Economista, com um MBA tirado nos EUA e 20 anos de experiência no mercado financeiro, Sílvia Almeida Taveira começou a interessar-se pelo lado comportamental e psicológico da nossa relação com a comida, até porque aprendeu há muito tempo que se pode pagar um preço alto se não escutarmos os sinais de alarme que o corpo nos dá. Há quatro anos criou o blogue Glow Chef, onde partilha tudo o que aprendeu sobre alimentação saudável, de modo a ajudar pessoas que, como ela, têm vidas profissionais exigentes e sem muito tempo para pesquisar receitas ou fazer pratos complicados. O ano passado, a filha do arquiteto Tomás Taveira e da química farmacêutica Amarílis Cristina juntou ao seu currículo o curso de Health Coaching do Institute of Integrative Nutrition, que a tem ajudado a partilhar com quem a segue algumas dicas preciosas. Foi já depois de devidamente maquilhada pela filha, Inês Almeida, de 20 anos, que Sílvia abriu as portas de sua casa para nos falar deste seu projeto.
– O health coach nasceu daquele que será um dos maiores desafios das mulheres, o controlo do peso?
Sílvia Almeida Taveira – Das mulheres e não só, porque, na realidade, hoje vivemos muito dependentes da indústria alimentar e controlamos muito pouco o que comemos. A verdade é que aquilo que comemos não só não é nutritivo como nos está a fazer mal, daí a taxa de excesso de peso da população portuguesa ser tão elevada. A história pessoal que tenho com o peso deu-me a entender muito cedo que alimentação saudável é muito mais do que comer para engordar ou emagrecer. Fui uma criança gordinha até aos meus 18 anos. Nessa altura, aprendi a emagrecer, mas aprendi-o bem demais.
– Passou a contabilizar as calorias de cada alimento que ingeria?
– Comia muito pouco, fechava a boca. Passei anos sem comer um doce, por exemplo. E, como tinha uma vida profissional bastante exigente, era muito fácil fazer apenas uma refeição por dia. A verdade é que o corpo não funciona assim. Eu era magra, toda a gente achava que eu estava muito bem, até tinha energia, mas a determinada altura começo a ter problemas de pele, o cabelo começa a cair, e quando vou tentar fazer um diagnóstico apercebo-me de que tenho um problema de tiroide. Isto foi no início do ano 2000.
– O problema da tiroide foi desencadeado por esse défice alimentar?
– As doenças da tiroide do foro autoimune podem ter várias origens e, observando o que fazia, podem ter tido uma de duas origens: ou falta de proteína, pois deixei de comer carne, ou um desequilíbrio da flora intestinal, aquilo que hoje sabemos que é o nosso microbioma. Desequilíbrios prolongados e repetidos podem ter consequências muito negativas no nosso corpo.
– Esse problema acabou por despertar o interesse pela área do funcionamento do organismo, da alimentação, do que podemos fazer para controlar o nosso organismo?
– Exatamente. Percebi que a preocupação com a alimentação ia muito para além do tema do peso. À medida que fui aprendendo, praticando e explorando do ponto de vista da culinária, experimentando diferentes dietas e regimes de exercício físico, aprendi muito sobre como o corpo reage. E sobretudo aprendi que o nosso corpo precisa de muitos mais nutrientes do que pensamos. Fala-se muito dos macronutrientes, das gorduras, hidratos de carbono e proteínas, mas o corpo precisa de muito mais do que isso. O nosso prato típico de almoço de escritório, bife com batata frita e ovo estrelado, não tem, nem de perto nem de longe, todos os nutrientes que o corpo precisa para funcionar como deve ser, nomeadamente toda a componente vegetal, que é muito rica em minerais, vitaminas e fibras, que são micronutrientes fundamentais para as pequenas rotinas do nosso metabolismo funcionarem a 100%.
– Não há é uma receita milagrosa que possa ser seguida por todos nós…
– Era bom, mas não há, de facto, receitas milagrosa nem dietas ótimas. Acredito na bioindividualidade, ou seja, aquilo que é bom para mim não será forçosamente bom para outros. Obviamente, há regras gerais. Hoje sabemos que a nossa alimentação deve ter uma preponderância de alimentos de origem vegetal, que a origem animal deve ser de boa qualidade, mas a verdade é que eu posso não digerir bem brócolos e outras pessoas sim, e isso reside no microbioma intestinal, que difere muito de pessoa para pessoa e que determina como é que reagimos a tudo, nomeadamente à alimentação que fazemos. O trabalho que faço reside muito nisso. Um health coach não é um nutricionista. Somos especialistas em transformação, ajudamos as pessoas a conseguir fazer as mudanças que precisam e querem fazer.
– Mudanças que vão muito para além da alimentação?
– Sim, têm muito a ver com o aspeto psicológico, com autoconhecimento. Trabalho muito com a gestão de stress, por exemplo. Não conseguimos evitar o stress porque faz parte da vida, mas é muito importante criarmos rotinas que nos permitam reduzir o impacto do stress sobre o nosso organismo. Muito do excesso de peso que as pessoas têm não vem daquilo que comem mas do stress em que vivem.
– Defende que não é numa taça de gelado que se afogam as mágoas de um desgosto amoroso, mas a verdade é que é muito fácil encontrar uma desculpa para comer uma taça de gelado ou um chocolate…
– Absolutamente, porque achamos que merecemos ou precisamos de conforto. O açúcar tem um efeito de conforto, mas não precisamos de atacar o frigorífico a meio da noite… O que tento mostrar é que podemos ter uma alimentação perfeitamente equilibrada sem privações.
– Esta área ligada à saúde e à alimentação tem vindo a conquistar espaço na sua vida. Onde fica a sua profissão de economista?
– Está em paralelo com o Glow Chef. Sendo também um projeto de negócio, é sempre bom perceber de gestão. Tenho a minha estratégia, um plano de negócio, e vou fazendo um caminho, mas confesso que este é um projeto de paixão. Continuo ligada à área da gestão, muito presente no ecossistema do empreendedorismo e mentora de vários projetos, já que sou investidora business angel, portanto tenho um ADN bipartido, mas acredito ter tempo para conciliar tudo.