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Tal como em 2020 e 2021, Raul Minh’alma foi o escritor com mais livros vendidos em Portugal em 2024. A CARAS conversou com o autor, que na verdade se chama Pedro Miguel Queirós e que aos 32 anos soma vários êxitos literários. Para as fotografias, o romancista e poeta fez questão de posar com a mulher, Laura Mostardinha, de 23 anos, e as filhas do casal, Alma, de 2 anos, e Belém, de 9 meses.
– Como é que um engenheiro mecânico de formação se torna um fenómeno da literatura nacional?
Raul Minh’alma – Sempre estive ligado às artes, como o desenho, a música, a representação ou a escrita. Consciente que estava da instabilidade e incerteza que é viver da arte, optei por escolher opções académicas mais seguras, no entanto, nunca deixei de alimentar o meu lado criativo e do sonho de viver da arte. A prova disso é que enquanto tirava o meu curso de engenharia escrevi e publiquei quatro livros. Curiosamente, no dia em que apresentei a minha tese, em outubro de 2016, saiu o livro Larga Quem Não Te Agarra, que foi imediatamente um sucesso e me permitiu começar logo a viver da escrita. Foi um sinal claro da vida de que o meu caminho não seria a engenharia.
– Qual a receita do sucesso?
– Acredito que seja uma receita complexa, com muitos ingredientes e métodos de confeção minuciosos. No entanto, de uma forma resumida, é fazer-se um bom livro e promovê-lo devidamente. O que ninguém conhece, ninguém compra, por muito bom que seja. Um dos segredos é, portanto, escrever durante três meses e promover durante nove. Um escritor que queira vingar neste meio não se pode dar ao luxo de escrever e descansar. E eu estive sempre consciente disso. Nunca esperei que fizessem o trabalho por mim. É por isso que há dez anos andava a colar, eu mesmo, cartazes nas paragens de autocarro a promover uma apresentação do meu livro na biblioteca local.
– A paixão pela escrita começou cedo. O que o levou a escrever os primeiros poemas?
– Um desgosto de amor. Somos todos poetas quando sofremos por amor e eu, pelos vistos, levei isso para um sentido literal. Tinha muitas angústias que precisava expressar e a escrita, na altura, acabou por ser um meio para atingir esse fim. O bichinho começou a ganhar forma depois de ter partilhado uma série de poemas num blogue e os meus colegas de turma (na altura andava no 12.º ano) começarem a falar sobre eles como se de um autor conhecido se tratasse. Senti-me importante, relevante, notado, e isso deu-me motivação para continuar.
– Quais os poetas e escritores que mais o inspiram ou fascinam?
– Fernando Pessoa. Foi por causa dos seus poemas, que estudávamos nas aulas de Português, que comecei também a escrever. Sempre admirei, e me identifiquei, com as diferentes camadas, identidades, personalidades que o habitavam. Ele dizia que tinha nele todos os sonhos do mundo e eu sempre achei que tinha em mim todas as pessoas do mundo. Hoje dou-lhes voz através das minhas histórias.
– E sua musa é…
– A minha mulher, claro. É o meu pilar, a minha melhor amiga, companheira e conselheira. É a minha maior fonte de inspiração e admiração.
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– É a ela que mostra primeiro a sua obra?
– A primeira leitora e revisora das minhas obras é a minha mulher e só depois a minha editora. Aliás, quando estou num processo de escrita, a minha mulher lê e revê cada capítulo do livro à medida que os vou escrevendo. Dá-me a opinião dela do ponto de vista de leitora e esse para mim é um feedback fundamental. Fá-lo também porque é algo que ela adora. O que para mim é fantástico.
– Como resumiria o seu novo romance, “Fomos Mais do Que Um Erro”?
– É uma história de amor comovente, imprevisível e com um final “à Raul Minh’alma”.
– Já afirmou que a maioria dos seus leitores são mulheres entre os 30 e 40 anos e depois as dos 20 aos 30. Mantém-se este perfil?
– Tenho a sorte de ter um leque bastante alargado de faixas etárias, mas o meu público principal são, sem dúvida, mulheres com 30, 40 anos. Penso que seja por serem pessoas que se identificam mais com as temáticas que abordo. Embora sejam livros de ficção, são livros onde procuro sempre orientar as pessoas, especialmente aquelas que têm algum tipo de dor emocional que precisa de ser trabalhada e curada, pelo que uma pessoa que já tenha mais experiência de vida e bagagem vai mais facilmente identificar-se.
