Casada há 18 anos com o príncipe Constantino da Holanda, filho mais novo da princesa Beatriz, antiga rainha, a princesa Laurentien tem canalizado a atenção que naturalmente recebe por ser membro da realeza para dar voz às várias causas em que acredita. Licenciada em Ciências Políticas pela Universidade de Londres e com um mestrado em Jornalismo pela Universidade da Califórnia, a princesa, que chegou a trabalhar como jornalista na CNN, criou há alguns anos a Reading & Writing Foundation, que se dedica a combater a iliteracia, e a Missing Chapter, vocacionada para a sensibilização ambiental. Aos 53 anos, acredita que o seu papel na sociedade passa por ser uma espécie de intérprete, alguém que consegue desconstruir a linguagem científica de modo a ser entendida pelas crianças, e, por outro lado, põe os adultos a escutar realmente as crianças. Mãe de três filhos, Eloise, de 17 anos, Claus, de 15, e Leonore, de 13, a princesa conversou com a CARAS na inauguração de Hooked to Life, uma exposição de peças, do artista Vincent Mock, construídas com anzóis, que pretendem alertar para a alarmante exploração dos recursos marinhos que leva ao seu esgotamento.
– Sempre teve uma ligação especial com crianças. Escreveu, inclusivamente, alguns livros infantis…
Princesa Laurentien – Uma das coisas que faço é aproximar grupos de crianças das empresas. Acredito que devemos começar a partilhar poder com elas, para que nos ajudem a perceber o que estamos a fazer ao planeta. Muito do meu trabalho é viver com uma perna no mundo dos adultos e outra no mundo das crianças, e certifico-me de que as levam a sério ao ponto de conseguirem alterar algumas decisões.
– Ser princesa tem-lhe permitido dar voz a causas e chamar a atenção para os problemas que afetam o nosso planeta?
– Sinto que sou uma tradutora. Uma tradutora das visões e dos pensamentos das crianças para a forma de pensar dos adultos. Oiço também os cientistas, que têm uma linguagem própria, e os decisores políticos e ajudo-os a compreender e a traduzir os diversos tipos de discurso. Estou atenta às várias missões e, quando percebo que há projetos com objetivos idênticos, tento uni-los de modo a torná-los em algo ainda maior.
– O seu pai queixa-se que trabalha de mais. É verdade?
– [Risos.] Trabalho muito, é verdade. Não durmo muito, porque tenho noção da urgência, de estarmos a ficar sem tempo, e isso dá-me energia para fazer muito.
– As alterações climáticas no mundo são uma das suas grandes preocupações. O que diria a quem tenta negá-las?
– Se as pessoas não o entendem, poderemos fazer duas coisas: ou falamos mais alto ou iniciamos um diálogo em que questionamos porque é que não estão envolvidos no processo. E é isto que, a meu ver, tem faltado.
– Como é que nós, individualmente, podemos fazer a diferença no dia a dia?
– Tomando decisões conscientes. Há pequenas coisas que podemos fazer, como demorar menos a tomar banho. Nos Países Baixos demoramos uma média de nove minutos a tomar banho. Se passarmos a tomar em cinco minutos, poupamos 32 litros de água em cada banho. Se todos o fizermos, e por isso é que temos de mobilizar muita gente, estas pequenas ações acabam por ter um impacto gigante no ambiente. Um oceano saudável é essencial para o desenvolvimento humano. Temos de fazer muito mais do que temos feito até agora. Às vezes tenho vergonha da humanidade, da forma como estamos a tratar o planeta.