A passagem do príncipe Harry por Londres para assistir à coroação do pai teve tanto de breve como de amarga. O duque de Sussex, que ocupa o quinto lugar na linha da sucessão ao trono, entrou na Abadia atrás da princesa Eugenie, que ocupa o 11.º lugar, e sentou-se na terceira fila ao lado das primas e dos respetivos maridos.
Esta decisão parece deixar uma mensagem: a subida de Carlos III ao trono reequilibrou as forças dentro da instituição e se antes era Harry quem ‘cortava’ relações com a família real, agora são os Windsor (ou pelo menos a sua família próxima) quem o afasta. Perante este cenário, que conclusões se podem tirar desta sua viagem? Que membros da família é que ficaram felizes por o verem?
Enquanto Isabel II foi viva sempre se esforçou por manter os netos felizes nas suas posições, e durante o seu funeral de Estado Harry recebeu o tratamento que corresponde à sua posição na linha da sucessão ao trono. Esse é um cenário que agora mudou, o que se pode dever a três fatores.
1. O papel de William, príncipe de Gales
Ainda que Harry tenha dito no seu livro de memórias que desde sempre William foi preferido em relação a ele, essa diferença não transparecia de forma acentuada para o público em geral. Pelo menos na vida institucional, ambos gozavam de uma posição similar, pertenciam à mesma fundação e dividiam a agenda oficial do Palácio de Kensington.
Tudo mudou com a sua saída da Casa Real em março de 2020. A partir daí, e após as entrevistas dadas pelo príncipe, nas quais falava sobre a sua vida e apontava o dedo ao pai e ao irmão (em especial a este último), o afastamento entre os dois irmãos parecia irrecuperável. Ainda que Carlos III tenha tentado mediar os problemas entre os filhos, a situação alterou-se após a morte de Isabel II. Com a subida de Carlos III ao trono, William tornou-se príncipe de Gales, o que fez com que passasse a ter muito mais poder, mais obrigações, mais privilégios e mais autoridade para decidir sobre o futuro da instituição. Deixaram definitivamente de ser dois irmãos ao mesmo nível. Assim, aceitaria William que Harry se sentasse ao seu lado na coroação? Ainda que seja filho do rei, nos últimos anos tem atacado a instituição.
2. Camilla: de madrasta a rainha
Dentro da ‘nova ordem’, o papel e o peso de Camilla na instituição mudaram bastante. Durante o reinado de Isabel II era apenas a duquesa da Cornualha, enquanto Harry pertencia à família por nascimento. Agora os papéis sofreram uma alteração, Camilla tornou-se rainha, pelo que acima dela só está o rei. Essa posição explica o facto de os Parker-Bowles – a sua irmã, os seus filhos e os netos – terem recebido uma posição melhor dentro da Abadia do que aquela que teve Harry, já que eles se sentaram na primeira fila. De recordar que a mais prejudicada após a publicação do livro de memórias de Harry é precisamente a rainha Camilla, que o duque de Sussex apontou como uma pessoa que passava informações da família para a imprensa, acusando-a de arquitetar um plano para chegar à coroa.
3. Proximidade com os York
Com tudo isto, resta saber quem é que ficou feliz pelo regresso de Harry ao Reino Unido. A princesa Ana mostrou-se alegre por ver o sobrinho, tal como a sua filha, Zara, prima mais velha de Harry. Também as suas primas Beatrice e Eugenie de York se mostraram muito contentes por vê-lo, tendo estado ao seu lado durante a cerimónia.
Desta forma, Harry entrou na abadia ao lado dos York, que são aqueles que menos peso têm no reinado de Carlos III, uma vez que o príncipe André é o único irmão do rei que não trabalha para a Coroa nem tem funções institucionais, das quais foi afastado desde o início do escândalo do ‘caso Epstein’.