– Também disse que os leitores masculinos ficam abaixo dos 10%…
– Escrevo romances, histórias de amor e, estatisticamente falando, não é o género literário favorito do público masculino. Penso que seja essencialmente essa a razão. No entanto, aquilo que escrevo serve tanto para homens como para mulheres. Até porque são histórias de amor onde há sempre um homem e uma mulher. Umas vezes a carga emocional está mais do lado do personagem masculino, outras do lado da personagem feminina. No final, as lições que os meus livros passam são sempre universais e aplicam-se a qualquer género.
– Gostaria de ver adaptada alguma das suas obras a um meio audiovisual (cinema ou televisão)? E se pudesse escolher qual seria? E quais atores seriam o par romântico perfeito?
– Penso que seja o sonho de qualquer escritor e eu não sou exceção. Há histórias minhas mais preparadas para serem adaptadas do que outras, mas todas elas são muito cinematográficas. Gosto que as pessoas que leem os meus livros consigam visualizar a cena na sua cabeça como se de um filme se tratasse. A escolher um meio seria cinema, claro, e a escolher um par romântico, o perfil mais comum seria um José Condessa e uma Bárbara Branco. Sei que são um ex-casal na vida real, mas consigo imaginá-los como protagonistas em vários filmes de livros meus.
– Que semelhanças há entre a pessoa Pedro Miguel Queirós e o escritor Raul Minh’alma?
– Os dois são muito ligados à família, empáticos, conciliadores…
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– E as diferenças, quais são?
– Enquanto o Raul é mais sério e gosta de emocionar as pessoas, o Pedro é mais divertido e gosta de as fazer rir. Esta é a diferença mais visível de quem conhece a pessoa por trás do escritor. O Raul é mais romântico, sonhador e positivo do que o Pedro. Basicamente, o Pedro criou o Raul para esconder os seus defeitos, mas, como é óbvio, em casa não há capas nem máscaras, sou como sou, genuíno, imperfeito, mas real.
– Tem duas filhas ainda muito pequeninas. É um pai moderno, que faz tudo ou nem por isso?
– Faço quase tudo. Só não dou de mamar, porque não tenho como, e não escolho a roupa delas porque não tenho jeito. Aliás, nem a minha escolho. De resto, faço tudo, claro. Tenho a felicidade de ter as minhas filhas e a minha mulher comigo 24 horas por dia. Estamos em casa os quatro o dia todo, os dias todos, e isso é uma das muitas coisas boas que a minha carreira me permite ter. Acompanho cada momento das minhas filhas e naturalmente que intervenho em todas as tarefas, etapas e momentos, incluindo os respetivos partos.
– Já dá para perceber as diferenças entre a Alma e a bebé Belém?
– São substancialmente diferentes, até a própria gravidez foi bastante diferente. A Alma foi sempre mais pacífica do que a segunda. A Belém deu-nos piores noites de sono, embora agora esteja muito mais tranquila. Por outro lado, a Alma está agora na fase dos 2 anos e está a ser um mini-terror em casa, mas vamos dando conta do recado. Elas têm menos de um ano e meio de diferença, é desafiante, mas muito especial.
– Com quem elas se parecem mais, com o pai ou com a mãe?
– A Alma aparenta ser mais parecida, fisicamente e não só, com a mãe. A Belém parece que saiu mais ao meu lado. É o que a maioria nos diz, também.
– Aos 32 anos o que lhe falta fazer na vida?
– Sou um insatisfeito por natureza, especialmente a nível profissional, e por isso tenho ainda uma lista de objetivos para cumprir, mas irei guardá-la para mim. Se conseguir manter o que tenho na minha vida, já serei o homem mais feliz do mundo, e isso é o que importa dizer. Estou sempre a pensar no que quero e no que posso conquistar a seguir, mas sou muito grato pelo que já tenho e todos os dias, ao deitar, agradeço por isso.
– Confesse: escrever romances “best-sellers” enriquece tanto a alma como a carteira?
– [Risos] Tenho a felicidade de ser dos escritores mais vendidos em Portugal há vários anos e, também por isso, dos mais bem pagos, pelo que as minhas finanças estão bem de saúde.