Noivos desde dezembro do ano passado, quando subiram ao monte Ramelau, o ponto mais alto de Timor-Leste, para ver o nascer do sol e depositar flores em honra de Nossa Senhora, Maria Francisca de Bragança (tratada pelos mais próximos por Chica), filha de D. Duarte e Dona Isabel de Bragança, de 26 anos, e Duarte de Sousa Araújo Martins, de 31, contaram-nos a sua história de amor e o que esperam de uma vida conjunta, sem esquecer os preparativos para o casamento, marcado para este sábado, 7 de outubro, em Mafra. A duquesa de Coimbra, especialista em comunicação, e o advogado da sociedade Uria Menéndez – Proença de Carvalho estão tranquilos, mas anseiam por começar uma vida em comum.
“Conhecemo-nos em 2019, numa festa de aniversário de um amigo do Duarte. A verdade é que nos demos logo muito bem.” (M.F.)
– Como começou a vossa história?
Maria Francisca de Bragança – Começou em Azeitão, um local maravilhoso. Conhecemo-nos em 2019, numa festa de aniversário de um amigo do Duarte. Fui com uma amiga. Era uma festa superdescontraída, toda a gente divertida a comer e a dançar. Estivemos a conversar e descobri que o Duarte era meu vizinho em Lisboa e isso facilitou o nosso contacto. A partir daí, foram programas atrás de programas. A verdade é que nos demos logo muito bem.
Duarte de Sousa Araújo Martins – Achei a Chica muito bonita e fui falar com ela. Na altura, o meu tio era embaixador de Portugal junto da Santa Sé e foi um ponto de partida. Depois, conversa puxa conversa e ficámos uma hora a falar. Entretanto, como tínhamos amigos em comum, orquestrei alguns jantares para a conhecer melhor e para a levar a casa. Houve um dia em que arranjei coragem e convidei-a para um passeio de barco. Isto depois de a ter deixado em casa. Estava nervoso, mas voltei…
Maria Francisca – Já estava de pijama, mas fui ter com ele e aceitei. Gostei da sua maneira de ser, do seu positivismo e do facto de ser tão falador quanto eu.
“Gostei da maneira de ser do Duarte, do seu positivismo e de falar tanto quanto eu.” (M.F.)
– Que valores sentiram que vos uniam?
– Nós somos parecidos em muita coisa, começando por sermos ambos muito comunicativos. Na primeira vez em que saímos juntos, lembro-me de que falámos tanto que ficámos exaustos. Supostamente, ainda íamos jantar e já não conseguimos. Temos visões da vida parecidas, também porque somos de famílias católicas. Depois, somos os dois muito descontraídos.
Duarte – A religião une-nos e é extremamente importante, representa todo um conjunto de princípios-base em que coincidimos e com os quais concordamos.
– O que representa a família para vocês?
Maria Francisca – A família é, sem dúvida, o mais importante. Temos pais espetaculares e fomos educados desde pequenos no catolicismo e com valores de família muito fortes. Vamos educar os nossos filhos nos mesmos princípios.
– Conhecemos bem os Bragança. E como é a sua família, Duarte?
Duarte – Somos uma família grande e muito unida. Tenho quatro irmãos: três irmãos e uma irmã. Vivi até aos meus dez anos no Estoril. Depois, mudámo-nos para Azeitão. A relação entre nós todos é ótima. Temos feitios muito parecidos. A minha irmã já tem três filhas, uma delas é minha afilhada.
– E a Maria Francisca, que relação tem com os seus irmãos, sendo a única rapariga?
Maria Francisca – Sentimos uma profunda paixão uns pelos outros e defendemo-nos imenso. Temos noção de que a família é para sempre e podemos zangar-nos, mas acabamos sempre unidos, com a noção de pertença e proteção. Os nossos pais ensinaram-nos também a crescermos humildes e com a noção de que temos de nos esforçar para conseguir o que queremos. Claro que, como sou a única menina, sou a mais mimada.
“A religião une-nos e representa um conjunto de princípios a partir dos quais coincidimos.” (Duarte)
– Como reagiram os seus pais quando lhes disse que se ia casar?
– Ficaram muito contentes. Sou a primeira dos três irmãos a casar-se e os meus pais estão a adorar a ideia e a gerir tudo.
Duarte – Fiz tudo a preceito. Primeiro falei com a Dona Isabel para sondar a possibilidade de pedir a mão da Chica, a ideia foi muito bem recebida e depois ajudou-me a marcar o pedido oficial com o D. Duarte. Também foi muito fácil conversar com ele. Estas conversas foram no verão, para depois fazer o pedido em dezembro, em Timor-Leste, que era algo que queria.
“O pedido de casamento foi muito romântico e bonito, ao nascer do sol.” (M.F.)
– Por que razão o pedido tinha de ser feito em Timor?
– Já tinha uma viagem marcada à Ásia, com amigos, e achei graça que a Chica fosse ter comigo a Timor, um país com o qual os Bragança têm uma ligação fortíssima.
Maria Francisca – Por causa de Timor foi fácil convencer o meu pai. Ficou logo entusiasmado, quase embarcou comigo. Só não foi pois sabia que o Duarte ia fazer o pedido de casamento e não queria intrometer-se no momento. O meu pai adora estar lá, sente-se em casa, e eu também. Toda a gente nos trata muito bem.
