Marcámos encontro com
Cláudio Ramos no Chiado, uma zona por onde passa diariamente e que, nesta altura do ano, ganha mais vida, mais luz, tornando-se quase mágica. Durante aquele fim de tarde, o apresentador confessou estar entusiasmado com o seu novo desafio profissional – partilha com
Ana Marques a apresentação da rubrica
Capa de Revista, do programa
Companhia das Manhãs, da SIC – e voltou a emocionar-se ao falar da filha,
Leonor, de seis anos, por quem está disposto a fazer qualquer tipo de sacrifício para que seja feliz.
– Sei que está a gostar do seu novo programa, embora estivesse inicialmente receoso de trabalhar com Ana Marques…
Cláudio Ramos – É verdade, porque sabia que ela não tinha uma boa imagem a meu respeito, assim como eu não tinha dela. Neste meio diz-se muita coisa. Eu nunca me tinha cruzado com a Ana Marques em trabalho, não sabia como é que ela era. Tinha apenas a imagem mediática que ela passava e tinha as coisas que se diziam. Mas a direção de programas recomendou-me que confiasse na decisão deles, pois tinham a certeza de que a Ana era a pessoa indicada para partilhar comigo aquele espaço. E a verdade é que, ao fim de uma semana de trabalho, já éramos os maiores amigos. Arrisco-me mesmo a dizer que, em televisão, ela é das pessoas com quem tenho maior cumplicidade.
– Estamos ainda na época natalícia. Costuma comprar presentes de Natal?
– Não compro um único presente de Natal.
– Nem para a sua filha?
– A
Susana [ex-mulher e mãe da filha] é quem compra o presente da Leonor, porque sabe o que ela quer. Se eu fizesse caso das coisas que a Leonor queria, estava constantemente a oferecer-lhe presentes. Lembro-me de um ano em que ela disse que queria muito uma coisa que eu acabei por comprar, e, no final, fiquei frustrado porque ela não ligou nada àquele presente. Por isso, por uma questão de sanidade mental minha, não compro presentes a ninguém. Assim, poupo dinheiro, não perco tempo e não gasto a memória, pois tinha de pensar em presentes para 50 pessoas.
– E receber, gosta?
– Recebo e gosto, mas não me aborrece nada se não receber nenhum. Mas devo sublinhar que gosto muito do Natal. Para mim, é a quadra mais bonita do ano, aquela que mais me recorda a família. Passo sempre o Natal em casa da minha mãe, com os meus oito irmãos, no Alentejo, à volta de uma fogueira acesa na praça da vila, com luzes e árvore de Natal e Missa do Galo… o mais tradicional possível! Gosto desta azáfama, das luzes, das músicas, das pessoas que ficam mais solidárias.
– Os 38 anos trouxeram-lhe uns cabelos brancos e as primeiras rugas…
– Que eu adoro… Sinto-me muito mais bonito agora e muito mais homem do que era aos 20 anos. Gosto das rugas, dos cabelos brancos, da maturidade… Não voltaria atrás no tempo, gosto muito desta idade. Sinto-me mais seguro, gosto da maneira como penso, já perdi aqueles medos e buscas constantes e ultrapassei o problema das afirmações. Esta é a melhor fase da minha vida, não tenho dúvida nenhuma.
– Esse amadurecimento não terá também suavizado as críticas que faz?
– Sim, claro, sou outra pessoa. Quando vim para este novo programa, preparei-me, visionei o que já tinha feito, arrepiei-me com muitas das coisas que disse, e cheguei à conclusão de que não me posso desculpar no trabalho para fazer tais críticas. Eu também não gosto quando falam de mim na televisão, quando escrevem a ironizar ou a gozar. Não é por mim, é porque a minha mãe pode estar a ver, ou a minha filha pode vir a ler. E se eu tenho mãe e filha, as outras pessoas também as têm. Quero fazer o meu trabalho de forma mais equilibrada, ter cuidado com a acutilância e ser mais controlado nas críticas. Houve uma altura da minha vida em que achava que era dono da razão, mas depois percebi que não valia a pena. As pessoas são livres de fazer o que querem da vida, desde que não me façam mal a mim. E claro que eu também tenho telhados de vidro. Com 38 anos, se não os tivesse, nem era uma pessoa feliz. Agora temos é que andar com cautela, para que não se partam.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.