Dalila Carmo não assume que seja louca por compras mas reconhece que é consumista, ainda que o marido,
Vasco Machado, a ache
"desequilibradíssima", como nos contou, divertida. Por isso, não foi difícil convencer a atriz a passar uma manhã às compras na Rua Castilho para ajudar a Ajuda de Berço, já que uma percentagem das vendas feitas naquele fim de semana, nomeadamente de chapéus de chuva, reverteu a favor desta associação.
– É daquelas mulheres viciadas em compras?
Dalila Carmo – Sou um bocadinho consumista. Gosto muito de roupa. Não sou louca por compras… os homens acham sempre que sim, o meu marido acha que eu sou desequilibradíssima, mas eu acho que não sou assim tanto. Depende. Faço umas extravagâncias de vez em quando… E hoje é juntar o útil ao agradável. Tudo o que uma pessoa puder fazer para ajudar… Temos todos a ganhar com essa atitude altruísta.
– Imagino desde que passou a ir tantas vezes a Madrid, onde vive o seu marido…
– Pois é, em Madrid há lojas tão giras que é um problema. Há peças realmente bonitas e eu gosto de ver coisas bonitas, às vezes não tenho de comprar… mas até acho que sou bastante moderada.
– Há quanto tempo anda neste vaivém entre Lisboa e Madrid?
– Há três anos. É a altura ideal para parar, ter filhos, escolher uma cidade para viver. Eu gosto muito de Lisboa, também adoro Madrid… acho que o mais sábio da vida é vivermos um dia de cada vez em certas coisas, vamos orientando, estabelecendo prioridades e objetivos a curto e médio prazo e não criar muitas expectativas, deixar as coisas rolarem.
– Então quer ter filhos para já…
– Já pensámos nisso. Se decidir ter filhos, terei mesmo que optar por uma das cidades. Quero deixar a minha vida pessoal crescer. Neste momento, a minha carreira não é prioridade. Ou as coisas se renovam urgentemente e nós conseguimos dar um salto qualitativo ou a minha tendência vai ser cada vez mais trabalhar espaçadamente e investir o meu tempo de outra maneira, o que tem vindo a acontecer. Acho que estou desiludida, as coisas estagnaram um bocadinho…
– Vai trabalhar menos, é isso?
– Eu gosto de dosear. Não tenho aquela sofreguidão de acumular trabalhos e de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Gosto de fazer uma coisa de cada vez, gosto de desfrutar da minha vida, não consigo estar seis dias por semana a trabalhar durante meses a fio, porque me faltam outras coisas. O trabalho vive da vida e a vida do trabalho e é necessário haver essa respiração, senão, ficamos vazios, as coisas acabam por não ter compensações. E neste momento tenho andado com a ginástica entre Lisboa e Madrid. Portanto, acabei por prejudicar um bocadinho a minha vida profissional, mas neste momento quero construir outras coisas na minha vida.
– O facto de não ter irmãos, de vir de uma família pequena, fá-la desejar ter uma família grande?
– Uma família grande nem pensar. Gostava imenso de ter a capacidade de ter muitos filhos… não sou desorganizada, mas para mim seria o caos. Passo a vida a perguntar às minhas colegas como é que elas conseguem, como é que fazem para ir buscar as crianças depois do trabalho ou estar a gravar com os filhos doentes em casa. Isso para mim é um grande stresse. Eu antecipo uma série de responsabilidades e problemas. É uma opção de vida que exige uma dedicação infinita. A nossa profissão é tão egoísta, os nossos horários, a nossa necessidade de concentração, de silêncio, de espaço… eu, ainda por cima, tenho uma necessidade grande de me resguardar. E como tenho um espaço interior desarrumado – é óbvio que depois há questões práticas e à medida que as coisas nos vão acontecendo na vida, vamos arranjando essa arrumação -, não sei se alguma vez serei uma mãe prática, tenho dúvidas, gostava de sentir que não ia passar o meu stresse para ninguém. E não consigo. Tenho uma personalidade bastante stressada e tenho medo disso.
– Tem um casamento atípico, com o Vasco a viver em Madrid e a Dalila entre cá e lá. É a distância que faz com que resulte?
– Não, não gosto nada da distância, já estou farta dela. Preferia estar com o Vasco num só sítio. Acho que as circunstâncias existem porque a vida assim o exigiu. Cada um tem o seu trabalho longe um do outro, mas já não me faz muito sentido estar a viver longe. Para as coisas crescerem tem de haver uma continuidade e eu vivo uma vida a tracejado, portanto, essa descontinuidade, se tiver alguma consequência, acho que é negativa e não positiva.
– No fundo, tem a família toda espalhada. A sua mãe também vive no Porto… Isso não acaba por vos afastar um pouco?
– Não. No mínimo, falo cinco vezes por dia com a minha mãe ao telefone desde que estou em Lisboa e já cá estou desde 1993. Sinto-a sempre muito perto, estamos sempre perto uma da outra. A minha mãe sabe sempre os meus dias e eu sei sempre os dias dela, partilhamos sempre tudo. Temos uma relação muito cúmplice. E com a minha avó também, o meu padrasto… a minha família é muito pequena e temos uma relação muito bonita. Sempre fomos muito unidos. Tenho uma paixão assolapada pelas duas mulheres da minha família, que são a minha mãe e a minha avó. E desde sempre somos a continuação umas das outras.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.