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Nasceu em Caracas e cresceu na Amazónia venezuelana. Filha de um alemão e de uma italiana, Eglantina Zingg tornou-se conhecida como apresentadora da MTV Latinoamérica, foi modelo da agência Ford, tendo desfilado nas principais passerelles das capitais da moda, estudou na Universidade de Yale e na London Academy of Music & Dramatic Art, trabalhou como atriz e produtora, mas a filantropia é, definitivamente, a sua missão de vida, sendo a defesa dos direitos das mulheres e crianças a sua grande bandeira.
Fundadora da Goleadoras, uma organização sem fins lucrativos que promove a igualdade de género através do futebol, utilizando o desporto como uma ferramenta de empoderamento para raparigas em comunidades vulneráveis, a empreendedora e ativista social, de 43 anos, esteve em Portugal para dar a conhecer este seu projeto, apoiado por figuras conhecidas como Ricky Martin, a princesa Martha Louise da Noruega, Carolina Herrera, entre outros, que acaba de chegar ao nosso país através da Fundação Sporting.
– Quer contar-nos como é que o desporto surge na sua vida?
Eglantina Zingg – O meu pai é piloto, e eu passei quase toda a minha infância, até aos 12 anos, no meio da selva amazónica, na Venezuela. O meu único brinquedo era uma bola de futebol. Os meus vizinhos eram comunidades indígenas. Não tinham a mesma aparência, não falavam a mesma língua e muito menos tinham as mesmas tradições. Mas, através daquela bola de futebol, criámos laços de amizade, de troca, de tradição, de diversão, de respeito e de conhecimento das origens, da cultura de cada um. Aquela bola de futebol ensinou-me que temos muito mais coisas em comum do que aquilo que nos divide. Percebi que aquela bola tinha esse poder de unir as pessoas, era catalisadora. Mais tarde, quando fui para a escola, como era rapariga, não me era permitido jogar futebol ou outros desportos, à exceção de voleibol ou ténis.
– Quando é que surge, então, a ideia de utilizar o futebol como uma ferramenta para o empoderamento feminino, através do projeto Goleadoras?
– Comecei a trabalhar na televisão, num programa da MTV. Na altura, era um dos maiores e mais importantes canais, especialmente para os jovens adolescentes, amantes da música. Passava todos os dias na América Latina e nos Estados Unidos, tinha 58 milhões de espetadores, a Venezuela, nessa altura, começa a atravessar uma crise política e a decomposição social começou a dividir o país. Eu tinha, através daquele programa, uma plataforma para comunicar com jovens que estão a desenvolver as suas ideias e a lutar pelos direitos humanos. Era uma grande oportunidade que tentava encontrar ali um ponto de união, e foi inevitável recordar aquela bola de futebol. Comecei a telefonar para as Nações Unidas e o secretário-geral da altura, Ban Ki- moon, deu-me oportunidade de ver como o futebol e a música são um grande catalisador para unir comunidades, influenciar o desenvolvimento, educar e inspirar-se nos objetivos de desenvolvimento sustentável e contribuir para a paz. Nessa altura descobri também a cruel realidade de como o desporto mais popular do mundo ainda não é acessível a todas as raparigas. E pensei: “Como podemos falar de paz, progresso e educação, se 50% da população, que é constituída por raparigas e mulheres, é excluída, desde tenra idade, do desporto mais popular do mundo?”. Não fazia sentido. Por isso decidi fundar esta organização sem fins lucrativos nos EUA, com a ideia de utilizar o futebol como catalisador e ferramenta para a paz. O nosso primeiro projeto foi no Haiti, depois foi na Colômbia e Venezuela, e estamos agora a chegar à Europa, através da Fundação Sporting, envolvendo jovens do Centro Social da Musgueira.
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– É essa, acredita, a sua missão na vida?
– Tem sido, sim. Acho que criei uma metodologia forte com uma grande comunicação. Não consigo reunir uma solução, é apenas uma semente que estou a plantar. Sei que não vou mudar o mundo, mas, ao fazer a minha parte, após 13 anos, consigo ver que fiz alguma diferença, ensinado a estas raparigas, em tenra idade, que podem sonhar em tornar-se em alguém, numa referência. Não é por acaso que as mulheres representadas na lista Fortune 500 atribuem parte do seu sucesso ao facto de terem praticado desportos de equipa em tenra idade. Criámos uma metodologia específica que promove e incute diretamente nestas jovens, através da parte divertida e intuitiva do jogo, valores que serão úteis dentro e fora do campo. A resiliência, a camaradagem, o projeto de vida. E também as leva a perceber que há mulheres que mudaram o mundo, como Amelia Earhart ou Frida Kahlo, e que elas podem sonhar em ser essas mulheres. Hoje em dia há muita falta de autoconfiança. O futebol será um instrumento para nivelar o terreno, quebrar estereótipos e dar às raparigas valores e ferramentas que as ajudem a desenvolverem-se na vida.
– E quais são as suas expectativas em relação às raparigas em Portugal? O que é que espera que conquistem?
– O mundo! Para mim, é uma grande oportunidade trabalhar com a Fundação Sporting, porque mostra que o nosso trabalho tem tido esse impacto. Quando damos essa capacitação a uma rapariga, ela não só se transforma a si própria, como também transforma as suas famílias, as suas comunidades e, em última análise, o país e o mundo que queremos ver, de uma solidariedade mais respeitosa e inclusiva, e que todos tenham uma verdadeira oportunidade de ter uma vida digna, seja o que for que escolham ser. Trazer o nosso projeto para Portugal dá-me uma satisfação incrível por saber que o desporto e o nosso programa não têm fronteiras, limites ou língua, e muito menos género, por isso é uma grande oportunidade.
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– Já conhecia Portugal?
– Sim, já estive em Portugal muitas vezes e adoro este país. Na altura da pandemia passei aqui a maior parte do tempo com uma amiga minha, Vanessa Arelle, da Welcome Chaos, que foi quem nos apresentou ao Sporting. Ia até mudar-me para cá, mas uma senhora ficou com o meu apartamento [risos]. O povo português é muito amável, muito direto, muito trabalhador. Não se compara a nenhum outro lugar na Europa. Este país tem tudo e um grande potencial de mulheres fortes e mulheres no futebol em geral. Estou ansiosa por ver os resultados.