– Acho que sempre falei disso abertamente, nunca o escondi. Claro que este cargo me deu uma exposição maior, e daí ter-se falado mais sobre esse assunto, mas para mim foi sempre uma coisa muito natural. Mesmo na relação com a minha família. Nunca foi sequer uma necessidade de afirmação. Sempre soube muito bem quem sou e estava muito bem resolvido nesse sentido.
– E não ajudará a abrir portas a outras pessoas que também estejam à procura da sua identidade e que precisem de sentir que existe espaço para todos?
– Sim. Acho que estes exemplos, sobretudo de pessoas com cargos de maior visibilidade, podem ajudar a que outras se sintam acompanhadas. Acho que é uma obrigação nossa. Se calhar, e falando outra vez das conquistas de Abril, há necessidade de, todos os dias, reafirmar essas conquistas. E isso não quer dizer que eu adore falar sobre a minha vida pessoal, mas sinto que, na verdade, é uma missão também.