José Maria Calheiros, de 43 anos, e
Sofia Pidwell, de 38, são um casal que consegue conciliar na perfeição a preservação dos valores tradicionais com a necessária adaptação ao ritmo e às exigências dos dias de hoje. Casados há 11 anos e pais de três filhos,
José Maria, de dez anos,
Maria da Piedade, de nove, e
António Maria, de seis, o advogado e a pintora têm como base a harmonia familiar, que nunca foi abalada pelas constantes solicitações que José Maria tem. Fundador do escritório de advogados José Maria Calheiros e Associados e presidente da Fundação Portuguesa de Ténis, o antigo professor universitário consegue ser um pai e um marido presentes. O segredo, diz, está na sua capacidade de organização. Mas a vida deste homem de sucesso não é apenas trabalho. Sobrinho-bisneto do general
Norton de Matos, o advogado faz questão de todos os anos passar férias na casa que pertenceu ao tio-avô da sua mãe, em Ponte de Lima.Foi durante este período, em que o tempo parece parar e em que a família é a única distracção do casal, que a CARAS falou com José Maria e com a mulher sobre uma vida que dizem ter como lema "
Juntos, tudo é possível".
– Qual é a sua relação com Ponte de Lima?
José Maria Calheiros – Sempre passei férias aqui, com os meus primos, em Setembro. E é uma tradição que se mantém, mas agora vimos em Agosto. Venho com a minha mulher e com os meus filhos e juntamo-nos ao meu pai. Temos família aqui perto e, por isso, é óptimo vir cá.
– Sente que é quase uma missão preservar a história da sua família?
– Não diria que é uma missão. É mais o gosto de não perder a tradição e de querer preservar esta casa, mantendo as coisas como o meu tio-bisavô as tinha. A minha irmã também teve um papel muito importante, porque organizou todo o arquivo do general e, neste momento, já está tudo informatizado.
– E que memórias tinha a sua mãe do general?
– O general Norton de Matos era tio-avô e padrinho da minha mãe. E como ele só teve uma filha, que morreu sem filhos, a descendente que herdou todas estas memórias foi a minha mãe. Ela sempre falou dele com um grande orgulho e com muitas saudades. Foi uma pessoa que marcou a nossa vida e que teve, na altura, muita importância no País. E, por isso, para nós, foi sempre um exemplo. A minha mãe conviveu de perto com ele e, por isso, era muito importante manter essas memórias o mais acesas possíveis.
– E tenta transmitir este passado familiar aos seus filhos?
– Sim, na medida do possível. Os tempos já são outros, mas para nós é muito importante que eles venham para cá e que gostem de cá estar. E como gostam, o contacto com isto tudo acontece de forma natural.
– Cresceu no Porto, mas mudou-se para Lisboa…
– Nasci no Porto e estive lá até aos 22 anos. Formei-me na Católica, em Direito. Mas, mal acabei o curso, decidi ir para Lisboa. Fiz o estágio e comecei a advogar e abri a José Maria Calheiros e Associados, já lá vão 18 anos.
– Acredito que, na altura, essa mudança tenha sido uma aventura…
– Sim. A advocacia sempre foi uma paixão e achei que era natural ter o meu próprio projecto. Juntei algumas pessoas e hoje é uma sociedade de sucesso, que tem trabalhado bem e tem-se mantido sólida.
– Como é que surge o Direito na sua vida?
– Escolhi muito cedo ir para Direito. Devia ter uns 14, 15 anos, e decidi que era isso que queria fazer. Gosto muito do tribunal, da barra, dos julgamentos, da estratégia das acções sociais… E sempre foi isso que me seduziu. Gosto do raciocínio jurídico. Também estive no ensino, fui assistente do professor Sousa Franco durante 12 anos. Gostava muito de dar aulas, a experiência académica permitiu-me conhecer muitas pessoas. Estive praticamente com três gerações de alunos. Depois, decidi parar.
– E foi já em Lisboa que conheceu a Sofia?
– Conheci-a quando tinha 25 anos, mas foi em Caminha, numas férias que ambos passámos cá. Conhecemo-nos por acaso. Depois começámos o namoro, que durou oito anos.
– Sempre teve uma vida profissional muito preenchida. Como é que concilia isso com a sua vida familiar?
