Nascida no seio de uma família milionária da aristocracia italiana, mas assumidamente de esquerda, Beatrice Borromeo, de 37 anos, casada desde agosto de 2015 com Pierre Casiraghi – com quem tem dois filhos, Stefano, de seis anos, e Francesco, de cinco –, e com 24 anos de carreira como jornalista na imprensa escrita, na rádio e na televisão, tem exposto vários escândalos, nomeadamente em artigos em que não poupou a máfia nem Silvio Berlusconi. O seu último trabalho, o documentário O Príncipe sem Trono, já disponível na Netflix, centra-se na figura de Vittorio Emanuele de Saboia, de 86 anos, pretendente ao hipotético trono de Itália e cujo nome esteve envolvido em vários escândalos, nomeadamente um homicídio.
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Foto: Getty Images
A nora da princesa Carolina do Mónaco, que em jovem fez trabalhos como modelo e desde março de 2021 é embaixadora da Dior, tem provado que não é só uma mulher lindíssima, mas também alguém que tem coisas a dizer e que não teme as consequências das revelações que faz nos seus trabalhos. E este sobre o filho de Umberto II, o último rei de Itália, vem levantar o véu sobre uma longa história envolta em muita bruma.
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Foto: Getty Images
Em agosto de 1978, um grupo de jovens italianos fez, a bordo de três embarcações, o percurso entre a ilha de Porto Rotondo, na Sardenha, e a ilha de Cavallo, na Córsega Francesa. Com eles seguiam dois irmãos alemães, Dirk e Birgit Hamer. Na noite de 18 de agosto quiseram ir a terra e levaram “emprestado” um bote insuflável preso a uma embarcação próxima. O dono da embarcação era o príncipe de Saboia, que surgiu de espingarda nas mãos e, numa altercação com os jovens, disparou. Dirk, que se encontrava a dormir numa das embarcações, foi gravemente atingido no estômago. Quatro meses e 19 operações depois, o jovem alemão, de 19 anos, acabou por morrer.
Vittorio Emanuele começou por assinar uma carta em que assumia a responsabilidade civil, mas voltou de imediato para a Suíça, onde vivia no exílio, e mais tarde conseguiu ser absolvido. Durante mais de 40 anos Birgit Hamer bateu-se para provar a culpa do assassino do irmão, mas deparou-se com inúmeros obstáculos, nomeadamente o desaparecimento de provas e a intimidação de testemunhas. Em 1989 conseguiu levar de novo o caso a tribunal, mas Vittorio seria apenas culpado pela posse de arma de fogo sem licença.
Birgit era amiga desde a adolescência da condessa italiana Paola Marzotto, mãe de Beatrice Borromeo. Paola apoiou desde sempre a luta da sua amiga alemã, ajudando-a até nos preparativos do funeral do irmão, e Beatrice cresceu a ouvir a história da morte de Dirk, que a marcou profundamente.
Entretanto, em 2006, Vittorio Emanuele – que em 2002 teve autorização para regressar a Itália após 50 anos de exílio – veria o seu nome associado a escândalos de tráfico de influências, corrupção, contratação de prostitutas de Leste para um casino e liderança incontestada de um grupo com ligações à máfia. Esteve preso uma semana, depois ficou em prisão domiciliária, mas, uma vez mais, acabou por ser ilibado.
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Foto: DR
Em 2011, Beatrice obteve um vídeo, gravado nessa altura na prisão, onde o pretendente ao trono italiano se gabava perante outros reclusos de ser culpado da morte de Dirk Hamer, mas que sempre teve a certeza de que sairia em liberdade, acabando a rir-se. A jovem divulgou na íntegra o conteúdo do vídeo no jornal Il Fatto Quotidiano e ajudou Birgit Hamer a escrever um livro sobre o caso. Vittorio processou Beatrice e a publicação por difamação, mas em 2015 a justiça italiana acabou por dar razão à jornalista.
Ignora-se como os terá convencido, mas em O Príncipe sem Trono, de que é realizadora e autora do guião, em que diz ter tentado ser imparcial – “com este documentário as pessoas vão ter todos os elementos para formarem uma opinião” –, Beatrice conseguiu a proeza não só de ter a participação do príncipe Emanuele Filiberto, de 51 anos, filho de Vittorio Emanuele, como deste.
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Foto: Getty Images
O próximo trabalho da produtora de Beatrice, a Astrea Film, será sobre a história secular dos Grimaldi, a família materna do seu marido.