A 29 de abril de 2011, a imponente e histórica
Abadia de Westminster foi cenário de uma união que certamente também ficará nos
livros: a de Catherine Elizabeth Middleton, oriunda da classe média
trabalhadora, com William Arthur Philip Louis Mountbatten, que um dia se
sentará no trono. Ao escolher a sua antiga colega de residência universitária
para companheira de vida e futura mãe dos seus filhos – o mais velho dos quais
deverá ser rei ou rainha de Inglaterra –, o neto de Isabel II iniciou,
de facto, um novo capítulo, escrito em estilo inegavelmente revolucionário, na
história dos amores da família real britânica. Tudo porque, após séculos de
casamentos reais celebrados por interesse e de clandestinos amores
extraconjugais vividos na intimidade das alcovas palacianas, ousou pôr os
sentimentos à frente do dever e misturar-se com sangue plebeu. Sentimentos que
assumiu com formalidade, mas com evidente satisfação, perante mais de dois mil
milhões de pessoas: as quase duas mil que assistiram, in loco, ao
serviço religioso, e todas as que, um pouco por todo o mundo, viram a
transmissão em direto pela televisão.
A escolha do templo românico para esta celebração contribuiu para
enfatizar ainda mais o espírito que presidiu a esta união: tradição e
modernidade. Porque sem renegar o seu passado familiar, desde sempre ligado a
Westminster, que acolheu os casamentos, coroações e enterros da maioria dos
seus antepassados, William demonstrou um total desprendimento dos velhos
pergaminhos que impediam as monarquias de se relacionar com as classes
‘inferiores’.
Se em termos de pompa, circunstância e protocolo o príncipe não defraudou as
expectativas dos Windsor, nomeadamente da avó, e dos súbditos mais arreigados a
grandes cerimoniais, na postura soube associar perfeitamente solenidade e descontração.
Treinado desde cedo para a diplomacia, soube até ajudar a desanuviar o ambiente
para a família de Kate, que forçosamente se terá sentido dividida entre o
enorme deslumbramento de ver um dos seus elementos aceder ao topo da hierarquia
nobiliárquica e o temor de poder não estar à altura das circunstâncias e
cometer alguma gaffe irreparável. A frase em tom de brincadeira que
dirigiu ao pai da noiva, Michael Middleton, quando este lha entregou no
altar, foi uma boa prova disso: “Era suposto ser uma coisa simples e
familiar!”
Quanto a Kate, que teve muito tempo para se preparar mentalmente para
esta nova etapa da sua vida, não se mostrou nem um pouco amedrontada. Nem com a
solenidade do momento nem com o fosso social que a separa do marido. Nascida e criada
sem grandes constrangimentos, a jovem Middleton, que compensou as diferenças de
berço com a paridade intelectual e a partilha de gostos com William, assumiu
até às últimas consequências que não pretende ser uma futura rainha submissa e
fez questão de abolir o voto de obediência.
Essa foi, aliás, uma das principais notas de ‘irreverência’ nesta grandiosa
cerimónia religiosa concelebrada por três dos mais importantes ministros da
Igreja Anglicana – além do arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, que
presidiu à consagração do matrimónio, o serviço foi conduzido pelo deão de
Westminster e a homilia foi proferida pelo bispo de Londres –, e testemunhada
por familiares e amigos dos noivos, representantes de diversas casas reais,
inúmeras individualidades nacionais e estrangeiras e cidadãos anónimos.
William e Kate um ano depois: Tradição e modernidade
O príncipe que conseguiu casar-se por amor com uma plebeia que não lhe jurou obediência não abdicou da pompa protocolar que marcou os casamentos dos seus antepassados.
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