Quando pôs na mão da noiva a aliança de platina de 18 quilates criada pela conceituada casa joalheira francesa Cartier, Alberto II do Mónaco deu-lhe uma piscadela de olho. Charlene retribuiu com um largo sorriso. Um dos poucos momentos em que se mostraram descontraídos e cúmplices ao longo da hora e meia que durou a cerimónia religiosa do seu casamento, celebrada esta tarde no Pátio de Honra do Palácio do Mónaco, onde foi instalado um altar e que foi decorado com 12 mil flores.
Tolhida pelas emoções ou subjugada pela responsabilidade do momento, a ex-nadadora sul-africana esteve séria, muito pensativa e com uma expressão impenetrável no rosto. A sua contenção só abriria uma brecha já na capela de Sainte Dévote, aos pés de cuja imagem depositou o seu bouquet de frésias, cumprindo uma tradição das noivas Grimaldi. Aqui, ao som de um belíssimo tema interpretado a duas vozes por uma menina e uma cantora adulta, a nova princesa do Mónaco não conseguiu conter as lágrimas, para atrapalhação de Alberto, que lhe dirigiu algumas palavras de apoio.
FOTOS:Getty Images / Reuters
A verdade é que também o noivo esteve compenetrado ao ponto de quase parecer infeliz, repetindo o exemplo do seu pai, Rainier III, quando, a 19 de abril de 1956, uniu a sua vida à da atriz Grace Kelly num dos mais mediáticos casamentos de sempre. Para quem assistiu, há pouco mais de dois meses, ao casamento do príncipe William com Catherine Middleton, que não esconderam por um momento a felicidade que estavam a viver, a atitude dos noivos monegascos poderá ter parecido demasiado fria, mas terá havido uma razão para ela: enquanto o jovem William ainda nem é herdeiro do trono, e, por isso, o casamento não foi de Estado e sim de semi-Estado, Alberto já é soberano e o casamento foi de Estado, o que exige uma solenidade completamente diferente.
Para as más línguas, porém, o semblante carregado de ambos os noivos terá tido apenas uma justificação: o facto de, segundo alguma imprensa francesa, nomeadamente o semanário L’Express, Charlene ter tentado fugir do Mónaco dias antes, depois de ter descoberto que Alberto teria mais dois filhos além dos que já assumiu em 2005 e 2006 – Alexandre e Yasmin -, um dos quais nascido recentemente. Segundo o mesmo semanário, a sul-africana teria sido intercetada pela polícia monegasca no aeroporto de Nice, quando se preparava para apanhar um voo de regresso ao seu país natal. Estas notícias foram de imediato veementemente desmentidas pelo Palácio do Mónaco, mas o mal-estar, esse, ficou no ar…
Mas voltemos ao casamento. Deslumbrante num vestido branco de seda natural bordado com 40 mil cristais Swarovski, de corte sereia, com uma cauda de cinco metros e que lhe deixava os ombros nus, criado pelo costureiro italiano Giorgio Armani – um modelo que demorou 2500 horas a ser executado e no qual foram usados 80 metros de tecido – Charlene saiu por uma porta lateral do palácio pelo braço do pai, Michael Wittstock, atravessando a Praça do Palácio por uma longa passadeira vermelha que conduzia até ao altar montado na escadaria dupla do Pátio de Honra. Nesse percurso, foi aplaudida pelos cerca de oito mil monegascos convidados a assistirem ali à cerimónia, transmitida em ecrãs gigantes.
Já no pátio renascentista, transformado em catedral a céu aberto, a bela e elegante noiva, que sob o longo véu levava o cabelo apanhado e preso por uma grinalda de flores em diamantes, desfilou perante os mais de 3500 convidados VIP que a aguardavam, e entre os quais se destacavam muitos representantes de outras casas reais e chefes de Estado, como os reis Paola e Alberto da Bélgica e Sílvia e Carlos Gustavo da Suécia, o presidente francês, Nicolas Sarkozy(que não se fez acompanhar por Carla Bruni que, aos seis meses de gravidez, se encontra em repouso no forte de Brégançon), os príncipes Maria Teresa e Henri do Luxemburgo, Máxima e Guilherme da Holanda, Mary e Frederico da Dinamarca, Mathilde e Philippe da Bélgica, Mette-Marit e Haakon da Noruega, a ex-imperatriz da Pérsia, Farah Diba, a mulher do antigo presidente francês Jacques Chirac, Bernadette, e ainda D. Isabel e D. Duarte de Bragança.
