Alexandra Quadros nasceu em Portimão e aos 19 anos mudou-se para Lisboa para estudar. Depressa se habituou ao bulício da cidade e hoje sente-se uma verdadeira alfacinha. A única coisa que lhe custou foi deixar os pais – que continuam a morar no Algarve -, com quem tem uma relação de enorme afecto. Apaixonou-se, casou-se, teve um filho,
Tomás, hoje com 13 anos, divorciou-se. Alexandra, 44 anos, publicitária e autora do livro
Por Detrás das Paredes, voltou a apaixonar-se, por
Vítor Vasques, director criativo, e teve mais um filho,
Vicente, agora com seis meses. A CARAS foi ao seu encontro para conhecer melhor a autora da frase "
por detrás das paredes, pode haver muito mais do que simples vigas, betão, pedra e madeira". O encontro deu-se precisamente por detrás das paredes da sua casa, no Restelo.
– Se esta casa falasse, já teria muitas histórias para contar?
Alexandra Quadros – Algumas. [risos] Só cá estamos desde Janeiro, mas esta casa acolheu-nos com muita simpatia. Se estas paredes falassem, já falariam do nascimento do Vicente, que foi uma nova luz na nossa vida e o nascimento deste livro.
– Como é que surgiu a ideia desta história?
– Eu vivia no Príncipe Real e a minha casa começou a mandar-me embora, e já não era a primeira vez que isto me acontecia. Surgiu então a ideia de escrever a história de uma família que era contada pela casa, porque acredito que as casas têm alma.
– Essa história de a casa a mandar embora não foi apenas uma desculpa para mudar de casa?
– [risos] Neste caso não. Adorava a minha casa, tinha uma energia muito positiva. Vivi lá bons momentos da minha vida. E acabei por me mudar para a Aroeira, onde vivia o meu marido, o que implicou uma grande mudança na minha vida. Sempre fui muito urbana. Mudei-me por amor.
– Por falar em amor, no blogue do seu pai, Alberto Quadros, ele faz-lhe rasgados elogios, escrevendo: "Alexandra – filha diamante de ‘n’ quilates" ou "Alexandra – que, sem dar por isso, nos dá e ensina muito, sem nada cobrar." É amor de pai ou revê-se nesses elogios?
– Os pais e os irmãos são mais suspeitos. Vindo do meu pai, fico particularmente comovida, porque ele é extremamente exigente… E é curioso, porque a minha mãe, sim, é mais espontânea, é espanhola, tem sangue caliente… Ele até é tímido nas emoções.
– Escrever este livro não foi correr um certo risco, sendo sobrinha de Fernanda de Castro e António Ferro e prima de António Quadros, todos eles escritores?
– Nunca tive medo de arriscar. Senti-me, sim, responsável por um apelido, mas sem que isso me criasse qualquer tipo de ansiedade.
– É uma mulher que persegue os seus objectivos?
– Sim, tenho muita fé e, quando tenho uma meta, persigo-a, mas sem atropelar ninguém, disso não sou capaz.
– Portanto, é uma lutadora…
– Sim, sou uma lutadora, mas, mais do que isso, acho que sou uma pessoa que acredita. Tinha um tio que costumava dizer que a sorte não existe, que o que é preciso é não ter medo de agarrar oportunidades. Sou lutadora, mas sou, sobretudo, uma acreditadora. [risos]
– E desanima quando não consegue atingir os objectivos que traçou?
– Pode parecer falsa modéstia, mas nunca me aconteceu. Já me deparei com obstáculos, com a necessidade de os contornar e ultrapassar, mas interpreto-os sempre como provas.
– No amor é igualmente bem-sucedida?
– [risos] Acho que sim. O amor é mais difícil, mais subjectivo, e há outra pessoa de quem se depende para se ser bem-sucedido.
– O seu primeiro casamento não correu da melhor forma. Tendo o exemplo dos seus pais, que estão casados há mais de 45 anos, planeava a mesma longevidade para esse casamento?
– Sim, era nova e achava que era para toda a vida. Hoje tenho uma concepção diferente: o casamento dura até que a morte do amor nos separe, e ainda bem que é assim. Temos o dever, acima de tudo, de sermos felizes.
– Quando percebeu que não era feliz, tomou logo a decisão de se separar, de procurar um novo rumo?
– Gostávamos um do outro, mas acabou, e não foi fácil. Houve uma sensação de tristeza e de algum fracasso, mas ambos estávamos mais preocupados em proteger o nosso filho, para que ele sofresse o mínimo possível. E, no entanto, o meu ex-marido, para além de um excelente pai, é um excelente amigo.
– Ficou descrente sobre a possibilidade de um casamento durar para sempre?
– Durante uns tempos, sim. Não queria pensar nem em casamento, nem em namorar. O meu filho tinha quatro anos e decidi dedicar-me a ele. Precisava disso, e ele também. Precisei de estar sozinha, de me encontrar, de reflectir sobre o que tinha acontecido, sem martírios, nem dramas.
– E depois apareceu o Vítor…
– Sim, quase seis anos depois, apareceu este publicitário por quem me apaixonei. Sou muito romântica, ainda acredito em contos de fadas. [risos]
– De seguida veio o Vicente, 12 anos depois do primeiro filho… Que coragem!
– Ou uma grande inconsciência. [risos] Acima de tudo, foi um presente ao meu marido, ele não tinha filhos e queria muito, e eu sempre disse que gostaria de ter mais do que um. Mas foi sobretudo uma dádiva ao Vítor, mais uma prova de amor.