Mordomos, camareiras, empregados de limpeza,
chefs, escanções, moços de estrebaria, gaiteiros, damas de companhia, relações-públicas, jardineiros e todos os demais que integram a Royal Household, a equipa de 1200 pessoas que diariamente assegura a ordem doméstica de Sua Majestade britânica – e muitos outros contratados extraordinariamente para ajudar nos preparativos do casamento de
Kate e
William -, estão neste momento na maior das azáfamas. Porque a 29 de abril tudo tem de estar perfeito, em Buckingham arejam-se os salões, areiam-se pratas e arreios dos cavalos, enceram-se soalhos, sacodem-se tapetes, elabora-se a mais requintada das ementas, selecionam-se os melhores vinhos, escolhem-se as mais belas flores, lavam-se milhares de copos, pratos e talheres, branqueiam-se imaculadamente as toalhas de mesa.
Tudo para garantir que no dia D cada convidado terá os seus seis copos devidamente alinhados, que cada lugar na mesa medirá exatamente
43,8cm, que cada cadeira estará colocada a 68,58cm e que as ementas, escritas em francês, estarão perfeitamente direitas sobre o prato do pão. E, na véspera,
Isabel II supervisionará pessoalmente os preparativos para que tudo esteja conforme as suas exigências.
Mas não só. Têm, também, que garantir a segurança de cada uma das individualidades convidadas – estarão presentes muitas cabeças coroadas e chefes de Estado – e que estas ficam bem instaladas. Têm, ainda, que assegurar que as precedências são rigorosamente cumpridas, de forma a que um rei deposto não fique mais bem sentado que um soberano em exercício. Têm, igualmente, que evitar atropelos na ordem de entrada em cena de cada um dos protagonistas e figurantes deste ‘filme’ que se quer com um
timing perfeito. Isto porque, além dos muitos milhares de pessoas que se aglomerarão ao longo do percurso entre a Abadia de Westminster e o palácio, o casamento será visto em direto no mundo inteiro por milhões de telespetadores e, como tal, será, também, uma grandiosa operação televisiva.
E não menos importante do que tudo o resto é também no palácio que se confeciona o vestido da noiva. Isto porque, para garantir que não há fugas de informação, foi cedido um espaço em Buckingham para o costureiro escolhido por Kate poder trabalhar. O empenho em manter o segredo em relação a este assunto é tal que até o nome do autor do modelo só será revelado quando a noiva se der a ver em público. E isso só acontecerá à chegada à Abadia de Westminster, pois, ao contrário de
Diana, que há 30 anos se deslocou até à Catedral de S. Paulo num coche aberto, Kate fará o percurso até à abadia num automóvel fechado.
Chegada ao templo, pelas 11h00 da manhã, Kate avançará pelo braço do pai,
Michael Middleton, até ao altar, onde William a esperará na companhia do padrinho, o príncipe
Harry (Kate também escolheu a irmã,
Pippa, para madrinha). O serviço religioso, que contará com a presença de cerca de dois mil convidados, deverá demorar uma hora e será conduzido pelo deão de Westminster, cabendo ao bispo de Londres a homilia e ao arcebispo de Cantuária a consagração do matrimónio. Durante a celebração ouvir-se-ão vários temas musicais escolhidos pelos noivos e interpretados pelo organista da abadia, por dois coros, pela London Chamber Orchestra, pela fanfarra principal da Royal Air Force e pelos trompeteiros da Cavalaria Real. Terminada a cerimónia, os noivos seguirão de coche para o palácio, num percurso que os levará por algumas das zonas mais emblemáticas de Londres e culminará no The Mall, a larga alameda que conduz a Buckingham pelo centro do parque de St. James.
Quando entrarem no pátio de Buckingham pelo portão central (usado apenas em acontecimentos de Estado e na cerimónia do render da guarda), William, a princesa Catherine (assim passará a ser tratada) e os cerca de 800 convidados para o banquete oferecido por Isabel II vão aceder ao interior do palácio pelo Grand Hall, mandado edificar pela rainha
Vitória. Daí, subirão a imponente escadaria de mármore branco e balaustrada dourada, em cujas paredes imperam retratos de antepassados reais, e chegarão ao primeiro dos 19 salões de Estado que o palácio integra – entre eles o do trono, onde são habitualmente feitas as fotos oficiais dos casamentos reais, e o de baile, em tempos o maior de Londres (36mx18m) -, e que serão todos usados para as festividades deste dia, que culminará com um jantar e um baile de gala oferecidos a cerca de 300 convidados, sobretudo amigos próximos dos noivos, pelo príncipe
Carlos. Antes de iniciarem as comemorações, porém, os noivos saudarão a multidão a partir da varanda principal do palácio, onde se espera que deem um beijo.
Decorado e mobilado com peças de valor incalculável, propriedade da Coleção Real, Buckingham tem uma das maiores coleções de arte do mundo. Será neste cenário maravilhoso que decorrerá boa parte deste casamento digno de um conto de fadas. Espera-se que, como nos contos de fadas, os noivos sejam felizes para sempre.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.