O nome Gordini obriga-nos a colocar a marcha atrás até 1967. Todos os
leitores que gostam de automóveis recordam-se, certamente, das especiais do
Rali de Portugal em Sintra.
A primeira edição do Rallye Internacional TAP, o nome da altura, foi ganha
pelos portugueses Carpinteiro Albino e Silva Pereira ao volante do Renault 8
Gordini.
Vivi diversas noites de festa e convívio com alguns amigos à espera que os
melhores pilotos do mundo desenhassem as curvas da serra de Sintra.
Invariavelmente, escolhíamos a curva da água ou o salto da Peninha.
Markku Alen, Stig Blomqvist, Michele Mouton, Ari Vatanen, Timo Salonen,
Massimo Biasion, Mikola, os portugueses Mêquêpê , Walter Röhrl,
Joaquim Santos, Francisco Romãozinho ou Joaquim Moutinho, isto para referir apenas alguns dos mais
conhecidos que venceram ou aceleraram a dar gás nas curvas de Sintra até 1986.
Estava a assistir ao rali na curva da água quando chegou a notícia do
acidente com o Ford RS 200 da Diabolique. Joaquim Santos não conseguiu evitar o
contato com alguns espetadores mal colocados e do acidente resultaram três
vítimas mortais e dezenas de feridos. O Rali de Portugal nunca mais voltou a
ter uma super especial em Sintra.
No início da década de 70 a Renault decidiu dar descanso ao Gordini e
apostou no poderoso Alpine.
O regresso dos herdeiros
As míticas listas brancas estão de regresso ao Renault Twingo Gordini R.S. e
ao Clio Gordini R.S. Diferentes por pertencerem a segmentos distintos e por
serem equipados com motores com níveis de potência diferentes – bloco de 1.6
litros e 133 cavalos para o Twingo e 2.0 litros e 203 cavalos para o Clio – mas
tendo em comum as características e o espírito que fizeram com que o mito
Gordini perpetuasse até aos dias de hoje, ou seja, durante meio século!
Nascido em 1899, apenas um ano após a comercialização do primeiro automóvel
Renault, Amédée Gordini cedo provou o seu génio para a mecânica. Depois de ter
sido mecânico de monolugares, Amédée Gordini desenvolveu os R8 Gordini que
obtiveram o 1º, 3º, 4º e 5º lugar na edição de 1964 da Volta à Córsega. Dois
anos mais tarde (em 1966), a versão 1300 serviu de base ao lançamento do Troféu
Gordini, com o R8 Gordini a fazer vibrar os amantes do desporto automóvel
durante mais de uma década.
Para o renascimento do mito Gordini, a Renault recorreu com naturalidade à
sua filial desportiva, a Renault Sport.
A mega campanha de publicidade com outdoors, espalhados um pouco por
todo o lado, onde podemos ler a frase: “Deixa a tua marca”. Nos dias
que conduzi o Twingo e o Clio Gordini procurei ser discreto na forma de
conduzir e não deixar grandes marcas no asfalto! Em ambos os casos, a posição
de condução é excelente. A suspensão é durinha, como mandam as regras deste
tipo de automóveis com um cariz mais desportivo.
Confesso que gostei particularmente de tripular o pequeno Twingo Gordini
R.S. Um “kart gigante” colado ao asfalto graças às jantes em alumínio
de 17 polegadas. Caso o automóvel seja de cor branca todas as aplicações em
branco, incluindo as listas da carroçaria, passam à cor cinzento metal (o
cliente é que escolhe).
O espírito Gordini está bem presente no interior, tanto do Clio como do
Twingo. Bancos em couro preto e azul com assinatura Gordini, volante em couro
preto e azul com duas bandas brancas que marcam o “ponto 0”, uma
alavanca da caixa de velocidades com punho em azul e manete em metal com
assinatura.
Na estrada, esta nova versão confirma que a Renault Sport fez bem o trabalho
de casa. O chassis Cup do Twingo e do Clio asseguram um comportamento
dinâmico impecável e muito, muito divertido. O sistema de travagem é potente e
resistente à fadiga com estribos Brembo e discos de grandes dimensões. De
realçar que todos os Gordini R.S. recebem uma placa numerada.
A venda destes dois modelos iniciou-se no passado mês de setembro. O Twingo
Gordini R.S. está disponível por 21.500 euros e o Clio Gordini R.S. por 29.950
euros.