A amizade era uma palavra com um profundo sentido para Raul Solnado, que a cultivou em quantidade e qualidade ao longo da vida. A que manteve com Varela Silva, lisboeta da Madragoa como ele, começou no berço, passou pelos bancos da escola e só terminou com a morte deste. Um mês mais velho, Varela também ficou órfão de mãe em bebé, sendo criado por uma avó em casa de quem Raul era por vezes deixado pelo pai. Aliás, Solnado seria o padrinho de casamento do amigo com Simone de Oliveira.
Num tempo em que actores, boémia e tertúlias pela noite dentro eram sinónimos, a vida profissional era muitas vezes indissociável da pessoal. Assim foi no caso de Solnado, que tinha a seu favor a personalidade amável, generosa e divertida. O convívio, que começava com os ensaios, prosseguia nos palcos e terminava nas ceias que se seguiam aos espectáculos, seria o terreno de onde brotariam muitos dos afectos que alimentou até ao fim dos seus dias – na verdade, até os seus grandes amores surgiram por "culpa" da representação.
Logo em 1947, quando, ainda estudante do Curso Comercial e ajudante do pai na loja de vassouras, escovas e pincéis da Esperança, deu os seus primeiros passos como amador na companhia teatral da Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, conheceria, entre outros, o seu futuro padrinho de profissão, José Viana.
Tendo convivido e/ou contracenado com todos os grandes vultos do panorama artístico nacional ao longo de quase seis décadas de carreira, fizeram parte dos seus amigos figuras como Eunice Muñoz, Raul Cortez, Maria do Céu Guerra, Carlos Cruz, José Fialho Gouveia ou Amália Rodrigues.
E também com a nova geração, que soube reconhecer a actualidade que o humor de Solnado mantinha ainda hoje, o veterano manteve uma relação de apreço mútuo. Apreciador de um humor com qualidade, sem palavrões ou atitudes machistas e racistas, "abençoou" publicamente o trabalho de jovens colegas como António Feio e José Pedro Gomes, Miguel Guilherme, Bruno Nogueira ou os Gato Fedorento.