A propósito do seu mais recente álbum,
Vida, Marco Paulo deixou-nos entrar um pouco no seu lado mais íntimo e acabou por revelar um dos seus maiores defeitos. Falou ainda sobre o peso da idade, assumiu ser um homem muito reservado e contou-nos que não pretende parar de cantar.
– Lançou em dezembro o álbum
Vida. Porquê
Vida? Está numa fase de balanço, de retrospetiva?
– Porque é uma maneira de homenagear a vida, porque gosto de viver, estou grato aos meus pais por me terem dado a felicidade de poder saborear a vida.
– Já conta com 45 anos de carreira. E de idade?
– As pessoas dão-me várias idades e nunca a que eu tenho. E eu gosto que as pessoas também fiquem em
suspense. Qual será? Mas eu sei que, se quiserem, descobrem.
– Já sente o peso da idade, é isso?
– Nem pensar. Estou a viver a minha vida hoje como se tivesse 20 anos.
– Tem medo de envelhecer?
– Não. Quantos mais anos viver, melhor, e que seja com alegria, saúde. Enquanto estiver em perfeita condição mental para fazer o dia-a-dia, não me preocupa muito essa coisa da idade… O peso da idade é coisa que nunca me passa pela cabeça. E quando uma pessoa faz tantos concertos como eu faço, vendo tanta gente emocionada à minha frente, a idade é uma coisa secundária.
– Nunca se sentiu preso àquela imagem de jovem galã que tinha quando subia ao palco e as mulheres gritavam por si?
– Não, porque hoje continuo a fazer a mesma coisa. Hoje sou é um homem mais maduro. Podia ter-me casado, mas não me casei. Isso não era nenhuma obrigação. E tive muitas fãs que não se casaram porque eu não me casei. Ainda hoje me acompanham. Tenho um convívio anual com as minhas fãs, um almoço onde se junta a família toda. E nunca estamos ali como se fôssemos o artista e as fãs, mas sim como grandes amigos, há uma grande cumplicidade entre todos.
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– Não se sente cansado, não pensa parar?
– Não, nem me passa pela cabeça. Isto faz parte de mim. E eu também escuto as pessoas e sei que elas gostam de me ver e ouvir. Sei que o público tem um carinho especial por mim.
– Mas hoje em dia os tempos são outros e o seu nome já não atrai multidões como antes…
– Não se esqueça de que em dois meses vendi quase 7 mil discos. Eu continuo a ter uma agenda preenchida. Cada época é uma época… Tenho é de aproveitar esta que estou a viver agora, que é muito boa. Claro que já não é a mesma coisa quando eu cantava com
playback há 25 anos, as coisas eram mais facilitadas, até para quem me contratava. Hoje não, é uma logística de tal maneira grande que não posso cantar em todos os sítios onde gostariam que eu cantasse, porque as condições são diferentes.
– Tornou-se mais exigente?
– Mas não é por mim, é pelo próprio envolvimento do concerto: são 14 pessoas em palco comigo. São outras exigências que não me permitem ir a todo o lado. Mas no ano passado fiz 33 espetáculos, o que é muito bom. O problema é que as pessoas, como não vão ver ou não ouvem falar, não sabem, e pensam que só quem vai ao Pavilhão Atlântico ou ao Coliseu é que está em atividade. Mas não. Felizmente, não preciso desses palcos para trabalhar. Não tenho nada contra com quem lá vai, muito pelo contrário, mas ainda não fui lá porque não quis, já recebi muitos convites. Agora, não sou mais ou menos que os outros que lá vão. Mas continuo a cantar, embora alguns pensem que só faço te-levisão e lanço discos de dois em dois anos. Mas não, tenho a minha atividade, senão, como é que governo a minha casa? Não é estando de papo para o ar a ler o jornal. Agora, tenho é muita gente dependente de mim.
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– Diga-me, então, qual é o segredo? A imagem mantém-se praticamente igual, não perdeu a energia…
– Só não tenho os caracóis. [risos]
– Tem cuidado com a alimentação, faz desporto…?
– A alimentação não é um bom exemplo. Não faço nenhuma refeição quando vou fazer televisão, quando vou ser fotografado, quando tenho um concerto… Vou para estúdio gravar um disco e sou capaz de estar um dia inteiro sem comer… Nesses dias, a comida para mim é secundária. Às vezes bebo um chá de manhã e só volto a comer à noite. Ginástica, faço passadeira, ando muito…
– E como é o Marco Paulo na intimidade?
– Não sou nada do género vedeta. As pessoas que não me conhecem é que fazem a ideia de que vivo numa redoma e pensam que só saio para dar entrevistas e cantar, que tudo me é facilitado. Nada disso. Tenho uma vida normal, sou é muito caseiro. Quando saio só vou a sítios muitos especiais, como um convite que me seja feito para algo de solidariedade, para o lançamento de um livro, de um disco… De resto, não vou a festas, nem ando em capelinhas, não fui habituado a isso. Gosto de estar reservado na minha casa, com as pessoas mais próximas.
– É uma pessoa de muitos amigos?
– O meu núcleo de amigos é muito reservado. As minhas amizades são antigas. Hoje não tenho muita facilidade em fazer amizades, porque nunca sei se as amizades são porque eu sou o João [o seu verdadeiro nome] ou porque sou o Marco Paulo. Só é meu amigo quem eu quero.
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– Os seus amigos tratam-no por João ou por Marco?
– A partir do momento em que entrei como profissional da música, só havia uma pessoa que me tratava por João, que era a minha mãe. E eu às vezes até tinha dificuldade em responder, pois desabituei-me de tal forma que não sabia se era comigo. De resto, mais ninguém me trata por João.
– Qual é o seu maior defeito?
– Sou muito exigente comigo. Também sou um pouco teimoso. Não sei… Sou tão certinho que às vezes acho que precisava de levar um abanão.
– Certinho, como? Não tem vícios, é bem comportado…?
– Nunca dei uma dor de cabeça à minha mãe, por exemplo. Nunca fui por maus caminhos… Até na roupa sou certinho, as coisas não podem estar misturadas, está tudo separado por cores e ninguém lhes pode mexer. Em casa também ninguém mexe nas minhas coisas, e se mexem, percebo logo. Tenho de ter tudo arrumadinho.
– A sua vida profissional levou-o a abdicar do lado pessoal? Não só não se casou como não teve filhos…
– Essas coisas de casamento e filhos não me dizem nada. Sempre gostei de ser um homem solteiro, tenho uma vida ótima e não estou nada arrependido. Tenho os meus sobrinhos e o meu afilhado,
Marco, que acabaram por preencher um pouco esse lado paternal. Nunca me sinto sozinho, estou sempre acompanhado. Não tenho um harém, mas as pessoas que me visitam, que frequentam a minha casa, que são poucas, nunca me deixam estar na solidão. O que não quer dizer que às vezes não goste de estar só, mas tenho de ter a certeza de que mais tarde alguém chegará.
– Mas está apaixonado?
– Estou completamente preenchido, estou muito feliz. A paixão da minha vida deixou-me há oito anos e não quero ocupar o lugar da mãe maravilhosa que tinha.