– Sempre conseguimos conciliar tudo, mas com algum sacrifício. O escritório, juntamente com as aulas em duas faculdades, tornou-se uma carga muito intensa. Mas sou muito organizado e, portanto, conseguia fazer tudo.
– O facto da Sofia ter decidido deixar de trabalhar para ficar em casa deve ter ajudado…
– Quando a Piedade fez um ano, a Sofia decidiu deixar de trabalhar, e isso ajudou imenso.
Sofia Pidwell – Acho que essa decisão foi uma consequência da própria vida. Sou uma mãe um bocadinho exagerada, porque gosto muito de os acompanhar. E foi uma escolha ir para casa. Tinha um filho com dois anos e outro com um e não estou nada arrependida de ter tomado essa decisão. Na altura não foi fácil, mas acabou por correr tudo bem.
– E agora tem mais uma ocupação, a presidência da Federação Portuguesa de Ténis…
José Maria – O ténis é outra das minhas grandes paixões. Comecei a jogar cedo. Joguei a um nível médio, sempre com muito gosto, e cheguei a participar em torneios internacionais, mas nada de especial. Há seis meses, desafiaram-me para me candidatar a presidente da federação. Pensei muito, porque é uma tarefa que exige algum tempo, mas eu adoro ténis e é muito interessante poder contribuir para o desenvolvimento desta modalidade em Portugal. Gosto de jogar e gosto do meio. É um segundo emprego, e esse repercute-se um pouco na família. Na prática, acaba por ocupar mais os fins-de-semana e tentamos, na medida do possível, conciliar isso com a nossa vida de família, levando a minha mulher e os meus filhos comigo, sobretudo para os sítios mais perto.
– E já passou essa paixão aos seus filhos…
– Sim, o meu filho mais velho já pratica. Gosto muito de desporto em geral e, no que me é possível, tento passar-lhes a mensagem de que praticar uma modalidade desportiva é fundamental. Para mim, o desporto é das coisas mais importantes na vida. Jogo ténis, futebol…
– E, entre tantas actividades, ainda consegue estar presente na vida dos seus filhos?
– Uma das preocupações que tenho é conciliar isto tudo com a família. Às vezes penso que podia ser um pai mais presente e tenho feito um esforço nesse sentido. Sofia – A nossa base é a família. E, por isso, o nosso principal objectivo é manter a família equilibrada e dar aos nossos filhos tudo aquilo de que eles precisam. O José Maria consegue, quase que por milagre, gerir muito bem o tempo que tem. É organizado, metódico e graças a isso consegue estar com a família. Os meus filhos não sentem a falta do pai, porque ele consegue estar presente. E o meu marido é um pai preocupado, empenhado. Não me posso queixar. Claro que agora, com o ténis, o José Maria tem muito mais coisas para fazer. E o que houve foi uma adaptação da família. Mas a ginástica maior é o meu marido que a faz.
– Consegue desfrutar do não fazer nada?
José Maria – Consigo aproveitar bem os momentos de lazer, porque são muito poucos. Mas é uma área em que tenho de aprender a desfrutar mais. Hoje em dia é muito difícil separarmos as coisas, porque temos a internet. Mas consigo parar e passar uma semana sem pensar nisso.
– E há tempo para vocês enquanto casal?
Sofia – Claro que sim. Conseguimos ter os nossos momentos. E isso é exigido pela própria vida. A certa altura, se nós nos distrairmos, a vida chama-nos a atenção e pensamos: ‘Espera, agora este tempo tem de ser para nós.’ E conseguimos fazer viagens só os dois várias vezes por ano. Gerimos isso dia a dia.
– Entretanto, anos depois de deixar de trabalhar, a Sofia descobriu uma nova vocação…
– Sim. Ia sempre ocupando o tempo que me sobrava, que era pouco, com a pintura de coisas pequenas, como molduras. E um dia comecei a interessar-me pela pintura de quadros. Quando o António já tinha dois anos, voltei a estudar, e agora todos os dias trabalho na pintura.
– É quando tem aquele momento só para si?
– É, totalmente! É algo que faço mesmo com paixão. Fiz a minha primeira exposição em Maio e as pessoas gostaram muito. E é óptimo fazer-se aquilo de que se gosta e ainda sermos reconhecidos por isso.