Carolina Ortigão, de 61 anos, é conhecida pelo público como a mãe do ator Lourenço Ortigão, mas é muito mais do que isso. Começou a trabalhar em televisão há 30 anos, com rubricas de social no TVI Jornal, apresentado por Artur Albarran. Fez decoração de interiores, participou numa novela e ainda apresentou, ao lado de Nuno Graciano, o programa Apanhados na SIC. Por isso, o convite para fazer parte do programa Ponto Sem Nó, da SIC CARAS, foi aceite com alegria, mas não sem antes ter a certeza de que teria o apoio da família.
O marido, Mico Ramalho Ortigão, de 68, e os três filhos de ambos, Duarte, de 40, Tomás, de 39, e Lourenço, de 35, são as pessoas mais importantes da sua vida e os primeiros a quem recorre sempre que precisa de opiniões.
– Como está a correr o regresso ao pequeno ecrã?
Carolina Ortigão – Muito bem e sinto que vai melhorando de programa para programa.
– Tantos anos depois, o chamado bichinho da televisão continua vivo…
– Sim, é verdade, é um bichinho que sempre existiu. Comecei a trabalhar como apresentadora de três rubricas de social, dentro do TVI Jornal, a convite do Artur Albarran. Apresentava o In & Out, o Charme e o Cusquices. Na altura, íamos a todas as festas e eventos e eu fui a primeira pessoa a apresentar programas de social na televisão. Há 30 anos o social era muito diferente do de hoje. Depois disto, a TVI não me colocou como efetiva, eu saí, na altura em que também mudou a direção, e na verdade fiquei em casa à espera que me chamassem, como se isso fosse possível. Nunca fui à luta. Fiquei muito magoada e comecei a duvidar das minhas capacidades. Na altura também já tinha três filhos e outras prioridades.
– Mas não ficou parada.
– Não sei estar parada. Fiz inúmeras coisas na vida depois disso. Fiz decoração de interiores, tive lojas, dediquei-me às artes – adoro pintura –, fiz um curso de teatro. Gosto muito de fazer cursos. E mais tarde ainda voltei à televisão e fiz os Apanhados com o Nuno Graciano e fiz um pequeno papel na novela A Lenda da Garça. Depois, os anos foram passando, eu envelhecendo, e achei que a televisão não voltava a entrar cá em casa. Depois tive a alegria do meu filho Lourenço se tornar um grande ator e vivi através do sucesso dele. Quando o Lourenço iniciou a sua carreira, a televisão já nem fazia parte dos meus planos e este convite que me fizeram agora para o programa que estou a fazer foi completamente inesperado. Tudo começou por causa de uma brincadeira minha nas redes sociais, em que fiz um vídeo com muitas visualizações, fui falar disso por graça ao programa do João Baião e o resto sucedeu-se. Nunca procurei a fama, mas sempre gostei de desafios, e realmente sinto-me muito bem em televisão, mas se não correr bem, tudo certo também.
– Parece ser uma mulher que se reinventa sempre que necessário.
– Julgo que sim, sou a mulher dos sete ofícios e tenho jeito e gosto de muitas coisas. Gosto de cozinhar, de pintar, de dançar, de representar, de tudo o que acabe em “ar” e que respire leveza. Gosto de cor, de tudo o que me faça viver com alegria. Ainda bem que não tive uma carreira sólida, porque me permitiu seguir vários caminhos. E, sobretudo, a minha prioridade foi criar os meus filhos, ser mãe, foi mesmo para isso que nasci e é isso que gosto de ser. Ser mãe de família. E que privilégio ter tido tempo para os acompanhar, mas em simultâneo para fazer outras coisas! Isto só foi tudo possível porque sou casada com um homem muito estável e seguro, que gosta muito de mim e de quem eu gosto muito. Só com a equipa maravilhosa que somos os dois é que tudo isto tem sido possível. E depois, temos três filhos maravilhosos, que nos deram três netos, e hoje olhamos um para o outro e dizemos: “Que bom, quem diria que a vida nos daria isto.” E depois, chego aos 61 anos e sinto que ainda tenho tanto para viver…
– Isso porque não se acomoda.
