Em criança ficava siderada a olhar para as entrevistas que Margarida Marante e Miguel Sousa Tavares conduziam na televisão. Por isso, Cátia Nobre, hoje pivô da CNN Portugal, cresceu entre as brincadeiras nas ruas da sua aldeia, Carvalhal de Aljubarrota, perto de Alcobaça, e o pequeno ecrã que a levava a viajar por todo o mundo.
A jornalista, de 34 anos, decidiu cedo que o seu caminho seria feito na Comunicação Social, mas a adaptação a Lisboa, para onde se mudou para estudar, foi difícil e quase a levou de volta a casa. Foi o marido, Tiago Brochado, realizador na SIC, quem a ensinou a gostar de Lisboa e a fez ficar. Mãe de João, de 8 anos, e Maria, de 3, admite que a dinâmica familiar é, por vezes, caótica, mas que encontram sempre o rumo, tal como gostaria que acontecesse na atual sociedade, que vê a desmoronar-se na sua essência.
– Deixou recentemente a TVI para começar um novo desafio na CNN, onde já tinha estado. O regresso entusiasma-a?
Cátia Nobre – Sinto-me altamente entusiasmada na CNN. É o canal de informação líder em Portugal, com um cariz que, enquanto jornalista, me permite crescer, sentir-me realizada e com orgulho no que faço. Necessariamente, há menos exposição nos canais de cabo, ao contrário dos generalistas, mas não é isso que me move. O que me move é sentir-me completa nas várias vertentes do meu trabalho, e sinto que na CNN tenho espaço para isso, portanto, estou feliz com este regresso.
– De que forma esta mudança afeta as suas rotinas?
– No essencial, a minha rotina vai ser pouco alterada. Poderei entrar um pouco mais tarde, sairei mais tarde também, mas a tempo de manter igual tudo o que diz respeito à dinâmica com os meus filhos. É importante nesta fase, em que ainda são pequenos, conseguir estar presente e ser sempre um apoio para eles.
– Sendo de uma aldeia longe das grandes cidades, é difícil conseguir entrar no meio. De que forma começou a sua aventura?
– Vim para a Escola Superior de Comunicação aos 18 anos e foi um percurso muito atribulado. Sou de uma aldeia e muito menina da mamã, mimada. Sempre gostei de viver ali, mas sabia desde cedo que queria ser jornalista e que não iria ser na aldeia, mas sair do ninho foi uma coisa que me custou muito. Ao início, queria desistir, não queria continuar em Lisboa. Só a partir do momento em que conheci o meu marido é que comecei a fazer as pazes com a cidade.
– Ou seja, os primeiros anos envolveram muito esforço da sua parte.
– Envolveram um enorme esforço. Ainda hoje sinto que casa mesmo é Carvalhal de Aljubarrota, porque a nossa infância é o que nos marca para a vida toda, é o nosso alicerce. Mas hoje em dia também consigo ver Lisboa como casa. Estou com os meus filhos, o meu marido. A minha família está aqui também. Antigamente, era com alguma dor que me mantinha cá. Sentia que as minha raízes não eram estas e que andava na cidade só a pairar.
– Depois de terminar a licenciatura, iniciou o seu percurso profissional onde?
– Comecei na TV Record Europa, em 2011. Depois, fui fundar a CMTV. Estive no canal oito anos, até que recebi o convite para ir para a CNN Portugal e mudei-me em 2021. Depois, em abril de 2022, fui para a TVI, e agora estou de regresso à CNN, durante o dia, o que gosto muito. Gosto de acordar cedo, de sentir que estou a apanhar tudo de raiz e do frenesim do dia.
– E é como pivô se sente realizada?
– Estar a apresentar um jornal é o que tem sido a maior parte do meu percurso. Pontualmente saio, mas sobretudo para conduzir emissões, e adoro. Sou muito tímida, apesar de às vezes poder não parecer, e a televisão ajudou-me, deu uma volta completa na minha personalidade. O meu trabalho funciona quase como uma terapia. Adoro trabalhar, é uma parte fundamental da minha vida, sem a qual não me vejo. Portanto, estar em estúdio, para mim, não é um capricho, é algo que me preenche muito.