A ausência mais notada foi, inquestionavelmente, a da família real espanhola. Segundo disse a imprensa local, o rei Juan Carlos terá alegado a recuperação da sua recente operação ao joelho para não estar ao lado de Alberto neste dia. Quanto aos príncipes das Astúrias, não terão querido estar no Mónaco por ainda estarem ressentidos com o comportamento inadequado do oficialmente ainda marido da princesa Carolina, Ernst de Hannover, no seu casamento, devido ao excesso de álcool.
Mas a união do príncipe de um dos mais cosmopolitas dos Estados europeus reuniu também muitas figuras da moda, do espetáculo, do desporto e da alta finança mundial. Entre eles, as modelos Naomi Campbell e Karolina Kurkova, o ator Roger Moore, os estilistas Giorgio Armani e Karl Lagerfeld ou a antiga ginasta romena Nádia Comaneci ou o ex-tenista francês Henri Leconte.
Naturalmente, no centro das atenções estiveram também as irmãs de Alberto, Carolina, que com este casamento perdeu o estatuto de primeira-dama do Mónaco, que mantinha desde a morte da mãe, em 1982, e Stéphanie, que nos últimos anos vive afastada do principado, aparecendo apenas em ocasiões festivas como esta. Ambas sem marido – ainda se especulou sobre a possibilidade de Ernst de Hannover comparecer, mas tal não aconteceu -, fizeram-se acompanhar pelos filhos. Stéphanie abriu o cortejo pelo braço do filho, Louis Ducruet, logo seguidos pelas duas filhas da princesa, Pauline Ducruet e Camille Gottlieb; Carolina percorreu a passadeira vermelha ao lado da filha mais nova, Alexandra de Hannover, seguida pelos mais velhos, Charlotte, Andrea e Pierre Casiraghi. Uma nota em relação às toilettes dos elementos femininos da família: todas usaram tons pastel, do rosa ao bege e ao azul.
Presidida pelo arcebispo do Mónaco, monsenhor Bernard Barsi, a celebração destacou-se pela seleção musical, feita pelos noivos, e que teve a colaboração da Orquestra Filarmónica do principado e o Coro dos Pequenos do Mónaco: começou com a Missa da Coroação de Mozart, do qual foi também interpretado um excerto da Missa, cantado pela soprano americana Renee Fleming, incluiu ainda um tema de Saint-Saëns e terminou com a Ave Maria de Schubert pela voz do tenor italiano Andrea Bocelli. Charlene teve como madrinha Donatella Knecht de Massy, mulher de Sébastien Knecht, neto da princesa Antoinette, a irmã do príncipe Rainier que morreu recentemente, e Alberto um primo direito, Chris Le Vine, sobrinho da falecida princesa Grace.
Já casados, Suas Altezas Sereníssimas os príncipes Alberto e Charlene saíram para a Praça do Palácio, onde foram aclamados pela multidão sob uma chuva de pétalas de rosas brancas. Um momento que teve uma impressionante banda sonora, produzida pelas sirenes de nevoeiro das embarcações atracadas na baía de Montecarlo. Instalados num Lexus híbrido descapotável, os noivos seguiram em cortejo pelas ruas do Mónaco, onde foram felicitados por muitos súbditos e turistas, regressando ao palácio para trocarem de roupa, uma vez que para o jantar nos terraços do Casino de Montecarlo e baile de gala que se lhe segue na Ópera Garnier é exigido traje de gala.
TEXTO:Ana Paula Homem
O casamento de sonho de Alberto do Mónaco e Charlene Wittstock
Depois do casamento civil, os príncipes voltaram a afirmar o seu amor numa cerimónia religiosa, à qual assistiram cerca de 3 500 pessoas, com especial destaque para membros da realeza europeia. A cerimónia foi presidida pelo arcebispo do Mónaco, Bernard Barsi.
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