Ator consagrado, com provas dadas no palco, cinema e televisão, e diretor do Teatro da Trindade, Diogo Infante, de 57 anos, recusa-se a baixar os braços ou a encarar um novo desafio apenas como mais um trabalho. Consistente e seguro, sabe exatamente o caminho que quer continuar a fazer e que, agora, passa pelo papel de um canalha que o diverte na novela A Fazenda, e pelo atormentado Tomás, na peça Telhados de Vidro, que depois de ter estado em cena em Lisboa, começou uma digressão pelo país.
O ofício que escolheu como forma de vida preenche-o e deixa-o feliz, mas é o filho, Filipe, de 21 anos, que acaba de se licenciar, quem lhe rouba o maior sorriso. “O meu filho é um ser humano muito bonito, luminoso”, disse no decorrer da entrevista.
– Integra a mais recente novela da TVI. Fale-nos sobre este trabalho que acaba de estrear.
Diogo Infante – Estamos a gravar desde setembro e parece-me que tem havido uma constante em procurar estabelecer pontos com os PALOP. Isso já foi notório noutras produções. Desta vez, o foco volta a ser a relação com Angola e é a partir daqui que nascem as várias tramas que são clássicas e têm que ver com a essência da natureza humana: a ambição, a corrupção, o poder, o dinheiro, o amor. Só que isto tudo tem agora uma roupagem fresca, no sentido em que houve um grande investimento em termos de imagem e de forma. Há também uma aposta em atores jovens, bonitos, que significam a continuação da ficção, e depois os mais velhos, onde me incluo, que sustentam os alicerces.
– Para si, o que significa este papel?
– De um ponto de vista mais pessoal, esta personagem é muito prazerosa de fazer, porque sendo um canalha, é um canalha charmoso e dá-me espaço para brincar. E eu, como ator, gosto de brincar. Estou a gostar imenso do que estou a fazer e sinto-me apreciado, respeitado, tenho espaço para exercer-me como ator. Digamos que estou numa boa fase da minha vida, na qual sinto que o meu trabalho é reconhecido.
– Pensa no que gostaria de fazer no futuro ou prefere saborear o presente?
– Penso no futuro, no sentido em que preciso de programar a minha agenda e estou confiante. Tenho o privilégio de poder conciliar a atividade na televisão com o teatro. Continuo a ser responsável pelo Teatro da Trindade e a junção destes dois universos deixa-me apaziguado. No fundo, gosto de saborear o presente com um pé posto no futuro.
– Estes dois pilares são necessários para o seu equilíbrio enquanto ator?
– São, apesar de me darem muito trabalho. É uma gestão complicada e estou numa fase particularmente cansativa, pois estou a conciliar a gravação da novela com um espetáculo à noite, mas faço-o com um sorriso nos lábios. Terminando a peça, já fico com mais de tempo para respirar e assumir as outras responsabilidades que tenho como programador. Mas estou bem assim, feliz e expectante. Estou habituado a isto, não me escuso. Dou o melhor de mim e espero que seja suficiente.
– Já deu por si a fazer um balanço deste seu percurso tão cheio?
– Não tenho tempo para fazer balanços, porque estou sempre a pensar no que ainda vou fazer e não no que já fiz. Tenho orgulho de muitas coisas que fiz, outras correram muito mal, mas todas fizeram parte do meu crescimento. Balanços, talvez quando chegar aos 80 e fizer o Rei Lear. Agora, ainda me sinto muito ativo, dinâmico, tenho muitos projetos, ando a correr de um lado para o outro. Acabei de vir de um treino de ténis para aqui, porque me dá uma picazinha e me faz bem à alma.
– É importante ter estes pontos de fuga?
– Sem dúvida. Tento encontrar esses equilíbrios, porque entendo que é bom para a minha saúde física, mas sobretudo bom para a minha saúde mental. Estou sujeito a muitas pressões e, quanto maior é a responsabilidade, maior a expectativa, não só para outros como para mim próprio. E encontro uma forma de viver a vida em que procuro sempre ver o lado positivo das coisas, o copo meio cheio.
– A vida de um ator nunca é fácil, muito menos linear.
– A natureza do trabalho do ator é intermitente e depende do mercado de trabalho e das ofertas. Não me considero um bom exemplo, porque como também me tornei produtor muito cedo, comecei a criar as minhas próprias oportunidades, não queria ficar refém de que o telefone tocasse. Neste momento, tenho um contrato com a TVI, que me dá estabilidade, e com a INATEL, detentora do Teatro da Trindade. Não vivo dessa alternância de ter trabalho e de não ter trabalho, não me posso queixar. Sinto-me absolutamente privilegiado: estou onde quero estar.
– Imaginava estar no lugar em que se encontra hoje quando chegou a Lisboa para estudar no Conservatório?
– Não, de todo. Quando vim para Lisboa, tinha um sonho e lembro-me de me dar a mim próprio cinco anos para me safar e isso significava sobreviver, porque há 30 anos o mercado ainda era mais complicado. Já na altura era muito pragmático e a verdade é que, no final do primeiro ano do Conservatório, comecei a trabalhar. Que me lembre, nunca tive um período sem trabalho, a não ser propositado, um ou dois meses para descansar. Tive sorte, mas também trabalhei muito para isso.
– Sempre com o apoio da família?
