Pilar Eyre assina o polémico livro
Segredos e Mentiras na Família Real Espanhola, que acaba de ser lançado em Portugal, e a esse propósito a CARAS conversou em Lisboa com a jornalista catalã.
– Qual dos segredos que menciona mais a impressionou?
Pilar Eyre – Penso que o mais impressionante, e uma vez que sou mãe, é o que envolve a morte de
D. Afonso, o irmão mais novo do rei
Juan Carlos. D. Afonso morreu na sequência de um disparo acidental de uma arma empunhada pelo irmão, e foi aqui em Portugal, no Estoril. No relato pormenorizado destas horas, quis ressaltar o quotidiano desta família, mostrar como a tragédia pode surgir de uma forma brutal e como marcou esta família para sempre. E, depois, as infidelidades de Juan [Carlos], as suas primeiras namoradas, que eram maioritariamente portuguesas.

– Como descobriu os segredos da família real?
– Foi relativamente fácil descobri-los, mas a verdade é que conseguir a autorização para publicá-los foi quase impossível. As pessoas que me contavam as histórias diziam-me, no fim:
"Não contes isto, isto nunca foi divulgado, toda a gente sabe isto, mas nunca ninguém o publicou." E eu, quando acabava essas conversas, dizia que não ia publicar esse material. Depois pensei:
"Para quê escrever um livro se não posso contar tudo o que sei?" Falei com a minha editora e eles deram o aval para seguir com o livro. E tenho de dizer que, do material que está incluído neste livro, não houve um único desmentido. Absolutamente ninguém pode dizer que menti, exagerei ou me enganei em alguma coisa que está no livro.
– Foi contactada pela família real quando escreveu este livro?
– Não. Ou melhor, enviaram-me mensagens subtis. Disseram que eu não escrevia sobre a família real, que só os queria prejudicar, que havia interesses ocultos, que atrás de mim havia uma conspiração para deitar abaixo a monarquia. Mas não é nada disto. Há a minha editora, que é muito corajosa e se atreve a publicar este tipo de coisas, e há uma jornalista independente: eu.

– Conhece pessoalmente algum membro da família real?
– Conheço alguns membros, mas não tenho nenhuma amizade. Cumprimentei os reis em algumas receções e encontrei o rei em diversas ocasiões. Vi
D. Pilar no cabeleireiro e
D. Margarida no cinema algumas vezes…
– E Letizia?
– Não a conheço. Bom… vou contar-lhe uma coisa que não pude divulgar em Espanha. Tenho um amigo que foi namorado de Letizia e que não consta da lista oficial dos namorados dela. É uma pessoa muito conhecida em Espanha.
– Quem é?
– É um aventureiro, muito conhecido, e foi namorado de Letizia alguns meses antes de ela se casar. Namoraram depois de ela se divorciar do primeiro marido e antes de conhecer o príncipe
Felipe. É um casamento feliz, eles estão muito apaixonados. É um casamento dominado por ela, ela é que manda. Mas há homens que precisam disso e que gostam. Os homens mandaram durante tanto tempo que agora mandam as mulheres.
– Qual é a sua opinião sobre Letizia?
– Uma coisa é o que penso dela como pessoa e outra é o que penso dela como futura rainha de Espanha. O que me revolta é que, quando Letizia se casou com Felipe, disse-se que finalmente havia ar fresco na monarquia, que ela era uma pessoa normal, que ia levar à família real o pulsar das ruas… Ora o que aconteceu é que não vimos isto em lado nenhum. Esta senhora, normal, não a vemos em lado nenhum. O rei sim, que é simpático e cria empatia com as pessoas. Uma pessoa mais formal e distante do que Letizia é impossível que exista! Até as infantas são mais calorosas que ela! Creio que não a deixam ser ela própria. Acreditam que ela pode cometer algum erro. Gostaria de recuperar essa mulher espontânea, corrente. Gostaria de conhecer essa mulher, que me agrada mais do que a que vejo atualmente. Como rainha, será um grande mistério, passarmos de ‘juancarlistas’, como são todos os espanhóis, a ‘felipistas’. Veremos o que vai acontecer. É uma mudança muito importante.

