Aos 22 anos,
Luís Borges é o manequim português que mais trabalhos internacionais fez numa só estação. Desfila nas principais capitais da moda, faz catálogos e campanhas fotográficas para as maiores marcas a nível internacional e aparece nas mais conceituadas revistas da especialidade. Uma fulgurante carreira com apenas um ano e meio, que tem deixado o manequim cansado, mas muito entusiasmado com o futuro.
Ao sucesso profissional, Luís soma ainda muitas alegrias a nível pessoal, só possíveis graças ao apoio e ao amor que recebeu dos tios maternos,
João Borges e
Maria do Céu Semedo, que o perfilharam depois da mãe biológica o deixar numa instituição da Santa Casa da Misericórdia quando tinha apenas dois meses de vida, dias antes de ser deportada para Cabo Verde. É a estes tios a que se refere quando fala dos pais nesta entrevista. Porque foram eles os seus verdadeiros pais, os afetivos, com os quais cresceu, ao lado de
Olga, de 29 anos,
Gisela, de 27, e
João, de 23.
"São meus primos, mas irmãos de criação, e ainda tenho um meio-irmão, que se chama
Ricardo e tem 27 anos", revela
.
Luís Borges optou por tornar pública a história do seu passado nesta entrevista exclusiva à CARAS, na qual fala também abertamente sobre a sua relação com o
hair stylist
Eduardo Beauté, de 43 anos, que conheceu há dois anos e por quem se apaixonou perdidamente, ao ponto de lhe ter feito declarações de amor através do Facebook.
– É fruto da relação de um sueco e de uma cabo-verdiana. Onde é que os seus pais biológicos se conheceram?
Luís Borges – Ele era marinheiro e conheceu-a numa das suas estadas em Lisboa. Como vinha a Portugal com frequência e ficava, no mínimo, uma semana, tiveram uma relação que durou cerca de dois anos.
– Mantêm o contacto? Que sentimentos nutre, hoje, por eles?
– Não conheço o meu pai biológico, nunca vi sequer uma foto dele. O meu pai diz que ele era alto, loiro e que se apresentava muito bem. Quanto à minha mãe [biológica], já a vi numa fotografia e falámos três vezes ao telefone. Pode parecer estranho, mas não consigo ter por ela qualquer tipo de sentimento. Não tenho o direito de lhe cobrar nada, porque, vivendo ela à margem da lei, de certeza que pensou que a melhor forma de me proteger era deixar-me em Lisboa quando foi deportada para Cabo Verde. Naturalmente, não seria quem sou hoje se não tivesse tido a sorte dos meus verdadeiros pais me terem criado e dado amor desde essa altura. A minha mãe entregou-me na Santa Casa de Lisboa quando eu tinha quase dois meses, e vivi lá cerca de dez meses. Durante esse tempo, o meu tio
Manuel [também irmão da mãe biológica] e a mulher,
Isabel, que viviam em Lisboa, iam com frequência buscar-me à instituição para passar os fins de semana. Só quando eu tinha um ano é que os meus pais afetivos, que viviam em Castelo Branco, me assumiram como filho.
– Ter conhecimento que a sua mãe seria dependente de drogas deixa-o alerta em relação à toxicodependência?
– Talvez, mas não era preciso ter tido alguém na família dependente seja de drogas ou álcool para ter esses vícios totalmente fora da minha vida.
– Os seus pais contaram-lhe sempre a verdade ou esperaram pela idade que consideravam ser a mais indicada para lhe revelarem a história da sua vida?
– Foi por volta dos oito anos que eles me contaram que era adotado. Lembro-me que nesse dia fiquei muito triste, porque pensei que, para me estarem a dizer que não era filho deles, era porque não gostavam mais de mim. Foi difícil de entender na altura, mas acho que, mais tarde, teria sido ainda mais difícil aceitar essa realidade.
– É verdade que sempre se viu como um ‘patinho feio’?
– Sim. [risos] Era muito magro e era mais alto do que os meus amigos e colegas de escola. Depois, tinha o cabelo afro e a pele branca, o que não era nada normal, e, para piorar, ainda usava uns óculos redondos, enormes, que não me ficavam nada bem!
–
A evolução da sua carreira tem sido muito rápida, em menos de um ano trabalhou em Paris, Milão, Nova Iorque…
– De facto, tem sido incrível. Sou modelo há pouco tempo, mas já percebi que é fundamental não perder oportunidades e, por isso, fiz as três épocas de
shows, Milão, Paris e Nova Iorque. Se tenho uma agência que acredita em mim, a DNA de Nova Iorque, tenho que corresponder. Para se ter sucesso internacional é preciso encarar a carreira com profissionalismo e a tempo inteiro. Se queremos ser levados a sério, temos que levar a carreira a sério. Quando me chamam, tenho que estar disponível para trabalhar. Embora por vezes não me apeteça ter que ir um mês para fora, sei que tenho que ir. Felizmente, o Eduardo, mais do que perceber, incentiva-me imenso e dá-me total apoio.