– Sempre. Quando comecei, a minha mãe e a minha avó deram-me todo o apoio e força. A minha atual família, o Rui [Calapez, o marido] e o Filipe [filho], também o fazem. Todos me deram e dão espaço e respeitam aquilo que faço e não é fácil, porque trabalho em horários esquisitíssimos. Fui recentemente à entrega do diploma de licenciatura do meu filho. Queria muito lá estar e achava que não ia conseguir por causa das gravações, mas fui e deixou-me muito feliz poder testemunhar esse momento único, mas às vezes falham-me esses momentos.
– O seu filho aceita bem as ausências?
– Sim, claro. Sempre compreendeu, até porque cresceu assim. Desde pequenino que sabe que esta é a minha profissão e é um grande apoio para mim.
– Falou na licenciatura do Filipe. Qual foi a sua escolha?
– Licenciou-se em Ciência Política e Relações Internacionais e está a fazer o mestrado fora do país.
– Foi difícil vê-lo partir?
– Não. Ele desde pequenino que gosta muito de viajar. Viajou connosco para todo o lado, já foi a todos os continentes. Lembro-me que, com 12 anos, foi para Londres tirar um curso intensivo de verão. Eu, no aeroporto, a chorar e ele a olhar para trás todo contente. Habituei-me e fico muito contente por ele, até porque no ir, há o ir e voltar, e ele volta sempre com muita saudade, com muito carinho. Entretanto, falamos todos os dias por videochamada e, vejo-o, ele conta-me as coisas dele. Não é uma relação ausente. O meu filho está longe fisicamente, mas continuamos muito próximos.
– É já um jovem adulto com os seus sonhos.
– Vamos ver onde é que os sonhos o levam. A escolha é dele e terá sempre o meu apoio incondicional. Só quero que o meu filho seja feliz e se possa exercer da mesma forma que eu tive possibilidade de fazer, que seja algo que o deixe realizado.
– Foi a mensagem que lhe passou: que fosse atrás do que o fizesse feliz?
– Evidentemente. Na altura de escolher o curso, falámos, discutimos, apresentei-lhe propostas, andei à procura de cursos para o ajudar, mas no limite a escolha foi dele. Insisti para ele tirar o mestrado, confesso, porque acho que uma licenciatura, hoje em dia, é pouco. A vida é um mundo de oportunidades, cabe-lhe agora a ele lutar por elas. Qualquer pai fica babado ao ver um filho fazer o seu caminho bem. Eu não sou diferente.
– Dizia recentemente que lhe saiu a sorte grande com o filho que tem.
– Sem dúvida. O meu filho é um ser humano muito bonito, luminoso, muito em contacto com a sua natureza, com a sua realidade. É alguém que me parece bem resolvido. Ele é luz e não se pode pedir mais. Claro que há dias maus e que há discussões, conflitos como com todos os pais e filhos, mas sinto que aquilo que o meu filho trouxe para a minha vida foi tão incrível que só posso estar grato. É uma permuta contínua, porque não lhe sei ensinar tudo. Não tenho as respostas todas.
– Ser pai era uma meta importante de concretizar na sua vida?
– Absolutamente. Se não fosse, não me teria sujeitado a um processo de seleção, a um período de espera que não sabia quanto tempo iria durar. O processo de adoção é complexo, tem poucas certezas, e quando nos sujeitamos a isso temos de estar muito motivados e conscientes das implicações, porque não estamos a escolher crianças em catálogo. Estamos a escolher crianças que têm dificuldades, que passaram por situações horríveis, que estão numa situação de adotabilidade porque alguém não as quis, abandonou, maltratou. Tive a criança que mereci e estou muito feliz com isso. A minha experiência é muito bonita.
– Já deu por si a pensar em netos, embora o seu filho ainda seja muito novo?
– Quero muito ter netos, mas ainda é cedo. Gostava de aumentar a família. Em cada fase da vida temos de aproveitar aquilo que ela nos dá e à medida que vamos envelhecendo – já começo a olhar para os 60 – apreciamos coisas diferentes.
– Tem medo de envelhecer?
– Não vale a pena lutar contra a passagem do tempo, é uma inevitabilidade, podemos é tirar partido o máximo de cada fase da vida, senão vamos estar sempre infelizes e a azucrinar a cabeça aos outros, porque estamos zangados connosco. Não quero isso, portanto, cuido de mim, tendo uma alimentação saudável, fazendo exercício. Estou atento para me manter ativo e saborear isto enquanto der. O que é mais assustador na ideia de envelhecer é perdermos faculdades. Quero chegar aos 75 ainda a bater bola num jogo de ténis e com gana para ganhar.
– Como será o seu Natal?
– Em casa, nós os três mais os amigos que se juntam a nós. O Natal é sempre uma oportunidade para comermos, bebermos, confraternizarmos. Cada vez mais deixamos cair esta coisa das prendinhas, que só significam um consumismo desenfreado, que não faz sentido nos tempos que correm, com as dificuldades, as guerras e tudo o que se vive. Adoro dar, mas não gosto do caráter de obrigatoriedade que se deu a estas datas. Lá em casa, combinámos que não há prendas. O Filipe também já está crescidinho, portanto logo lhe dou uma prenda boa, uma coisa que queira ou faça falta, mas não tem de ser naquele dia. Ligo, sim, à árvore de Natal, porque gosto das decorações, das luzes. Faço-a no exterior. O Natal é a festa da família, dos amigos, o termos tempo para o outro, porque tudo o mais parece-me folclore e artifício.
Produção: Sandrina Francisco, assistida por Camila Sofia e Alana Adolfo
Agradecemos a colaboração de Pestana Cidadela Cascais e Koati Store