Há quatro anos,
Ana Free era uma anónima estudante portuguesa a viver em Londres, que nos tempos livres cantava e tocava guitarra. Até que decidiu pôr alguns vídeos seus no YouTube. Acabou por ser ouvida por milhões de pessoas e a visibilidade foi tal que a artista já abriu um concerto da
Shakira no Pavilhão Atlântico, gravou com o dueto
pop brasileiro
Claus e
Vanessa e este verão vai atuar em Miami para mais de 15 mil pessoas.Tem sido com os pais, o irmão e o namorado, um inglês cujo nome não revela, que a jovem de 23 anos tem partilhado o sabor da fama. Foi numa das suas muitas visitas a Portugal, para promover o seu trabalho e estar com a família, que a CARAS falou com Ana Free.
– Quando pôs a música
In My Place no YouTube imaginava o sucesso que teria?
Ana Free – Na altura não tive muita noção e o que fiz foi um pouco na brincadeira e sem expectativas.
– Desde então, a sua vida mudou muito…
– O sucesso do YouTube forçou-me pelo menos a pensar mais numa carreira musical. Na altura ainda estava na faculdade a estudar, mas assim que terminei o curso de Economia, na Universidade de Kent, em Canterbury, atirei-me de cabeça na concretização do meu sonho.
– Os seus pais sempre a apoiaram?
– Sim, nunca tiveram nenhum problema com o meu rumo e sempre me encorajaram a seguir o meu sonho. Embora não tenha sido uma decisão premeditada da minha parte, a paixão pela música foi crescendo e tomou conta de mim. Depois de ter feito o anúncio da Zon, tudo começou por tomar o seu rumo naturalmente. Desde então não tenho parado e estou cheia de projetos. Fiz agora um
single no Brasil,
Summer Love, com o dueto
pop Claus e Vanessa, e vou lançá-lo agora em Portugal para ver se fará parte do
vibe do verão.
– Essa paixão pela música foi incutida por alguém da sua família ou é inata?
– Julgo que sempre tive o bichinho da música, embora também tenha sido bastante incentivada pelo meu pai. Ele toca guitarra e ensinou-me os meus primeiros acordes.
– E já sentiu necessidade de ter aulas de canto?
– Sim, nos últimos dois anos. A voz é um instrumento, tem de ser cuidada e se fizer mal à minha voz, faço-o à minha carreira. Ficaria muito triste se isso acontecesse, por isso, tomo medidas para o evitar.
– Já abriu um concerto da Shakira, gravou com músicos brasileiros e conheceu vedetas internacionais, mas parece manter os pés no chão…
– Tenho alterado a minha vida de certa forma, mas nada muito radical. Em Portugal sinto-me muito confortável com os fãs, mais tranquila e calma. Lá fora também, mas é um ritmo e uma energia diferentes, por isso, tento ter mais cuidado. Os meus pais são ótimos e também tenho amigos próximos que me ajudam a manter-me quem sou. Acredito que a vida é um privilégio e temos o dever de fazer o melhor que podemos. Agradeço todos os dias por estar viva e por ter talento para ajudar os outros. Ter a mente aberta e os pés bem assentes na terra é algo que já faço naturalmente.
– Não está vinculada a uma editora, o que não é muito comum…
– É tudo uma questão de tempo e de oportunidade, pois quero optar por algo que me permita sentir tranquila, confortável, segura e com a possibilidade de fazer o que quiser. Mas tenho outras formas, além dessa, de dar a conhecer o meu trabalho. Agora, em Inglaterra, sou uma artista holográfica. Tenho um holograma feito por uma companhia que já trabalha com nomes como os Black Eyed Peas e a
Madonna e isso é muito giro. Nos Estados Unidos também tenho projetos com a mesma companhia que trabalha com a Shakira, a que me convidou a ir a Miami, e em agosto irei tocar numa conferência maior, de 25 mil pessoas.
– E planos para gravar um álbum?
– Já tenho reportório suficiente para isso e pretendo fazê-lo, mas quero fazer algo de que me orgulhe e que envolva coração, dedicação e empenho.
– Com este percurso profissional, como sobra tempo para a parte pessoal?
– Há sempre tempo para o amor e mesmo com a minha vida atarefada, sempre encontrei tempo para os meus amores, quer seja namorado, amigos ou família. Para mim, fazem todos parte do mesmo conjunto, não crio compartimentos. Não tenho medo do amor e claro que o mundo da música torna difícil uma relação, mas qualquer relação tem os seus problemas, como os ciúmes e as saudades.