– Fora da época de desfiles, como ocupa o seu tempo?
– Quem está de fora tem uma ideia muito simplista da profissão, acham que ser modelo é só glamour, viagens, festas e roupas giras. Não me posso queixar, mas para fazermos um desfile temos que fazer o
casting, o
call back (quando somos chamados de volta ao criador, por vezes mais do que uma vez), o
fitting (prova de roupa)… Se multiplicarmos isto pelo número de
shows para os quais fazemos
castings, temos os dias bem preenchidos! Em Milão, chegamos a fazer 12
castings por dia, com filas intermináveis… Além dos
shows,
castings para publicidade, editoriais de moda, sessões fotográficas, ginásio… É lógico que é sempre muito bom viajar, mas preferia ficar num bom hotel do que no apartamento da agência, e acordar à hora que me apetece em vez das seis ou sete da manhã. Em Paris, o primeiro desfile começa às 9h00, portanto, temos que lá estar duas horas antes. E por vezes temos que vestir roupas que não queríamos nem dadas, mas o cliente tem quase sempre razão…
– Quando começou, achou que ia chegar tão longe?
– Às vezes pensava nisso, e tinha indícios de que poderia ter sucesso, mas tinha sempre presente que há sempre milhares de modelos a competir para cada trabalho… Mas ser aceite em Paris, numa das melhores agências do mundo, a MGM, quando estava a começar, deu-me imensa força. De facto, estou muito feliz com o que alcancei, mas tenho que continuar a trabalhar para evoluir, pois acredito que ainda estou no início da minha carreira.
– Acha que tem sido apenas uma questão de sorte ou uma recompensa pelo seu passado complicado?
– Para além de sorte, que é sempre necessária, deve-se também ao empenho e dedicação pelo meu trabalho.
– Como reagiu quando recebeu a notícia de que era o único português a constar na lista dos 50 melhores manequins do mundo do
site models.com?
– Fiquei muito contente por saber que entrei diretamente para o 37.º lugar do
ranking dos melhores manequins do mundo. É um orgulho, sem dúvida. Pena que em Portugal não deem grande valor a estas notícias.
– Alguma vez se sentiu discriminado?
– Fui muito discriminado quando comecei. Fui fazer o
casting para a ModaLisboa e o diretor de
castings, na altura, disse-me que eu não sabia andar. Por ironia do destino, passados dois meses estava a desfilar com exclusividade para a Dior. É lamentável que só depois de ter desfilado lá fora se apercebam que, afinal, tenho algum valor. Depois rotulam como
top models manequins que, quando passam fronteiras, ninguém sabe quem são, já não falando dos que nunca saíram de Portugal…
– Chegou a declarar-se ao Eduardo através do Facebook. Arrepende-se de ter tornado público os seus sentimentos por ele?
– Foi uma atitude um pouco imatura da minha parte, confesso. Nunca pensei que tomasse a visibilidade que tomou, mas não me arrependo, pois não tenho nada a esconder.
– Usam ambos aliança de noivado, mas parece que o casamento não faz parte dos vossos planos, apesar de já ser permitido fazê-lo em Portugal…
– [risos] Não é uma aliança de noivado, nem nada que se pareça. É, simplesmente, um anel que marca um momento nosso, mas não passa disso. Ainda não pensamos oficializar a nossa relação. Estamos felizes assim.
– Não teme ser alvo de críticas por ter assumido a sua homossexualidade?
– Sinceramente, não me preocupa nada. Estou bem comigo próprio e as únicas pessoas a quem devo satisfações são os meus pais. Como eles me apoiam e respeitam a minha orientação sexual, o que os outros pensam ou falam não me faz a mínima diferença.
– Em que circunstâncias se conheceram?
– O meu primeiro contacto com o Eduardo foi numa entrevista de emprego para ser rececionista do seu espaço. Na época tinha de ter um trabalho em paralelo, porque cá não há mercado para se conseguir viver só como manequim.
– Quando é que perceberam que a relação tinha evoluído de amizade para algo mais?
– O Eduardo dava-me muita força para evoluir como manequim, e isso aproximou-nos muito. Eu pedia-lhe muitos conselhos. Mas, a dada altura, comecei a perceber que implicava com certas coisas que não são de simples amigos, mas mais do que isso. Pouco tempo depois percebemos que não éramos só amigos, e a partir daí tudo aconteceu de uma forma natural.
– O que lhe despertou a atenção nele?
– É-me muito difícil descrever o Eduardo em palavras… É o ser humano mais amigo do seu amigo, mais generoso, e, acima de tudo, é uma pessoa muito humilde. Por isso, foi fácil ficar encantado pela pessoa que ele é.
– Como se descreveria em termos de personalidade?
– As pessoas dizem que sou arrogante e tenho de reconhecer que é essa a imagem que passo. Acho que é um escudo de defesa que arranjei, mas, acreditem ou não, sou humilde, sincero, amigo e grato a quem tenho.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.