
Foto: José Oliveira
Começou por se apaixonar pelo fado ainda criança e foi a música que a conduziu aos palcos, que nunca mais deixou de pisar. Com 61 anos, Marina Mota tem uma carreira da qual se orgulha e que foi, agora, reconhecida numa homenagem feita no Teatro Politeama, onde trabalhou tantas vezes. Quando se sentou na cadeira da plateia que agora passou a ter o seu nome inscrito, a atriz contou com o apoio da família, que é o seu grande pilar. Com ela estiveram a filha, Erika Cunha, de 41 anos, os netos, Alexia, de 20, e Gabriel, de 18, e ainda o ex-marido, Carlos Cunha, de 70 anos.
– Como é comemorar 42 anos de carreira?
Marina Mota – De teatro são 42, mas juntando as cantigas, passa os 50. Estreei-me no teatro para cantar. Seria injusto esquecer essa década anterior. Se não fosse o fado, nunca teria vindo parar à representação.
– Quase uma vida.
– Sem dúvida. Comecei em criança, portanto, faltou pouco para ser a vida inteira.
– Já deu por si a fazer um balanço?
– Como toda a gente, volta que não volta faço uma retrospetiva e sabe-me bem. É um balanço positivo.
– Tem sido sempre acarinhada pelo público nesta caminhada?
– Principalmente pelo público. Tenho a sorte de ser muito acarinhada pelas pessoas, que me empurram com ternura, com palavras de afeto, e não pode haver, para mim, maior reconhecimento do que esse.
– Passou a ter uma cadeira com o seu nome no Teatro Politeama. O que significa para si este tributo?
– Significa muito, mais pelo gesto do que pelo objeto físico. Esta casa é importante para mim. Já tive dias de grande felicidade aqui, ao lado do anfitrião, o Filipe La Féria. Portanto, ter uma cadeira num sítio onde o teatro é tão acarinhado e é de facto rei é um grande privilégio. É, na realidade, pensar que vale a pena o esforço e a entrega. É um reconhecimento que me aquece a alma.
– Acha que a cultura ainda é mal amada em Portugal?
– Ainda há um longo caminho a percorrer. No meu caso, produzo, porque intercalo a televisão com as tábuas, pois teatro é o que mais gosto de fazer. Embora goste de televisão, o contacto direto com o público faz-me muita falta. E é a andar pelo país em digressão que percebo que a cultura é mal amada. Temos ainda muito sítios onde as portas não estão abertas, porque determinado programador acha que o que fazemos não se enquadra na programação, partindo do seu gosto pessoal. Penso que quem está nesses cargos devia servir uma entidade que se chama público e não o seu gosto, e isso ainda acontece.

Foto: José Oliveira
– Encontra-se a gravar a novela “Senhora do Mar” que é, em parte, passada na ilha Terceira, nos Açores. É um projeto mais desgastante, por exigir viagens constantes?
– Não é complicado. Vamos aos Açores uma vez por mês e a Terceira é, de facto, uma ilha com gente muito acolhedora, que nos acarinha imenso e onde se passam uns dias entre trabalho e lazer muito agradáveis. Às vezes, até nos esquecemos de que estamos a trabalhar.
– Ser ator é uma profissão de risco, no sentido em que não há estabilidade?
– Completamente. O mercado não é abrangente. Sou uma privilegiada, porque estou sempre no ativo. Não tenho memória de ter tido um período em que não trabalhei, mas reconheço que é uma profissão instável. É preciso amar muito o que se faz e lembrar que nem todos estão debaixo dos holofotes. Não é só o brilho da luz. Esta profissão também traz solidão e é preciso ter uma grande capacidade para lidar com isso.
– Ter a família ao seu lado nesta noite é importante para si?
– Seguramente. Não está a minha mãe, nem a minha irmã, mas tenho uma parte da família muito importante. Os meus netos viram-me sempre a trabalhar, a minha filha cresceu nos bastidores dos teatros. Este é mais um momento de partilha, uma noite bonita em que estão ao meu lado. Somos uma família muito unida. Adoro a minha profissão, mas a minha família é o meu pilar de vida, sem dúvida. É ela que está sempre em primeiro lugar.

Foto: José Oliveira
– A sua filha seguiu os seus passos, tal como os do pai. Os netos vão continuar o legado?
– A Erika descobriu tarde a vocação. Durante muito tempo não nos parecia que tivesse apetência para isso, mas a determinada altura foi a sua opção e está feliz. Os netos não me parece. A Alexia está a tirar Direito e o Gabriel ainda está a pesquisar. São muito novos. Têm todo o tempo do mundo para serem o que quiserem.