Em plena campanha mediática para darem visibilidade aos Jogos Invictus, uma espécie de paraolímpicos para militares que o príncipe Harry criou em 2014 e que o levou a ele e a Meghan ao Canadá nestes últimos dias, os duques de Sussex continuam a mostrar que lhes é difícil tornarem-se consensuais.
O grande talento do casal parece mesmo ser a capacidade de gerar polémica, que agora se materializou na criação de uma página oficial, Sussex.com. No novo site, que foi aberto neste mês de fevereiro, apresentam-se com os seus títulos reais, ou seja, como príncipe Harry e duques de Sussex, e usam o brasão para identificar visualmente a página. Uma decisão que gerou novas críticas, já que mostra que, mais uma vez, o afastamento da família real britânica que tanto apregoaram foi apenas geográfico, pois continuam a fazer depender a sua imagem pública dessa relação.
Mas há uma questão que é preciso esclarecer a favor do casal e que envolve uma correção à primeira versão desta notícia que está a ler: dizia-se que passaram a apresentar os filhos, Archie, de quatro anos, e Lilibet, de dois, com um novo apelido, Sussex, em vez do original Mountbatten-Windsor, informação que foi reproduzida por vários meios de comunicação, mas a verdade é que as crianças já tinham passado a ser assim designadas na página oficial da família real britânica. Optaram, isso sim, por também apresentar os filhos como príncipes, voltando a sublinhar a vontade de se manterem vinculados a esse garante de popularidade que é a família real.
Casal quebra as regras do “Megxit” que acordou com a falecida rainha Isabel II
A escolha do nome da sua nova página virtual é polémica sobretudo porque é conhecido o compromisso que assumiram com a falecida rainha Isabel II sobre as regras do “Megxit”: ao prescindirem dos seus lugares como membros séniores da família real britânica, deixando de estar ao serviço da instituição e ganhando a liberdade de se tornarem pessoas comuns, comprometiam-se a não usufruir dos seus títulos para fins comerciais.
O que não é, manifestamente, aquilo que estão a fazer agora, já que o site, além de os apresentar e divulgar o trabalho filantrópico que o casal faz através da Fundação Archewell, promove, por exemplo, o contrato comercial que Meghan celebrou com a Lemonada Media, que vai distribuir o seu podcast Archetypes, originalmente produzido pelo Spotify e que rescindiu o contrato alegando falta de produtividade do casal. O caso gerou até acusações por parte de um dos executivos da empresa, Bill Simmons, que chegou a descrever os duques de Sussex como “vigaristas” por não terem concretizado tudo o que prometeram.
Este novo passo segue-se a um período de pouca visibilidade mediática de Harry e Meghan, que se esperava ser de reflexão sobre a vida profissional a adotar. Especulou-se que a duquesa poderia recuperar a sua conta de Instagram, com a qual obteve alguma notoriedade quando era atriz, antes de conhecer o príncipe Harry, ou que estaria a preparar uma autobiografia, na sequência da que o duque publicou, Na Sombra, e que tanta celeuma provocou.
Mas ninguém esperava que este reaparecimento mediático fosse tão ancorado nas suas ligações à família real britânica depois de todas as críticas que fizeram ao funcionamento desta e à forma como se relacionavam com a imprensa, tendo Harry acusado alguns familiares de passarem informação aos tablóides de modo a formatarem a opinião pública, beneficiando alguns elementos em detrimento de outros.
Queixas de assédio da imprensa britânica e entrevistas nos EUA
Esses outros, recorde-se, afirmava terem sido ele próprio e a mulher. E os dois invocaram precisamente essa perseguição da imprensa para saírem de Inglaterra e prescindirem do estatuto que tinham, criando a ideia de que pretendiam uma vida mais discreta e longe dos olhares públicos. Mas acabou por acontecer o contrário, pois perceberam que só esse lado de “realeza” lhes dava a visibilidade de que precisavam para conseguirem trabalho enquanto celebridades num país cheio de estrelas mediáticas. E, ironicamente, passaram a estar disponíveis para entrevistas, como aconteceu logo em 2021, quando se deixaram entrevistar por Oprah Winfrey, ou, por exemplo, esta semana, quando Harry falou ao programa Good Morning America.
Além de se terem tornado vulneráveis às críticas que os acusam de continuaram e viver à sombra da família real, ainda foram infelizes no timing que escolheram para apresentar esta nova imagem: precisamente um momento em que o rei Carlos III está fragilizado por uma doença, o que o beneficia junto da opinião pública caso haja comparações, e em que William atravessa uma fase especialmente difícil em que tem de conciliar a agenda profissional com o apoio que tem dado à mulher, Kate, a convalescer de uma cirurgia, e a atenção aos três filhos. Caso haja aqui uma “disputa” de popularidade, dir-se-ia que este é precisamente o momento em que Harry deveria ter-se mantido na sombra, deixando o pai e o irmão concentrarem as atenções e a empatia dos cidadãos.