– Depreendo que o seu namorado é de outro meio profissional…
– Sim. Ele vive em Inglaterra, é totalmente desligado do mundo da música e isso atrai-me, pois com ele não preciso de pensar em trabalho. Ele está ligado a algo completamente diferente do meu mundo e aprecio bastante essa diferença. Ando muito ocupada, mas tenho um grande amor com quem estou muito feliz.
– E ele não a acompanha nas viagens?
– Não, é muito ocupado. [risos] Damo-nos bem e temos uma relação muito boa, de compreensão e cumplicidade. Para mim, basta isso. Sabe-me bem amar o bom e o mau de um relacionamento.
– Não desvendar informações da sua vida amorosa tem a ver com o receio da exposição pública?
– Em parte julgo que sim, mas não me importo de falar dele, somente acho que é um limite que tenho de impor a mim própria, para não sentir que está tudo exposto. Há coisas que quero guardar somente para mim e preservar a minha vida amorosa é uma delas.
– Casar e ter filhos faz parte dos seus planos?
– Claro que sim, até porque gostava de os ter cedo, visto que quero ter quatro [risos], mas tenho algum receio. Ainda não tenho noção do que requer criar uma criança, não estou preparada financeiramente. Julgo que quando chegar essa altura, vou saber, sentir… Casar-me, não sei se quero. Ainda não decidi, mas acho que tenho algum tempo [risos].
– O seu namorado seria a pessoa certa para esses passos?
– Não sei, não faço a menor ideia. Uma pessoa nunca consegue acertar naquilo que a vida lhe vai proporcionar. Se acharmos que sim, se a nossa relação der certo com o meu estilo de vida e com a vida dele… Há muitas coisas a considerar. Não quero ter de separar o meu trabalho da minha vida amorosa.
– As músicas de amor que compõe são todas a pensar nele?
– Claro que sim [risos]. Mas nem sempre estão diretamente relacionadas, pois posso escrever uma música em que simulo o fim de uma relação e na realidade estou contentíssima da vida. Para mim, uma das possibilidades mais interessantes da escrita é a de pôr-me no papel de outra pessoa.
– Escrever é uma forma de terapia?
– Sim, sem dúvida. Essa sempre foi também a razão e a motivação pela qual escrevo. De uma forma ou de outra, e mesmo que não seja uma coisa que me cure, é uma terapia, algo que me faz sentir bem. O mundo tem tantas pessoas que não conseguem exprimir o que querem e julgo que as coisas mais difíceis que já senti estão todas transmitidas nos meus livros de música. Se alguém ler os meus livros de música, fica a saber toda a minha vida. É algo muito íntimo.
– E isso não é um contrassenso, partilhar com o público algo tão pessoal?
– É pelo menos irónico, mas para mim a música só faz sentido quando transmite uma mensagem, seja ela qual for.
– Em Londres mora com uma amiga e os seus pais permanecem em Portugal. Como lida com as saudades?
– Estou fora há cinco anos e agora já lido melhor. Tenho saudades, mas já estou habituada à ausência dos meus pais, até porque falo com eles todos os dias. É um sacrifício, mas a favor de um bem maior. Também venho muitas vezes cá e consigo matar as saudades com frequência.
– Foi difícil deixar Portugal e partir para Londres?
– Achei que ia ser mais fácil, pois pensei que pela educação que tive e pelo domínio da língua chegaria lá e estaria totalmente integrada, mas não foi bem assim. Em termos de cultura foi um choque, pois os portugueses são mais calorosos e têm outra energia. Foi uma experiência diferente.
– Como tem sido conhecer artistas como a Shakira, a Eva Longoria, o Alejandro Sanz?
– Acho que as pessoas têm uma ideia errada das estrelas. São pessoas normais e tem sido muito giro. Conhecer a Shakira foi um momento muito especial, mas também por causa da situação em que estava, pois abri o palco do Pavilhão Atlântico… A Shakira é super simpática, com os pés bem assentes na terra e adorei conhecê-la. Em Miami, foi uma coisa muito descontraída, num barco. O
Alejandro Sanz convidou-me para o estúdio dele e fiquei muito contente, e com a
Eva Longoria falei umas cinco vezes, de passagem. Foi muito giro e agora, em agosto, hei de conhecer mais gente.