Foi um momento único, raro, inesquecível. O coração batia disparado, os olhos estavam húmidos de alegria, sentia paz de espírito misturada com muita, muita emoção. Em todos estes anos de repórter fotográfico pelos quatro cantos do mundo, raríssimas vezes vivenciei momentos tão marcantes como aquelas horas passadas com uma família da tribo Himba, no noroeste da Namíbia. Foi apenas uma manhã, mas tempo suficiente para sentir um redemoinho de sensações que palavra alguma há-de conseguir traduzir. Falo do tempo em que estive numa maloca Himba, no meio do mato, e dentro dela recuei centenas de anos na linha temporal de "evolução" da espécie humana. Foi o ponto alto desta viagem à Namíbia.
No dia anterior, em Opuwo, pequena capital de uma longínqua província namibiana que faz fronteira com Angola, tinha conhecido um francês estabelecido na região há décadas que agora era dono de uma pousada. Disse-lhe ao que vinha – a tribo Himba -, com a referência explícita de que procurava algo autêntico, longe do show para turista em que alguns Himba se transformaram após terem ficado internacionalmente conhecidos, fruto de uma reportagem publicada na revista National Geographic em 2004. Recomendou-me a aldeia Himba de Epembe para conhecer uma algo verdadeiramente único. "Em Epembe apenas dormiram oito brancos até hoje", assegurou. A sugestão era irrecusável. Na manhã seguinte, bem cedo, carreguei o carro com sabão para lavar a roupa, arroz, açúcar e uma bola para os miúdos e fiz-me ao caminho.
Na estrada que seguia de Opuwo em direcção às cataratas de Epupa havia muita gente humilde a pedir boleia. Parei para oferecer boleia a algunss desses habitantes e, partida do destino, a professora Pupeza era uma delas. Pupeza dava aulas precisamente na pequena comunidade Himba de Epembe e, conhecedora da língua otjiherero falada pelos Himba, prontificou-se de imediato a ajudar nos primeiros contactos.
Segui por uma estrada secundária e fui ultrapassando as dificuldades de uma terra batida cada vez mais lamacenta, até que um riacho de profundidade considerável se encarregou de tornar impossível prosseguir viagem até Epembe… de carro. Naturalmente, decidi continuar a pé – estávamos a apenas três quilómetros. Estava a caminhar em passo acelerado quando, inesperadamente, uma mulher semi-despida apareceu vinda do meio do nada, pegou na minha mão e me levou com ela para junto da sua cabana. Em redor, havia apenas outras quatro cabanas de madeira. Era uma família Himba. Tinha encontrado exactamente o que procurava, mesmo sem chegar a Epembe. Deixei-me guiar pela mulher Himba, que me apresentou aos demais sem uma palavra em comum. Pupeza chegou depois, já eu estava dentro de uma maloca a fotografar a matriarca da família – que vivia numa cabana ligeiramente maior do que as outras – e o seu mais recente bebé, com poucos meses de vida.
Naqueles momentos lembrei-me dos muitos índios que encontrei na Amazónia. Os Himba têm genuíno orgulho no seu modo de vida, nas suas crenças e tradições, apesar de isso significar viver uma vida simples. E eu ali fiquei, naquela cabana de dois metros de raio, absorvido pela oportunidade mágica de fotografar aquela família. É por encontros assim que viajo, que enlameio as botas, que caminho dias a fio se preciso for. Quando me despedi, era um homem imensamente feliz, um fotógrafo realizado.
Depois de vivências tão fortes, tudo o resto me pareceu sem importância, injustamente sem importância. O Parque Nacional Etosha, por exemplo, é um dos redutos onde melhor se pode avistar vida selvagem nesta zona de África. Impalas às centenas, manadas de búfalos a correrem desvairadamente, zebras em luta territorial, avestruzes desengonçadas, girafas altivas e, claro está, os majestosos reis da selva: leões. E Swakopmund, cidade localizada um pouco mais a Sul e considerada a capital namibiana dos desportos ditos "radicais", é "apenas" o mais popular destino de veraneio do país e dispõe de inúmeros hotéis e aparthotéis na primeira linha de mar, belas dunas, bom peixe fresco, clima agradável e o ar aprumado de uma cidade alemã em pleno continente africano. Motivos mais que suficientes para justificar, por si só, uma viagem à Namíbia, mas tudo me parecia menos importante. Porque, lá no fundo, eu ainda não tinha saído daquela maloca Himba.
A Não esquecer
Como ir: De Lisboa para Windhoek existem inúmeras opções como por ex.: com Air France –
www.airfrance.com Lisboa – Paris – Windhoek ou se preferir Lisboa Amesterdão Windhoek com KLM –
www.klm.pt Depois para visitar o norte e centro do pais sugiro o aluguer de um jeep –
www.avis.com
A não Perder: A capital de Windhoek e um perca de tempo, cheia de tráfego e não merece uma visita, ao invés a norte da Namíbia (Opowo) , Devera visitar as tribos HIMBA algo único no planeta,se gosta de safaris a região de etosha oferece um excelente safari e um dia cheio para aos amantes da fotografia…
Idioma: Alemão, Inglês.
Moeda: Dólar Namibiano. Cambio em
www.xe.com ,aconselho a levar Euros ou Dólares ,visto não haver muitas caixas MB fora das grandes cidades.
Informações Úteis: Para visitar a Namíbia não e necessário visto, unicamente passaporte valido por seis meses.
Clima: 25 a 35 graus, Verão todo o ano à noite as temperaturas e de 10 a 15 graus, Humidade entre os 80 e 85 %.