Diz a voz comum que "no melhor pano cai a nódoa", e a expressão descreve certamente o que estarão a pensar os súbditos suecos sobre o seu rei.
Descendente das melhores linhagens e educado de acordo com os mais nobres princípios morais, o rei
Carlos Gustavo inscreve-se, sem dúvida, na categoria de melhor pano. Um pano que, soube-se agora, poderá ter um percurso de vida manchado por bastantes "nódoas"…
Postas a nu numa biografia não autorizada do rei,
Carlos XVI Gustavo, o Monarca Relutante (cuja primeira edição, de 20 mil exemplares, foi posta à venda a 4 de novembro e esgotou no próprio dia), essas "nódoas" estão a causar celeuma na Suécia. Não porque os suecos sejam um povo conservador e de mente fechada, nada disso, mas porque Carlos Gustavo sempre se esforçou por dar uma imagem pública de homem íntegro, de soberano irrepreensível, de marido dedicado e de pai exemplar e, afinal, isso não terá passado de aparência.
A ser verdade tudo o que foi escrito pelos jornalistas
Thomas Sjoeberg,
Deanne Rauscher e
Tove Meyer, com o objetivo de mostrar que
"o rei é uma pessoa como qualquer outra", a máxima que Carlos Gustavo usou na exigente educação que deu aos seus três filhos,
Victoria,
Madalena e
Carl Philip – aos quais sempre teve dificuldade em desculpar algum passo em falso – poderá ter sido: "Faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço."
Recorde-se, por exemplo, que o namoro de Victoria com
Daniel Westling demorou anos a receber a aprovação paterna, pelo facto de Daniel ser plebeu, chegando Carlos Gustavo a lamentar o facto de ter mudado a lei sálica, o que permitiu que passasse a ser a primogénita a herdeira do trono e não o seu filho varão,
Carl Philip.
E que fez, afinal, o monarca, para que a sua imagem pública tenha sido abalada desta forma? Bom, segundo os referidos jornalistas – que asseguram ter procedido a uma cuidadosa investigação, baseada em testemunhos que, lamentavelmente, são, na sua maioria, anónimos -, o rei é frequentador regular de clubes de
strip, gasta fortunas com prostitutas, participa em orgias, muitas das quais num clube clandestino propriedade de um sérvio ligado a máfias do Leste,
Mille Markovic, que deu a cara, falou das visitas do rei com amigos e várias mulheres ao seu clube e até mostrou onde este se localiza: na cave de um restaurante aparentemente inócuo.
Pior ainda, acusam o monarca de se servir dos serviços secretos suecos (Sapo) para mandar fazer buscas nas casas de algumas das mulheres com quem tem sexo, de forma a evitar que estas divulguem fotos ou vídeos que possam prejudicar a imagem régia.
Segundo Sjoeberg, Rauscher e Meyer, Carlos Gustavo manteve também um relacionamento duradouro com uma mulher bastante mais nova e algo… duvidosa, a cantora e atriz mulata
Camilla Henemark, com a qual chegou a falar em fugir da Suécia! E os autores garantem que a rainha
Sílvia sabia deste
affaire do marido, mas que nada podia fazer, pois ele
"estava apaixonado como um adolescente e chegou a propor a Camilla fugirem para uma ilha distante e viverem de cocos". A semana passada, confrontada com as revelações feitas no livro, Camilla não as negou, dizendo apenas que o seu advogado a aconselhou a
"não fazer comentários".
Perante esta bomba que lhe explodiu na cara, o soberano parece ter percebido que não valia a pena defender o indefensável, e não só fez saber, através de um comunicado da Casa Real, que não pretende agir legalmente contra os autores, como até acabou por quase assumir perante um batalhão de jornalistas que tudo o que está no livro é verdade. No próprio dia em que a biografia chegou às bancas, Carlos Gustavo foi com um grupo de amigos caçar alces – um dos seus desportos preferidos – e à saída da floresta tinha a comunicação social à sua espera. Quando inquirido sobre o livro, o monarca respondeu, com um semblante carregado, que ainda não tinha tido tempo de o ler, mas que já ouvira dizer do que tratava, esclarecendo:
"Falei com a minha família e com a rainha e decidimos virar a página e seguir em frente, pois, daquilo que sei, isso foram coisas que aconteceram há muito tempo."
Subentende-se, portanto, que a nível doméstico Carlos Gustavo foi perdoado. Resta saber se os seus súbditos vão fazer o mesmo relativamente ao facto de ter gasto dinheiro público com as suas escapadelas e, sobretudo, a tentar escondê-las.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.