Duarte – Esta viagem foi cheia de peripécias. Eu e o D. Duarte enganámo-nos nas datas. Cheguei no dia 11 de dezembro a Timor, mas a Chica apenas a 13. Outra aventura teve a ver com o anel de noivado. Arranjei um esquema para darem à Chica um envelope com o anel, como se fosse uma encomenda entre advogados. Ela não fazia ideia do que trazia na mala. Quando chegou, por volta das seis da manhã, fui buscá-la, alugámos um carro e começámos a subir para o monte Ramelau, onde queria fazer o pedido, porque é uma beleza e tem uma Nossa Senhora lá em cima. Só que até chegarmos levámos 20 horas, pois as estradas não são boas e o carro avariou-se…
Maria Francisca – Até foi engraçado, enquanto esperávamos que o carro ficasse arranjado encontrámos uma família timorense e acabámos por fazer o piquenique que levávamos com eles.
– E conseguiram chegar ao monte Ramelau?
– Conseguimos. E o pedido de casamento foi muito romântico e bonito, ao nascer do sol. Levámos flores para a Nossa Senhora e baixámo-nos para as depositar. Quando me levantei, o Duarte perguntou se queria casar com ele. Foi maravilhoso. E, coincidência máxima, no dia 7 de outubro, de dois em dois anos, os timorenses fazem uma peregrinação a Nossa Senhora do Ramelau, e o Duarte, sem saber, marcou esse dia para o nosso casamento. Tenho a certeza de que será um casamento muito abençoado.
– O anel de noivado foi escolhido pelo Duarte?
Duarte – Na verdade, foi desenhado por mim. Tenho uma tia que é joalheira e me ajudou.
Maria Francisca – É lindo! Tem uma cruz no meio, que significa muito para nós, e eu simplesmente adoro-o.
– Como estão a decorrer os preparativos?
– Temos tido a minha mãe a tomar conta de tudo. É a verdadeira “generala” cá de casa, a que toma conta de tudo e organiza, porque eu e os meus irmãos somos cabeças no ar como o meu pai. Temos tido também a ajuda da família e amigos para tratar da festa, que será na nossa casa, em Sintra. Em relação à missa, inicialmente era para ser no Mosteiro dos Jerónimos, mas mudámos para o Convento de Mafra, que tem mais espaço e dá para estarmos com todos os convidados. Estou supercontente, porque é lindo e tem um valor histórico inacreditável. É uma honra casarmo-nos lá.
– Sentem o peso institucional de um casamento real?
– Sabemos que é o primeiro casamento real a seguir ao dos meus pais, mas estamos tranquilos e descontraídos. No dia provavelmente sentiremos esse peso, mas até lá somos inconsequentes. Tenho a certeza de que vai correr tudo bem.
– Já tem o vestido de noiva?
– Ainda não, mas será feito pela Luzia Nascimento, que é uma costureira de alta-costura ótima. Sinto-me muito bem entregue. Mesmo que quisesse fazer o vestido de noiva fora, o meu pai não me deixava. No casamento tem de ser tudo nacional. Na verdade, serão dois, um para a cerimónia e outro para a festa à noite.
Duarte – Será uma noiva linda!
– Enquanto membros da Casa de Bragança, que responsabilidades têm? Como se posicionam na sociedade?
Maria Francisca – Temos de ter imenso respeito pela nossa História e honrá-la. Hoje em dia temos muita liberdade, mas nunca esquecendo o que somos. E temos a nossa vida, como qualquer outro jovem. Trabalhamos os dois e vamos ter de pagar contas como toda a gente.
Duarte – Somos parecidos com qualquer outro casal jovem e deparamo-nos com as mesmas questões e dificuldades. Depois, há esta parte, que representa 700 anos da nossa História, de que nos devemos todos orgulhar e que cabe à Chica e à sua família, de uma forma particular, promover. Só por aí é que será diferente.
– Estarão, portanto, ligados a causas?
– Estaremos. Faz todo o sentido defendermos causas na nossa sociedade.
Maria Francisca – Há um projeto que me é muito querido e que começou em 2018, mas parou com a pandemia. Agora, estou a retomá-lo. Trata-se do Prémio Dona Maria Francisca, que promove artistas que ainda estudam. É uma ajuda para quem está a começar e todos os artistas merecem, principalmente os portugueses. Estamos no início, mas queremos chegar mais longe.
– Pretendem viver em Lisboa?
Duarte – Para já, sim, e depois logo se verá.
Maria Francisca – No fundo, temos de nos fazer à vida, cá ou lá fora.
– Põem, então, a hipótese de deixar Portugal?
Duarte – Depende do nosso trabalho, mas sim.
Maria Francisca – Portugal é a nossa pátria e a nossa casa, no entanto trabalharmos fora é uma hipótese.
– Para onde gostariam de ir viver?
– Pensámos em alguns locais de que gostamos, mas nada está fechado. Para já, queremos casar-nos e aproveitar o noivado.
Duarte – Vivi em Londres e gosto muito da cidade, mas, por causa da sociedade de advogados onde trabalho, passo muito tempo em Madrid. Poderá ser numa destas cidades.
– Estão preparados para ter uma multidão à vossa espera junto ao Convento de Mafra?
Maria Francisca – Ficarei honradíssima se tiver um terço das pessoas que estiveram no casamento dos meus pais. Só posso agradecer a ajuda que temos tido de Portugal inteiro.
– Planeiam ter uma família grande?
Duarte – Com certeza! Temos irmãos com que nos damos lindamente e queremos formar a nossa família.
Maria Francisca – Mas não para já. Quero aproveitar bem esta fase em que vamos ser só os dois. Depois pensaremos na chegada dos filhos, que serão muito desejados.