– Na infância, apesar de estar no seu mundo protegido, também era uma criança tímida?
– Era uma miúda tímida, doce, atenta, que ia chegando e conquistando as pessoas à minha volta e acho que transpus isso para a idade adulta. Durante sete anos fui filha única e portanto ouvia muito a conversa dos adultos e isso moldou-me. Também via muita televisão e o que me chamava mais a atenção eram as entrevistas da Margarida Marante e do Miguel Sousa Tavares. Não percebia nada das temáticas, mas ficava hipnotizada por ela, essencialmente pela forma como fazia aquele “bailado” com os entrevistados, como era forte e sóbria ao mesmo tempo.
– Mas no campo o horizonte é vasto. Sonhava para além do que via na televisão?
– Na minha aldeia os meus dias passavam-se a andar de bicicleta na rua e nela cabiam todos os sonhos, sem limites. E fui muito mimada pelos meus pais, pelos meus avós, o que não me estragou, pelo contrário, fez de mim uma pessoa bonita e segura.
– O gosto pelo Jornalismo chega, então, pela televisão?
– Penso que sim. Desde muito cedo que sabia que queria ser jornalista. Sempre esteve implícita a vontade de ser na televisão, mas não tinha coragem de assumir esse sonho perante mim própria, porque tinha medo de me defraudar. Achava que nunca chegaria à televisão. Tinha o mundo limitado de uma jovem que vivia numa aldeia. Mas a vida levou-me para lá.
“Os meus filhos são uma alegria muito grande na minha vida.”
– Entretanto, a par com a carreira, formou uma família.
– É verdade. Sou mãe do João e da Maria. Ela nasceu em plena pandemia e foi muito difícil. Os meus filhos são uma alegria muito grande na minha vida, embora com o João tivesse as ansiedades inerentes a uma aventura que se vive pela primeira vez. E quando esperava ficar com um filho único, engravidei da Maria. Não há amor mais bonito do que este. É o amor dos pais pelos filhos que nos faz não desistir de nada e que nos impele para tudo. É lindo e esmagador ao mesmo tempo. A maternidade é viver com essa dualidade do melhor e do pior e tentar um equilíbrio que, muitas vezes, é difícil.
– Tinha pensado em só ter um filho?
– Sim, achávamos que estávamos bem assim, que não precisaríamos de outro filho para acrescentar nada à nossa alegria, mas a Maria veio provar o contrário. Ela era a peça gigante que faltava no nosso puzzle.
– É fácil manter a dinâmica familiar trabalhando ambos em profissões nas quais nem sempre há horários?
– Não, nada fácil. Não somos o casal típico das nove às cinco. Temos de estar sempre a ver o calendário e ir gerindo. É um bocadinho caótico, mas lá nos vamos orientando.
– Como mãe, de que forma olha para as notícias, muitas vezes perturbadoras?
– Desde a pandemia que me questiono muito. Nunca pensei que quando tivesse filhos encontrariam o mundo neste estado. Há uma guerra na Europa, a explosão do conflito no Médio Oriente, outros conflitos latentes. Depois, assistimos ao surgimento de movimentos de extrema-direita em Portugal e na Europa que trazem ao de cima preconceitos, intolerância. É assustador. A sociedade está crispada, dividida, não há capacidade de esbater as diferenças, é tudo branco ou preto, e isso preocupa-me muito. Não era neste mundo que queria que os meus filhos crescessem. Preocupo-me que tenham uma visão de igualdade, de fraternidade e de estender a mão ao outro. O amor é a base de tudo e espero que sirva para, no futuro, fazerem as escolhas certas.
Agradecemos a colaboração de Annat, Aldo Shoes, Palácio Ludovice Wine Experience Hotel, Federico e Toga