– Para mim, parar é morrer. Sempre fui a irreverente no meu grupo de amigos, a extrovertida. Sou muito alegre e tem de haver alegria ao meu lado, não concebo a vida de outra forma. Tem de haver sentido de humor. Também tenho problemas, mas a minha leveza e espiritualidade ajudam-me a viver com mais facilidade e alegria.
– Essa alegria é transversal aos vossos filhos e agora netos?
– Sim, acredito que sim. Mas o que quisemos passar aos nossos filhos primeiro do que tudo foi um espírito de amizade. Os nossos três filhos são muito diferentes uns dos outros, mas são muito amigos, conferenciam entre eles sobre coisas importantes da vida e isso é ótimo. Os mais velhos foram sempre muito protetores do Lourenço. Ensinei-lhes sempre que ninguém vai para a cama zangado e que não se amua, porque é algo que não serve rigorosamente para nada. E acho que funcionou.
– Esse é também o segredo para 41 anos de casamento?
– Com toda a certeza. E eu sou muito bruta a falar e o meu marido um senhor [risos].
– A Carolina não tem medo das palavras.
– Não, nunca tive. Digo o que tenho a dizer e assumo as consequências disso. Mas depois não sou rancorosa e não tenho nenhuma dificuldade em pedir desculpa, aliás, odeio ficar com a razão, acho que a razão não serve para nada. O bom de chegarmos à minha idade é também a maturidade de não nos preocuparmos com as pequenas coisas. Sinto que estou numa fase excelente da minha vida. Gosto muito de viver com intensidade, mas também com serenidade e contemplação.
– Uma fase da vida que também lhe permite ser avó com mais tranquilidade.
– Completamente, eu desfruto imenso dos meus netos e eles de mim. Ser avó é maravilhoso, e quanto mais velhos os netos ficam, melhor é, porque ganhamos mais proximidade e intimidade. Sou muito afetuosa com os meus netos e eles comigo. Somos de beijos e abraços. Divertimo-nos muito juntos e sei que eles são o meu legado.
– Passou por um processo de emagrecimento. Foi uma necessidade para também ter mais saúde?
– Sempre tive essa vontade. Não há nenhum gordo que goste de ser gordo, não inventem. Foi sempre uma luta inglória que vivi. Sempre fiz ginástica, à séria, e nunca consegui perder peso. Tomei de tudo, fui aos médicos todos, fiz várias cirurgias para pôr bandas gástricas e nunca consegui perder peso. Ser gordo não é cómodo, não é simpático, porque vamos a uma loja e nunca há nada para o nosso tamanho. Finalmente, consegui descobrir um endocrinologista que com as novas formas que há para emagrecer me ajudou a perder peso. Comecei há uns dois anos e meio e já perdi mais de 30 quilos. Agora, sim, nota-se essa perda.
– E está a ser fácil manter o peso que tem atualmente?
– Sim, desde que feche a boca e faça a medicação [risos]. São cuidados que terei de ter para o resto da vida. A obesidade é uma doença.
– E sente-se diferente?
– Não, não me sinto diferente no meu íntimo, mas sinto-me mais bonita e as pessoas fazem questão de me mostrar e dizer isso. Sinto que valeu a pena a minha luta. Confesso que agora, enquanto as minhas amigas estão todas com mais peso por causa da menopausa, eu estou com menos 14 quilos do que quando me casei e isso dá-me um certo gozo [risos]. Não é por maldade, mas dá-me algum gozo. As minhas amigas estavam sempre a falar de dietas à minha frente, quando eu já tinha mais 30 quilos do que elas. A minha vida toda foi assim e elas nem se apercebiam que aquelas conversas me magoavam. A história do meu peso acabou por, de certa forma, definir a minha vida, mas também me deu outras ferramentas. Sempre me apresentei socialmente sem complexos da minha gordura, mas eles existiam.
Maquilhagem: Inês Abreu e Lima
Agradecemos a colaboração de Why Not Store