Um encontro na boutique Dior para a apresentação do livro Living Beautifully In Paris, de Mathilde Favier, foi o pretexto perfeito para uma conversa com a atriz Isabel Abreu, de 46 anos, sobre beleza e a passagem do tempo, sobre os filhos, Tiago, de 22 anos, e Maria, de 19, da sua relação com o realizador Tiago Guedes, sobre encontros e a descoberta de pequenos prazeres quando se passa mais tempo a viajar pelo mundo do que em casa.
– Esta foi uma manhã para falar sobre o belo?
Isabel Abreu – Mais do que isso, falámos sobre o humano. Este livro, para mim, foi uma surpresa. Não fazia a menor ideia o que seria e como iria ser esta apresentação e deparei-me com alguém a dizer muito daquilo em que acredito e que tem a ver com fazer o que se ama, com o facto de que, se os nossos olhos virem o belo, o coração ficará mais belo, a importância da empatia e da partilha, do saber abraçar, comover, de sermos livres.
– São afirmações que seguem uma linha contrária aos que pensam que a moda é fútil.
– Não consigo encarar nada, nem a moda, como algo fútil. As pessoas que fazem parte da minha vida nesta área são alguém que amo profundamente, as marcas que fazem parte do meu percurso transformam a minha pele. Tudo gira à volta das relações que crio com outros. Isso para mim é o mais importante, porque acredito que o que acabamos por levar daqui são os momentos e as pessoas. Para mim, o que envolve moda são sempre trabalhos de cumplicidade e nunca de futilidade. A beleza física passa, mas perdura noutros aspetos. Nós envelhecemos, já não é aquele belo de outros tempos, mas ainda assim existe, não pelo rosto ou corpo, mas porque faz sentido cá dentro.
– Com o passar da idade sente que a essência se sobrepõe à beleza física?
– Sem dúvida, e é essa essência, essa verdade, que vai ou não conquistar o mundo. A beleza do eu, e não do físico, é muito poderosa. É isso que me interessa como pessoa e como atriz.
– Envelhecer, em algum momento, foi perturbador para si?
– Absolutamente nada. Nunca me incomodou o passar do tempo. Sempre que tive grandes tristezas na minha vida disse: “Não faz mal, fica nos olhos e para cinema serve.” As rugas, as cicatrizes, são as nossas memórias, a nossa identidade, o que somos. Eu aceito-me e não consigo fugir disso. Não é uma verdade absoluta, cada um saberá como se sente melhor, é a minha verdade. Gostava muito de envelhecer no genuíno, no belo e na alegria. A minha questão com o envelhecimento é não ficar amarga com a vida. Gostava de viver até aos 170 anos com paixão e chama até ao fim. As rugas vão-nos sempre lembrando por que estão lá e que o tempo passou, e ainda bem que assim foi.
– Nessa caminhada, houve também o crescimento dos seus filhos. Seguiram os vossos passos ou escolheram outros caminhos?
– Seguiram, de alguma forma. Estão os dois ligados a áreas artísticas e de criatividade. Passou no ADN. Parece que lhes transmitimos essa nossa paixão. Não tenho a menor dúvida de que é um caminho difícil, mas hoje em dia nada é fácil, e o mais importante é descobrir o que se quer mesmo fazer. Digo isto não só aos meus filhos, mas também quando dou aulas. Eu gosto mesmo muito do que faço. Também gostava de ter o poder de curar e tento, através do meu trabalho, curar almas. A partir do momento em que gostamos daquilo que fazemos, vamos ser felizes. E hoje pode ser uma coisa e amanhã outra e não ter medo da mudança. O que quero é que os meus filhos sejam felizes. Nós evoluímos, portanto as coisas não têm de estar estagnadas.
– Quando é que a vamos poder ver a trabalhar em Portugal?
– Estou a fazer muito teatro, mas fora, neste momento. Vou para Paris com Hamlet, da Christiane Jatahy. Depois vou fazer um espetáculo da Mathilde Mounier na Suíça, a seguir vou para Nova Iorque, com Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, e para a China, com O Cerejal. Aceitei estas digressões e vou andar pelo mundo, o que é muito bonito. Tenho até uma espécie de hobby quando estou fora, que é encontrar restaurantes portugueses e estar com pessoas que tiveram de sair de Portugal por alguma razão. Tem sido altamente enriquecedor.