Os portugueses continuam a dar importância ao design?
Se considerarmos um segmento alto, onde temos um consumidor culto e com capacidade económica – uma cultura geral onde englobamos as artes – então temos um conhecimento muito mais aprofundado do que há uns anos. Isto acontece, em virtude da facilidade com que as pessoas acedem às marcas e aos próprios designers, através da Internet. Hoje, quando somos consultados por alguns desses clientes, eles já sabem qual o nome do criador, a marca e o tipo de produto que querem.
Mas há mercado em Portugal?
Existe para esse segmento particular: um cliente de classe alta, com capacidade de aquisição e uma cultura geral que sabe entender e diferenciar este tipo de produto. Caso contrário, até pode encomendar uma casa a um arquiteto de renome, mas decorá-la com artigos sem qualquer carimbo.
O que leva as pessoas a comprarem as imitações?
Por um lado, a falta de cultura, por outro, a propagação das imagens nos diferentes meios de comunicação. Alguns hotéis já apostam no design como forma diferenciadora, contudo outros continuam a comprar cópias. Ainda há pouco tempo José de Guimarães dizia, numa entrevista ao jornal Expresso, que o problema da arte em Portugal é estar a ser transacionada a valores baixos por pessoas sem cultura e que não valorizam aquilo que têm.
Como é que as lojas comercializam essas cópias?
A cópia e a sua propagação são o resultado não só daqueles que criam, como daqueles que as adquirem. E, se em alguns casos, essa imitação faz com que o artigo perca a mística da marca, haverá outros casos em que contribuirá para aumentar o seu prestígio. Quando olhamos para o negócio da roupa e para as marcas de contrafação que copiam outras griffes conhecidas, é fácil verificar que estamos perante uma cópia através, por exemplo, de uma costura mal feita. Mas a pessoa compra a cópia porque não chega ao original. Um cliente meu perdeu o negócio de uns sofás, da Minotti, para uma fábrica portuguesa que copiou os modelos e, inclusive, as etiquetas. Neste tipo de cópias, estamos a falar de oportunismo e não de algo inatingível.
Existe legislação?
Portugal tem uma boa legislação em termos de propriedade intelectual. No entanto, temos de conseguir provar que a cópia é, na realidade, um produto praticamente igual. Quando entram no nosso país contentores, vindos maioritariamente da China, temos hipótese de fazer uma denúncia e bloquear a mercadoria. A quem recorrer? À Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).
É fácil ter noção dos acabamentos?
Os materiais, por norma, são todos idênticos. Existe um pequeno detalhe que faz a diferença e, muitas vezes, até prejudica do ponto de vista estético. O primeiro passo para ter a certeza de que é um original, será comprar a peça numa entidade que inspire confiança. Hoje em dia, o consumidor deve ser criterioso com a entidade que está a comercializar o produto. Em caso de dúvida, pode chamar um líder de opinião, um arquiteto ou um designer, para o ajudar a identificar a origem do artigo. Eu acredito que, por vezes, as pessoas que se dizem enganadas, sabem que estão perante uma cópia. Isto está na consciência de cada um.
Que conselho daria a um criador?
Antes de entregar a seu projeto a alguém, deve procurar entidades oficiais, mesmo na Internet, que divulguem a sua ideia. Essa publicação será uma prova de que ele é o detentor da propriedade intelectual, que está defendido e tem direitos. Desta forma, quando é submetido o registo da pessoa que se aproveitou da ideia, o queixoso pode contestar. É fundamental divulgar, é uma forma de se proteger.
Decoração: Design, verdadeiro ou falso?
A falta de cultura artística é aquilo que, na opinião de Nuno Ladeiro, leva as pessoas a optarem pela cópia.