O ano de 1992 foi um ano inesquecível na minha vida de jornalista. A sorte bafejou-me e fui eu a enviada especial do Correio da Manhã a Munique, onde Michael Jackson estreava a Dangerous Tour, aquela em que, num passe de mágica, o artista voava em palco, impulsionado por um propulsor. Vi um estádio boquiaberto a acreditar no inacreditável… porque não era mesmo Michael Jackson e sim um duplo.
Fui ao Estádio Olímpico de Munique inserida num pequeno grupo de jornalistas "liderado" por Nuno Braancamp, que tem no seu palmarés de produtor de espectáculos a vinda do autor de Thriller a Portugal.
Lembro-me que me senti orgulhosa de exibir ao peito uma credencial com a capa do álbum Dangerous e de estar numa sala repleta de jornalistas vindos de todos os cantos do Mundo.
Absorvi tudo com a sofreguidão de um miúdo a quem dão o presente mais esperado. Pela primeira vez, vi os repórteres fotográficos assinarem contratos por causa dos direitos autorais das imagens. E vi também o repórter fotográfico que me acompanhava, Marques Valentim, ser literalmente atirado ao tapete quando tentou fazer uma fotografia antes de ter ordens para isso. Como bom repórter e companheiro de equipa, percebeu, como eu, que Michael Jackson caminhava, escoltado por um "batalhão" de polícias, por uma rampa que dava acesso ao palco. Mesmo sabendo que por detrás dos vidros da sala onde estávamos não conseguiria grande coisa, não hesitou e levantou a máquina por cima das cabeças de centenas de pessoas, para disparar… não disparou! Os "gorilas" já estavam em cima dele.
Sobre o espectáculo, o mesmo que se viu meses mais tarde em Alvalade, foi indescritível como sempre foram os de Michael Jackson, comandante de uma máquina de produção a quem não se admitia falhas. Não vale a pena falar das músicas, porque todos as conhecem, cantámo-las de uma ponta à outra, mas, acima de tudo, estive a poucos metros de Jackson, que exibia madeixas ao vento e óculos escuros de piloto aviador da II Grande Guerra. Ainda era um homem bonito!
Mas a ida a Munique ainda contemplava uma festa. Pensávamos que íamos aos canapés, croquetes e afins, mas o que nos esperava era igualmente olímpico. No pavilhão, para o qual se entrava por um túnel negro do qual saiam mãos que nos tocavam o corpo, estava montada uma pequena feira popular, com carrosséis, bancas com maçãs do amor e gomas e, mais inusitado, tínhamos de usar máscaras providenciadas pela produção. E o grupo de portugueses usou-as sem dramas tal a felicidade do momento.
Quando decidi ir andar numa roda quase gigante, o pavilhão ficou em silêncio. Eu lá em cima, no ar, pés pendurados, maçã na mão e, de repente, entra ele, o próprio, Michael Jackson. E eu a gritar: "Tirem-me daqui, tirem-me daqui!" Não cheguei a tempo, porque a voz de Billie Jean só lá foi agradecer a presença de todos. Três minutos, três pequenos minutos que vivi empoleirada na cadeira balouçante de um carrossel!
Michael foi grande, será sempre grande, embora a partir de certa altura tenha entrado numa espiral de decadência que lhe tirou o brilho. Ficam as músicas, os vídeos que fizeram história e abriram portas à comunidade negra que canta na MTV, e as memórias de tudo o que de vanguardista fez. Compunha, cantava, dançava… era ‘o’ Artista.
A sua morte deixou-me de queixo caído, lágrima no olho e uma vontade que a canção I Want You Back, que gravou aos dez anos, pudesse concretizar-se.