Natural da Madeira, Duarte Miguel Freitas mudou-se para Lisboa para tirar o curso de Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico, a que se seguiu um mestrado em Inteligência Artificial. O atual CEO da Anturio, empresa especializada em tecnologias de informação, conheceu a mulher, Joana Martins, num evento de moda, o Rossio Fashion Day, para o qual ela tinha sido convidada a desfilar e onde ele se encontrava por a sua família ter um negócio ligado à representação de marcas de roupa. A empatia entre os dois foi imediata, segundo nos disse o casal, que recebeu a CARAS no seu apartamento, na zona da Bela Vista, em Lisboa. Casados desde 2022, o empresário, de 44 anos, e a nutricionista, de 29 – que chegou a competir em alguns concursos de beleza internacionais –, falaram sobre os desafios e as alegrias de equilibrar carreiras exigentes e uma vida a dois. Ou melhor, a três, pois entretanto juntou-se à família o cão Louie, um lulu da Pomerânia anão.
– Estão juntos há sete anos e casados há dois. Qual foi o maior desafio que encontraram enquanto casal?
Joana Martins – Acho que o mesmo que todos os casais, somos pessoas diferentes e, ao criarmos uma relação, estamos também a descobrir-nos um ao outro, a moldar-nos às nossas próprias fases e mudanças. Quando nos conhecemos, eu tinha 22 anos e, neste momento, tenho 29. Não sou a mesma pessoa. Vamos mudando e temos de nos ir moldando. Isso é o mais importante numa relação saudável. É sermos companheiros, amigos, termos consciência de que temos de fazer algumas cedências, de ir aprendendo. E os maiores desafios têm sido esses.
– Conseguirem adaptar-se à personalidade um do outro?
– Exatamente. Há sempre fases melhores que outras e devemos aprender a não desistir ao primeiro obstáculo. Se sabemos que já encontrámos a pessoa certa, só temos que enfrentar os desafios, sermos adultos e ver como é que se vão ultrapassar os obstáculos da melhor forma possível.
– Duarte, nunca ponderou regressar à Madeira?
Duarte Miguel Freitas – O madeirense diz sempre que quer voltar à Madeira. Os meus colegas de curso madeirenses regressaram quase todos, eu fui o resistente, dos poucos que ficaram por Lisboa. Mas vou lá várias vezes. Talvez um dia, quando quisermos uma vida mais tranquila, nos mudemos para lá.
Joana – Gostamos de morar na cidade, somos muito cosmopolitas.
– Joana, como é que surgiram os concursos de beleza no seu percurso?
– Digo sempre que caí neste mundo um bocadinho de paraquedas. Aos 14 anos convidaram-me a participar num concurso, que ganhei. Acabei por passar ao concurso nacional e, com essa idade, fui enviada para concursos internacionais. Representei Portugal em sete concursos internacionais.
– Não era nova demais para embarcar em aventuras dessas?
– À minha mãe custou-lhe um pouco (o meu pai morreu quando eu era criança), mas sempre fui muito madura para a minha idade. Com 14 anos fui para a Guatemala, aos 18 já estava na China. Foi uma adolescência diferente, mas da qual me orgulho muito. E consegui sempre conciliar essas viagens com os estudos.
– Apaixonou-se, entretanto, pela área da nutrição?
– Sim. Sempre gostei da área da saúde. Gostava de ter ido para Pediatria ou Cirurgia Plástica, mas não consegui a média de que precisava e acabei por tirar o curso de Nutrição Clínica, área pela qual me apaixonei. Dou consultas há cinco anos.
– Como nutricionista, conseguiu influenciar a dieta e os hábitos alimentares do seu marido? Adotou alguma mudança significativa na sua alimentação?
Duarte – Não. Em casa somos terríveis.
Joana – Como se costuma dizer, “em casa de ferreiro, espeto de pau”. Trabalhamos muito, temos horários complicados e, por muito que goste de cozinhar, acabamos sempre por encomendar comida. Sou muito boa nutricionista, digo exatamente o que os meus pacientes precisam de ouvir, mas aplicá-lo a nós… nem por isso.
– Teve de fazer sacrifícios para conseguir manter a carreira de miss?
– Não, porque era uma coisa que gostava muito de fazer. Claro que foi custoso, na fase da adolescência, não ter tido tempo disponível para ir, por exemplo, ao cinema ou a concertos com as minhas amigas. Mas, por outro lado, ia à Turquia ou ao Egito. Era uma vida completamente diferente, muito gratificante no sentido em que essas viagens eram aprendizagens, davam–nos mundo. Por isso não me arrependo de nada. Acho que o universo das misses nos dá muitos ensinamentos a nível pessoal, escolar, profissional e até de relações interpessoais, com amigos e família. Se tivesse uma filha, iria inscrevê-la em concursos para a ajudar a crescer e aprender a ser mulher.
– Aprender a ser mulher?
– Exatamente. Cheguei a ter pais a virem ter comigo para me agradecerem a mudança de comportamento das filhas. O aprender a saber falar, o saber estar… É uma forma de ser.
– Porque ser miss não é apenas uma questão de beleza, não basta ser uma mulher bela?
– Infelizmente, em Portugal ainda temos uma mentalidade muito fechada relativamente aos concursos de beleza, mas mais de 50% da avaliação dos concursos é de cultura geral, de idiomas, não tem a ver com beleza física.
– Que conselhos daria a uma jovem que tivesse o sonho de um dia ser miss?
– Que ser miss não é uma profissão, é um hobby, que devem conjugar com os estudos. Os nossos estudos ninguém nos tira, os concursos de misses fazemo-los agora e depois acabam. É uma experiência de vida. Há que tirar o máximo partido desse período em termos de conhecimentos, de aprendizagens. Depois, é ter consciência de que nem todas podem vencer. Não devemos ficar tristes por não vencermos, porque não é só a cara bonita que vence, são todas as politiquices e outras avaliações que estão por detrás.
– Quando chegam a casa, conseguem abstrair-se das questões profissionais ou, pelo contrário, sentem necessidade de ir trocando algumas impressões?
Duarte – Gostamos de trocar ideias e de delinear projetos juntos. Uma das coisas de que mais gostamos é, depois de um dia de trabalho, ir jantar fora, beber um copo de vinho e discutir ideias e projetos que nos entusiasmem.