– É verdade que Letizia não tem uma boa relação com os reis?
– Na família real há dois grupos. De um lado estão Letizia e Felipe, do outro, os restantes. Letizia introduziu um elemento novo na família. Conseguiu que Felipe, que tinha uma relação de grande cumplicidade com os pais, apenas se dê com eles. Tinha uma relação de grande camaradagem com o pai e agora quase nunca são vistos juntos. Letizia foi o elemento discordante que entrou nesta família. As relações deixaram de ser tão líricas como eram antes.
– Ainda há muitos segredos por revelar sobre a casa real?
– Sim, sobre dois temas em particular, que são muito opacos e sobre os quais é muito difícil saber alguma coisa. Primeiro: a saúde dos membros da família real. Não se sabe que doenças tiveram, a que operações foram submetidos, como tiveram os filhos, se por métodos naturais se com recurso a fertilização assistida. As doenças do rei, por exemplo, também são desconhecidas. Segundo: o dinheiro. Sabemos que o rei tem um fundo atribuído pelo governo, mas não sabemos como o distribui, se os filhos também recebem dinheiro do Estado, onde guarda o dinheiro, se tem muito dinheiro, se é verdade o que se tem comentado, que cobra comissões por operações com os seus congéneres árabes. A verdade é que, no que toca a esta matéria, não sabemos quase nada. De vez em quando dizem-te que o rei tem dez carros. E tu pensas:
"Mas como é que os comprou?". O rei tem a coleção de relógios mais importante do mundo. A revista
Forbes colocou-o entre os dez homens mais ricos do mundo e a casa real apressou-se a dizer que se tinham enganado nos dados e que era mentira.

– Mas no seu livro a Pilar também fala dos luxos da família real.
– Sim. O rei fez, desde o início, uma ótima jogada. Todos os lugares onde vive em Espanha (o palácio da Zarzuela, o palácio de Maribel, as casas de verão, etc.) não são seus, são património do Estado. Logo, todos os gastos destas casas são pagos pelos espanhóis, não pelo rei. E têm um barco fabuloso, muitos funcionários. O rei tem uma coleção de motas, carros e relógios impressionante. Tem um bom nível de vida, mas o que acontece é que nunca saberemos como.
– Quer saber de onde vem o dinheiro?
– No parlamento espanhol, os partidos de extrema-esquerda já exigiram várias vezes explicações sobre a origem do dinheiro do rei, mas nunca foi levada a cabo uma investigação, porque os partidos da maioria não aceitaram. Não sabemos que dinheiro tem o rei, ou se tem uma grande fortuna, como se especula.
– É uma família muito protegida?
– Sim. Houve um pacto, não escrito, pressuposto entre as forças políticas do país para não entrar a fundo em temas sobre o rei porque, durante muitos anos, ele foi a garantia da união do país.

– E protegida pelos
media?
– Sim, muito protegida pelos
media. É curioso, porque deveria haver cada vez mais transparência e jornalistas críticos. Mas a verdade é que jornalistas críticos são poucos. Por exemplo, na semana passada, o príncipe Felipe chamou os seus ‘jornalistas de câmara’, os jornalistas que cobrem os assuntos da casa real (são cerca de 10 ou 12) e a primeira coisa que lhes disse foi:
"Esta reunião não aconteceu e tenho de vos comunicar que já estou preparado para ser rei." Estes jornalistas estavam sujeitos a segredo de confissão e não contaram absolutamente nada. Nesse dia eu tinha o programa na Telecinco no qual falo sobre a casa real. Inteirei-me do assunto e contei-o. Claro que toda a gente me caiu em cima. Negaram a existência da reunião, negaram as palavras do príncipe. Os jornalistas que estiveram nesta reunião ficaram indignados porque se comprometeram a um acordo de cavalheiros, segundo o qual nunca poderiam revelar os conteúdos das reuniões com o príncipe. Então, de que serve ser jornalista da casa real se não se pode contar o que lhes é dito? O nível de censura é muito alto nos temas relacionados com o rei.
– Os jornalistas têm medo?
– Nós trabalhamos para empresas de comunicação e, como disse o presidente da cadeia Telecinco, recebemos muito mais pressões da casa real do que recebemos do governo. E com isto digo tudo.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.