A propósito do lançamento do audiolivro
O Principezinho, de
Antoine de Saint-Exupéry, ao qual
Pedro Granger ‘emprestou’ a sua voz, a CARAS marcou encontro com o actor num cenário que remete para a fantasia criada pelo famoso aviador, e nele se falou de sonhos, ambições, laços de amizade e familiares, e de projectos profissionais e pessoais. Três anos depois da última entrevista que deu à CARAS, Pedro Granger revela ainda que foi ‘obrigado’ a crescer quando decidiu apostar numa formação em Nova Iorque, onde acabou por viver durante dois anos e meio. Uma época que marcou um ponto de viragem da sua vida.
– Como correu a experiência de viver nos EUA?
Pedro Granger – Foi uma grande experiência, não só do ponto de vista de aprendizagem, mas principalmente de vida. Aconselho a toda a gente a ir viver para fora, nem que seja para Badajoz. E Nova Iorque é uma cidade muito boa para o fazer, porque há muita coisa a acontecer, há pessoas vindas de todo o mundo… E, depois, claro, tinha que lavar roupa, cozinhar, limpar a casa…
– Foi obrigado a crescer?
– Fui obrigado a dar valor a uma data de coisas, a ser muito mais responsável e organizado, coisa que não era absolutamente nada, ou seja, foi uma experiência muito importante e boa, da qual tenho imensas saudades. Por isso já decidi que quero lá voltar a curto/médio prazo, nem que seja só por três meses.
– Não se sentiu frustrado por ter lá estado tanto tempo e não ter conseguido nenhum papel de relevo?
– É óbvio que qualquer pessoa gostaria de estar como a
Daniela [
Ruah]. Além de ser gira, tem um talento enorme, é uma pessoa muito bem formada… Por isso, se há pessoas que merecem essas oportunidades, a Daniela será sempre uma delas. Como é óbvio, qualquer actor gostaria de estar fazer o que ela está a fazer. Quem disser que não, ou está a mentir ou é tonto. Mas na altura fui para lá estudar, por isso, nem enveredei por esse caminho da procura. Poderia tê-lo feito, mas não o fiz. Se adorava ter essa oportunidade? Sim, adorava, mas não me esforcei nesse sentido.
– Da próxima vez, vai-se esforçar?
– Não ponho as coisas nesses termos, não vou lá para isso. Mas os exemplos de pessoas que o conseguiram fazem-nos pensar até que ponto não deveríamos tentar ser mais ambiciosos.
– Já vivia sozinho quando foi para Nova Iorque, ou foi nessa altura que ‘cortou o cordão umbilical’?
– Foi nessa altura, sim. Em Nova Iorque não há máquinas de lavar roupa em todas as casas, usam-se as lavandarias, e claro que tingi a roupa toda de cor-de-rosa na primeira máquina que fiz, porque tinha peças encarnadas misturadas… Mesmo à maçarico! E a quantidade de vezes que queimei bifes e massas, e acabei a fazer ovos mexidos e a comer uma tablete de chocolate para não me irritar? Mas é assim, é a tal experiência que é boa.

– Quando regressou a Portugal, sentiu necessidade de ter o seu próprio espaço?
– Foi nessa altura que deixou de fazer sentido ficar em casa dos meus pais, mas sem sentimentos de ruptura, porque continuo a ter uma vida familiar muito boa.
– E continua a ser mimado pela mãe?
– Acho que nunca o fui. Tenho uma relação óptima com a minha mãe. Aliás, nós somos três irmãos, eu sou o do meio, e o do meio não tem muita fama de ser o menino da mamã! Mas nos primeiros anos ainda levei muita comida congelada de casa dos meus pais, e levava a roupa para lavar lá. Confesso que ainda hoje lhes levo umas camisas, porque passar a ferro não é de todo a minha especialidade!
– Mas já deve conseguir fazer uns ovos sem os queimar?
– Já, mas sou mais de fazer massas e saladas, que são mais práticas de fazer. Ou de ir a um supermercado encomendar comida…
– No seu último trabalho, a série
37, aparece de gravata. Serviu para se desmarcar da imagem de menino?
– Não sei, eu tenho 30 anos! Têm-me dado sempre papéis de jovens, e há certo tipo de papéis que já começam a deixar de fazer sentido…
– Já não se identifica com essas personagens?
– Acho que, por mais diferentes que sejam os papéis e a abordagem na construção da personagem, estamos a trabalhar sempre sob o mesmo universo de assuntos, de temas, e acaba por não ser tão interessante, quer para mim, em termos profissionais, quer para o público, que está sempre a ver mais do mesmo. Como é óbvio, para um actor, o ideal é diversificar o mais possível, isso é o ‘esquizofrénico-saudável’ da profissão. Nessa série fiz de advogado, e a gravata fazia sentido. Aliás, seria o que estaria a fazer neste momento, caso tivesse terminado o curso de Direito.
– É também mediador do programa Rédea Solta, da TVI24, que, apesar de ser descontraído, aborda assuntos muito sérios, o que também o deve ajudar a desconstruir essa eterna imagem de adolescente…
– Esse programa já teve várias evoluções. Começou há três anos, com jovens de escolas, e nesta 3.ª edição é com juventudes partidárias. Todas as semanas abordamos um tema e, por vezes, é bastante difícil moderar, mas é bom perceber que há pessoas que, não só acreditam na política, como têm ideias e lutam por elas.

– Continuando na política, concorda com o casamento entre homossexuais?
– Não nos podemos esquecer que, seja em relação ao aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou ao que for, temos direito a ter a nossa opinião. Temos que saber viver em sociedade e, acima de tudo, temos que nos respeitar uns aos outros, e isso é o essencial.
– Tem o hábito de avaliar as pessoas pela primeira impressão que lhe causam? Este era um dos temas que chocava muito o Principezinho…
– Acho que quando conhecemos alguém fazemos logo um juízo de valor, que pode nem sempre ser o mais correcto. Depois, ou nos ficamos por aí ou tentamos conhecer a pessoa, e só depois percebemos se vale a pena cativar ou sermos cativados.
– Costuma enganar-se com as suas primeiras impressões?
– Acho que tenho uma intuição que, na maior parte dos casos, funciona bem.
– Mas o essencial é invisível aos olhos dos homens…
– É mesmo! Temos que ouvir com o coração, temos que conhecer as pessoas, ver o que está para lá da aparência, e isso só se faz com a convivência.
– Saint-Exupéry diz que quando nos deixamos prender a alguém arriscamo-nos a chorar de vez em quando. Costuma chorar?
– A representar farto-me de chorar, amar e morrer! Todos nós choramos, seja com ou sem lágrimas, e eu não fujo à regra… É impossível viver sem chorar.
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