Dame Maggie Smith, premiada atriz britânica, grande senhora dos palco, do cinema e da televisão, como a consideravam os seus compatriotas, morre aos 89 anos.
A sua morte, num hospital em Londres, foi anunciada pela família, que não avançou a causa.
“Faleceu pacificamente no hospital na madrugada desta sexta-feira, 27 de setembro. Uma pessoa intensamente reservada, estava com amigos e familiares no final. Deixa dois filhos e cinco netos amorosos que estão devastados pela perda da sua mãe e avó extraordinária“, lê-se no comunicado da família, citado pela emissora BBC.
“Gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para agradecer à maravilhosa equipa do Chelsea and Westminster Hospital pelo cuidado e gentileza incansável durante os seus últimos dias. Agradecemos todas as mensagens gentis e apoio e pedimos que respeitem a nossa privacidade neste momento”, é ainda referido.
Uma carreira premiada
Maggie Smith foi uma das melhores e mais distinguidas atrizes britânicas da sua geração, cujos papéis premiados vão desde uma professora escocesa de pensamento livre em The Prime of Miss Jean Brodie até à condessa de língua ácida da série Downton Abbey.
Vencedora de dois Óscares — uma como Melhor Atriz, em 1969, pelo trabalho em The Prime of Miss Jean Brodie, e outro como Melhor Atriz Secundária, em 1979, pelo papel em California Suite—, foi ainda nomeada pela Academia pelos papéis em Othello (1966), Travels with My Aunt (1973), Room with a View (1986) e Gosford Park (2022).
Na verdade, os prémios começaram a chegar cedo à carreira de Smith, nos anos 50, quando, aos 20, ganhou o seu primeiro Evening Standard Award.
Na mudança de milénio tinha dois Óscares, dois Tony Awards (o maior galardão do teatro americano), dois Golden Globes, seis BAFTAS (Prémios da Academia Britânica de Cinema e Televisão) e dezenas de nomeações.
A par destes, foi condecorada Dama Comandante da Ordem do Império Britânico (DBE), em 1990. No entanto, podia ir a quase todo o lado sem ser reconhecida, o que adorava.
Até entrar em Downton Abbey.
“Downton Abbey” torna-a uma celebridade
A série narra a trajetória do conde de Grantham (Hugh Bonneville), da sua família aristocrática e dos seus empregados, todos habitantes de uma gigantesca casa senhorial. Parecem viver parados no tempo, enquanto o mundo à sua volta, entre 1912 e 1925, muda a grande velocidade. Maggie Smith é Violet Crawley, condessa viúva de Grantham, opinativa, sarcástica e teimosamente vitoriana, inebriando-nos com a sua magistral interpretação.
Após a estreia no Reino Unido, em 2010, e um ano depois nos EUA, a série teve seis temporadas de sucesso. A estrela de destaque, desde o início, foi Smith,
“É ridículo. Tinha levado uma vida perfeitamente normal até ‘Downton Abbey’. Ninguém sabia quem eu era’”, disse em várias entrevistas que deu.
Professora McGonagall de “Harry Potter”
O mais próximo que a atriz tinha chegado de tal visibilidade foi com os filmes Harry Potter. Maggie Smith foi Minerva McGonagall, a severa, mas destemida professora da Escola de Hogwarts, em sete dos oito filmes, desde o primeiro, Harry Potter: A Pedra Filosofal (2001) a Harry Potter: As Relíquias da Morte – Parte 2 (2011).
McGonagall, que usava vestidos de gola alta estilo vitoriano e o cabelo penteado para cima, sob um chapéu de bruxa alto e preto, era uma presença marcante no ecrã. No entanto, a veterana não se via constantemente perseguida pelo público, exceto pelas crianças, o que achava ternurento.
Durante as filmagens de Harry Potter e o Enigma do Príncipe, foi diagnosticada com cancro da mama e, apesar das sessões de quimioterapia, insistiu em continuar as filmagens.
“Não fiquei exatamente nervosa. No fundo estava, mas demorei a perceber que era sério. Há uns anos, já tinha sentido um caroço e fui levada para o hospital, mas era benigno, então presumi que este também seria”, comentou a atriz na época. “Foi difícil quando descobri que não era, mas o tratamento foi tão rápido que nem tive tempo para pensar em nada.”
Vida cheia
Margaret Natalie Smith nasceu em Ilford, Inglaterra, uma cidade no leste de Londres, a 28 de dezembro de 1934. O pai, Nathaniel Smith, era médico patologista de saúde pública, e a mãe, Margaret Hutton Smith, era uma secretária nascida na Escócia.
Quando Maggie tinha 5 anos, a família mudou-se para Oxford, onde o pai leccionava. Depois de estudar na Oxford School for Girls, juntou-se à recém-formada companhia de teatro Oxford Playhouse e estreou-se como atriz em Twelfth Night (1952), apesar de a sua avó lhe dizer que não era bonita o suficiente para ser bem sucedida na profissão. Trabalhou durante toda a sua vida e com enorme sucesso, contrariando o vaticínio da avó.
Em 1967 Maggie casou-se com Robert Stephens, com quem teve dois filhos, Chris Larkin, e o também ator Toby Stephens, e de quem se divorciou após sete anos de casamento. Em 1975 casou-se de novo, com o dramaturgo Beverley Cross, e ficaram casados até a morte dele, em 1998, devido a problemas cardíacos. Os dois artistas conheceram-se quando a atriz tinha 18 anos e ele estava casado.
Maggie Smith, a grande dama do palco e do ecrã, morre aos 89 anos