Quando a conceituada estilista de origem canadiana
Tara Jarmon esteve em Portugal, quisemos conhecê-la pessoalmente. Apesar de a sua estada em Lisboa não ter sequer chegado aos três dias, Tara aceitou receber-nos por duas horas, durante as quais abriu um pouco a porta do seu universo privado e falou do seu divórcio de
David Jarmon (ainda seu sócio), dos filhos,
Zachary, de 20 anos,
Camille, de 18, e
Joshua, de 15, e de outras curiosidades…
– A moda sempre foi a sua paixão?
Tara Jarmon – Não. Enquanto vivi no Canadá, onde cresci, nunca pensei nisso. Foi só em adolescente, quando fui estudar para Paris, que me apaixonei pela moda. Foi uma coisa que quis muito fazer e comecei logo a pensar como poderia tornar esse desejo realidade, como poderia fundar uma empresa de moda… Não foi assim tão difícil, porque eu não tinha nada, estava a começar do zero, não podia ir mais baixo, só subir, não tinha nada a perder. Tinha 24 anos.
– E como conseguiu? Teve de conhecer as pessoas certas…
– Conheci o meu marido. Já não estamos casados, mas continuamos sócios. Uma história estranha. [risos] Ele já estava neste meio, sabia como fazer roupa, gerir um negócio, comprar tecidos… e eu aprendi muito com ele, embora na altura o David fizesse roupa para homem e eu para mulher.
– Foi o facto de trabalharem juntos que acabou por prejudicar o vosso casamento?
– Talvez… Havia, sem dúvida, muita pressão. Os casais que não trabalham juntos já discutem e apenas estão juntos à noite ou nos fins-de-semana… Agora, quando estão juntos o dia inteiro, com diferentes opiniões, as coisas põem-se noutra perspectiva. Não sei se foi esse o motivo, mas estarmos casados e trabalharmos juntos influenciou o facto de não termos conseguido fazer o nosso casamento resultar.
– É difícil trabalhar com a pessoa com quem se vive?
– Sim, é muito difícil. Não o recomendo. Apesar de hoje em dia termos quase o mesmo tipo de relação que tínhamos quando éramos casados: discutimos muitas vezes! Mas é diferente, porque quando vou para casa, à noite, não o vejo. [risos] Antes, depois do trabalho, à hora de jantar, continuávamos a falar de roupa, de trabalho, tal como acontecia também nos fins-de-semana… era de mais. Mas havia, também, coisas muito boas, obviamente. Ambos gostamos de moda, partilhamos essa paixão, mas talvez tenha sido de mais.

– Durante quanto tempo estiveram casados?
– Durante 16 anos, mas estávamos juntos há 20. E já nos conhecíamos desde que fui para Paris, há cerca de 25 anos. Já passou tanto tempo…
– Têm três filhos. Eles seguem as pisadas dos pais?
– Ainda estão a estudar, mas não parecem querer seguir as nossas pisadas. Talvez se tenham cansado de ouvir falar tanto de moda… Mas tenho esperanças de que pelo menos um deles queira seguir o nosso caminho. Os mais velhos, durante as férias de Verão, vão trabalhar para as lojas. Dizem que é muito difícil, que é duro estar ali todo o dia. [risos]
– Continua a ser solteira?
– Sim, não tenho namorado.
– Porquê? Não tem tempo para namorar?
– Há sempre tempo para isso. [risos] Mas não é propriamente fácil. É muito mais fácil quando se tem 20 anos do que aos 40.
– Não diria que lhe seja difícil captar a atenção de um homem, é bastante bonita e elegante…
– [risos] Obrigada. Mas acredite que é difícil. Quando tinha 20 anos e não tinha namorado, todos os meus amigos eram solteiros e era fácil combinarmos um programa. Agora não, são todos casados, se não o são, têm filhos… e para se sair é mais difícil. É muito estranho. E aos 20 anos gostava de toda a gente, agora, aos 40, encontrar uma pessoa simpática é mais difícil. Há homens muito chatos. [risos]

– Não tem paciência…
– Eu tenho paciência, mas é difícil encontrar alguém. Até há aqueles sites na internet para encontrar alguém, mas eu nunca fiz isso. Os meus amigos dizem-me muito: "
Conheço alguém perfeito para ti." E eu digo logo:
"Esqueçam, é uma péssima ideia."
– Ter um namorado não é uma prioridade…
– Não, de todo.
– É uma
workaholic ou consegue encontrar um equilíbrio entre a família e o trabalho?
– Não há equilíbrio, mas agora já estou melhor: os meus filhos acabaram a escola em Paris e foram estudar para os EUA, o que me deixa mais tempo livre. Agora faço mais coisas, já não tenho que cuidar das crianças ao fim-de-semana. Há dez anos, só trabalhava… A indústria da moda apodera-se e toma conta de nós, não conseguimos sair e é impossível parar. As tendências estão sempre a mudar…
– Não se sente cansada?
– Às vezes, sim, mas adoro o que faço. É uma paixão. E vou continuar a fazê-lo durante muito tempo. Mas já não trabalho tanto como antes, das 8h às 20h. Agora tenho pessoas que me ajudam. Antes, nunca poderia deixar o trabalho e vir aqui, nem por um dia… Tenho de dizer que agora divirto-me mais.